Os aviões ‘fake’ das vacinas

Em janeiro deste ano, falava-se aqui no “faroeste da vacina”, o duelo entre Jair Bolsonaro e João Dória, para ver quem sacava a seringa primeiro e espetava num braço brasileiro a primeira vacina contra a Covid-19.

Como se sabe, Doria venceu e aplicou na enfermeira Mônica Calazans a primeira dose de imunizante, uma Coronavac.

Era perceptível a correria em Brasília, cobrindo de adesivos de propaganda um avião contratado à Azul, três dias antes, para voar a jato para buscar na Índia dois milhões de doses, para chegarem antes do dia 20, data marcada para a aplicação do que, para os bolsonaristas, era “a vacina do Dória”.

O avião saiu voando feito passarinho e não trouxe vacina alguma, como sabíamos.

O que não se sabia, e sabe-se agora pela Folha, é que além da patacoada brasiliense, também a Fiocruz foi obrigada a “morrer” em 500 mil dólares (R$ 2,7 milhões de reais) para alugar um avião de carga para trazer vacinas que, simplesmente, não podiam ser trazidas.

E a razão era bem simples: a Índia não iria exportar vacinas antes de dar ao menos as primeiras doses a alguns de seus 1,3 bilhão de habitantes.

As vacinas chegaram, afinal, porque diplomatas, às escondidas, contrataram o transporte lá mesmo na Índia, sem que Pazuello e Bolsonaro soubessem, por meros 55 mil dólares.

Contando os dois aviões sem vacina, bobagem aí de um milhão de dólares jogados fora, nada que deva incomodar o Tribunal de Contas da União.

Como parece também não incomodar qualquer tribunal, promotor ou delegado da Polícia Federal tdo o que se viu ontem na CPI: uma escandaloso esquema de laranjas e empresas de fachada, servindo de fiadoras fake de empresas fake como esta tal Precisa Medicamentos – que o Estadão revela ter zero empregados – isso, zero, mesmo – e que serve apenas como lobista e, eventualmente, para a distribuição de propinas, públicas e privadas em negócios com o governo.

Aquele “me apontem um ato de corrupção” com que Bolsonaro desafia seus críticos já não cola mais.

 

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