Perdoem-me os senhores oficiais reformados, mas o comportamento do Clube Militar está virando chacota.
Lauro Jardim, em O Globo, faz-nos saber que se prepara uma palestra antivacina na sede do Clube, para o dia 9, na qual uma senhora, a médica Maria Emilia Gadelha Serra, falará sobre “Passaporte Sanitário – eventos adversos das vacinas contra COVID-19 e os riscos para a segurança nacional..
Hein? Efeitos adversos – pelo que se sabe raríssimos e pontuais, ainda mais em se tratando de vacinas que estão sendo aplicadas há um ano e aos bilhões – até vá lá, em nome da ciência, embora isso seja assunto para pesquisas e estudos e não para apresentações com tudo para serem alarmistas.
Mas seus “riscos para a segurança nacional”, pelo amor de Deus, quais seriam? A transformação de milhares de brasileiros em jacarés comunistas? Os chips da Huawei chinesa injetado nos braços inocentes da população? Algum efeito hormonal estranho, que faça crescer barbas às mulheres, como sugeriu o Presidente da República?
A doutora Gadelha foi apontada pelo Projeto Comprova, consórcio de 28 órgãos de imprensa, como espalhadora de boatos mais perversos, como o de que a vacina provocaria grande número de abortos e que seria perigoso viajar de avião, pois pilotos vacinados estariam tendo AVC durante a pilotagem das aeronaves por terem recebido a vacina. E outras barbaridades, como a de que, em alguns estados dos EUA, aplicaria-se hidrólise alcalina para decompor cadáveres e fazer desaparecer mortos pela vacina, alem de mentir sobre o uso de fetos abortados na confecção de imunizantes.
É tão bizarra a situação que suplico ao leitor que visite os links para certificar-se que, infelizmente, é tudo verdade. Ou mentira, a depender do que é dito por estes abilolados.
Ela é presidente de uma certa Sociedade de Ozonioterapia – que ganhou o noticiário pelas experiências e administração retal do gás – que é, segundo a FDA norteamericana ” um gás tóxico sem nenhuma aplicação médica útil conhecida em terapia específica, adjuvante ou preventiva”.
A Anvisa brasileira – aliás presidida por um vice-almirante – também diz que o ozônio não tem nenhuma finalidade medica comprovável, e que não há ” evidências científicas que comprovem a eficácia do uso do ozônio como desinfetante contra o SarsCoV-2“.
Só escapou de entrar na farmacopeia presidencial pela sua, digamos, original forma de ser administrado.
Não é possível querer que nossos provectos militares tenham esta razão, para, no convite da palestra, “convocar a todos sócios e convidados para adentrarem nas portas do conhecimento”. Eu, hein? Este tal do ozônio é que parece ser risco à “segurança nacional”, meus generais.