Até agora, o peso da lei caiu sobre os que se omitiram – possivelmente por cúmplices – diante do ataque de domingo aos Três Poderes, retirando ou “amolecendo” o policiamento da Esplanada dos Ministérios. Anderson Torres, o comandante da PM do Distrito Federal e, nos próximos dias, do governador Ibaneis Rocha, são peças graúdas, mas não as cabeças do que se passou.
Anuncia-se que, agora, vai recair também sobre os contratantes dos ônibus, dos churrascos e de todo o fluxo de suprimento para os golpistas.
É preciso que isso aconteça, sim, mas não suficiente.
Não se precisaria de um PM ou de um sanduíche se não houvesse quem se interessasse em fazer uma tomada das sedes do Executivo, Legislativo e do Judiciário senão para preparar as condições de desordem para uma ação de força que desse consequência ao golpe de Estado.
Não é preciso muito para enxergar o óbvio.
Certamente havia, até domingo – senão até poucos dias antes, poucos para que se desmontasse a ação da horda de fanáticos – algum planejamento para que se iniciasse, na capital conflagrada com seus palácios ocupados, a tal “garantia da lei e da ordem”, o tão invocado “artigo 142”, tomando o controle da situação para, daí, ter o comando do país e ditar as regras sobre como seria a “normalização”, com Jair Bolsonaro ou, talvez, sem ele.
Este era o objetivo, não telefonar para extraterrestres.
Os inspiradores da baderna golpista certamente não visavam a deixar os bolsoblocs no controle do Planalto, do Congresso ou do STF. É evidente que viria uma “segunda onda”, não com os adereços verde-amarelos daquela turba, mas com um verde-oliva, escuro e sombrio.
Diz-se que, com razão, que a diferença entre o nosso 8 de janeiro e o Capitólio dos EUA no seu 6 de janeiro é que, por lá, não havia uma retaguarda das Forças Armadas aos golpistas.
Aqui, ninguém duvida que os militares emprestaram mais que as calçadas de seus quartéis aos fanáticos e lunáticos. Ao colocá-los como pelotão vanguardeiro da quebra da normalidade, havia os que planejavam – nada original – apresentarem-se como “restauradores da ordem” e, em nome disso, passarem a ditar o rumo do país.
O ministro Alexandre de Moraes, nos seus decididos despachos contra o golpismo, diz, lembrando do primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain e sua desastrosa política de “apaziguamento” com Hitler e o nazismo, lembrou seu sucessor, Winston Churchill e da sua frase de que “‘um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser o último a ser devorado”.
Esperemos que, um passo de cada vez, a Justiça não se engane e alcance os crocodilos. Sem isso, não sairemos do pântano da tutela militar.