Li no jornal Notícias do Dia, de Florianópolis, reportagem de Fábio Bispo com valor didático para os meninos bobos que localizam a origem da corrupção no governo trabalhista recentemente deposto pelo golpe de Estado. Ela – e da mais cínica – vem mesmo de longe.
O repórter faz um histórico de Jurerê Internacional, bairro que nasceu de um loteamento de praia, no Norte da Ilha de Santa Catarina. Começou com mansões – verdadeiros castelos – ao longo da praia, só para mostrar que ali era lugar de rico. Depois vieram casas confortáveis mas não tão chiques, com alguns serviços públicos diferenciados (esgoto, por exemplo) e outros precários (comércio, principalmente). Na terceira etapa deram mais um lowgrade (o upgrade ao contrário) e enfiaram no projeto uns edifícios de apartamentos. Finalmente, montaram mafuás de luxo invadindo a areia de uma faixa de praia linda e construíram um hotel grã-fino.
Foi aí que o carro pegou, porque entraram em terras de Marinha, áreas públicas, com a sem-cerimônia típica de nossa marginalidade bem nascida. Denunciados pelo Ministério Público na Operação Moeda Verde , condenados em primeira instância, os meliantes vão recorrer, recorrer, recorrer até morrer, morrer, morrer – no que faço a paródia do hino que Lamartine Babo chupou e doou ao América do Rio de Janeiro há uns 80 anos.
Muito bem. Essa festança (turística?) que hoje enche os olhos de moleques ricos que vêm ao Sul em busca das louras – não as cervejas; as moças altas, brancas, de cabelo natural ou pintado, descendentes em terceira ou quarta geração de imigrantes europeus – começou nos anos finais da ditadura, aí por 1983, segundo informa o repórter, com base em documentos do processo legal.
Sabem quem financiou?
O Banco Nacional da Habitação, criado pelo governo militar, com recursos destinados à construção de casas populares.
De lá para cá, é uma bela história de marketing e trambiques.