Os imparciais

O Grupo Globo publica hoje uma “emenda constitucional” determinada por João Roberto Marinho em seus “Princípios Editoriais”, para disciplinar o uso de redes sociais por seus jornalistas.

Diz lá, no meio de um longo blá-blá-blá que “em sua atuação nas redes sociais, o jornalista deve evitar tudo o que comprometa a percepção de que o Grupo Globo é isento. Por esse motivo, nas redes sociais, esses jornalistas devem se abster de expressar opiniões políticas, promover e apoiar partidos e candidaturas, defender ideologias e tomar partido em questões controversas e polêmicas que estão sendo cobertas jornalisticamente pelo Grupo Globo”.

Se isso fosse seguido nas páginas do jornal, nos textos de comentaristas e para as reportagens de televisão, era possível que as os espaços e tempos dedicados à política ficassem em branco.

Desde quando o  Grupo Globo é isento? Nem ele e nem qualquer veículo de comunicação. E é natural que não sejam, desde que preservem o equilíbrio jornalístico e, sobretudo, sejam honesto com seus leitores e assumam suas preferências. É assim em todo o mundo e não poderia ser diferente.

O que é diferente, aqui, é que existe um monopólio de comunicação exercido pela Globo que, hipocritamente, quer ser percebido (e confessa) como isento, quando é – e foi, desde que vicejou na ditadura – a mais importante ferramenta do sistema de dominação da opinião pública.

É, e seu patrono, Roberto Marinho, era o condestável da República, papel que – com discrição pessoal, reconheça-se – foi herdado pelo filho João Roberto, que divide com os irmãos a presença na lista dos mais ricos do país.

Algo que ele imita até no vocativo de “caros companheiras e companheiros” com que publicamente trata seus empregados, como fazia o “companheiro Roberto Marinho”.

Nos últimos tempos, a Globo se tornou a grande patrocinadora da Lava Jato e de seus desígnios políticos. O prêmio máximo do “Faz Diferença” global entregue por João Roberto a Sérgio Moro, depois a Cármem Lúcia, por exemplo,jamais foi dado ao brasileiro que mais diferença fez no país nos 15 anos em que a premiação existe, não é. Deram-lhe um de segunda linha, é verdade, no início de 2004, quando a Globo estava pendurada em dívidas e a mão do Governo era indispensável para salvar o império.

É que para eles faz mais diferença colocar Lula na cadeia que tirar 40 milhões de brasileiros da miséria.

 

 

Fernando Brito:

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  • Jânio de Freitas na Fel-lha de São Paulo

    Feira de riquezas

    O governo sumiu. Foi sua melhor providência em dois anos de invasão da Presidência e adjacências. O Supremo Tribunal Federal ocupou o vazio: em uma semana, foi mais criticado do que em todo o seu tempo pregresso, cujo silêncio impositivo, por temor ou interesse, só foi perfurado já no século 21. Mas do Supremo saiu, apesar de logo atacada, uma decisão há muito necessária.

    Desde o governo Fernando Henrique, não haveria melhor ocasião para exigir-se que privatizações sejam submetidas ao Congresso, como vem determinar medida do Supremo, pelo ministro Ricardo Lewandowski. A deficiência moral do Planalto de Temer não decorria só da presença, lá, do hoje encarcerado Geddel Vieira Lima. Logo, a pretendida venda da gigante Eletrobras ao gosto do governo seria, sem dúvida, a reprodução das vendas de gigantes como a Vale do Rio Doce e as telefônicas. Nas quais o próprio Fernando Henrique deixou gravados, tal como Temer com Joesley Batista, indícios óbvios das cartas marcadas nas transações.

    Em entrevista recente à Folha, Armínio Fraga repetiu um pretenso argumento de uso comum nos neoliberais: "Governo não deve ter empresa". É verdade. Não deve e não tem. Nenhuma estatal é de governo. Todas são do chamado Patrimônio da União, os bens conjuntos do país. É descabido, quando não é criminoso, que um grupelho decida fazer negócio com bens da nação, por critérios de sua autoria, senão de compradores. Sem ao menos submetê-los ao Congresso para o exame das razões e condições, sua divulgação ao país e a autorização, ou não, dos ditos representantes da sociedade.

    Não houve privatização que escapasse ao fracasso senão graças a brutais aumentos dos seus preços. Aqui mesmo foi publicada a constatação do ator Nelson Xavier, hoje morto, de que o quilo do aço de Volta Redonda era vendido, como fixou o então ministro Maílson da Nóbrega, pelo preço de um molho de cheiro-verde na feira. Feita a privatização, depressa o preço cresceu cinco vezes, e não parou aí. Com os telefones só foi diferente por ser pior.

    Há cinco dias soubemos de mais vendas de fatias da Petrobras. Foram-se três distribuidoras, de combustíveis, óleos e gás; serviços de abastecimento em três aeroportos, quase 200 postos e outros negócios no Paraguai. Tudo por R$ 1,45 bi. Se muito barato, como parece, caro ou a preço razoável, não se sabe. Assim, sem que o país conheça as razões e os critérios, estão indo há mais de dois anos as sucessivas fatias, na simplória política de vendê-las para cobrir dívidas —o que qualquer camelô faria no lugar em que estavam o louvado Pedro Parente e seu conselho de administração.

    Tanto faz se, como especulado, a medida de Lewandowski tem ou não a ver com a encaminhada venda de parte da Embraer, empresa privatizada a preço inferior ao que o país investiu para criá-la. Certo é que os motivos de compra atribuídos à Boeing soam infantis. Uma indústria do seu porte não precisaria da Embraer para produzir aviões de linhagens menores. A Boeing é empresa civil que usa farda e bate continência. É vista como ligada aos departamentos da Defesa e de Estado mais do que aos próprios acionistas.

    A Embraer já foi impedida de vendas grandes em razão do poder de veto dos Estados Unidos, imposto para o uso de componentes americanos nos aviões. É um pequeno sinal dos problemas que a esperam e aos projetos que tem com a FAB, se efetivado o negócio com a Boeing. Mas o caso é diferente do que se passa entre as estatais e as privatizações. Aí, a precaução chamaria a polícia.

  • começar o texto com companheiras e companheiros é deboche..temos de fritar a família Marinho...não merecem nem seus nomes nas lápides....

    • No Brasil, a mídia oficial é um braço do Mercado Financeiro e das elites reinantes (em qualquer época). Vai daí, ela tem e sempre teve lado: o lado do poder e do dinheiro. Às vezes ela utiliza e usa os pobres e a classe média: quando isso é necessário aos interesses das classes dominantes. Simples assim.

  • João Roberto Marinho, um dos Senhores de Engenho da Globo, deveria ser o redator chefe do "Zorra Total", programa humorístico que ele oferece semanalmente à senzala.

    Globo isenta, é igual nota de R$3,00, se achar uma, pode ter certeza é FALSA.
    #GloboCaraDePau
    #AGloboTransformouOBrasilNumaZorraTotal

  • Essa tática altruista dos marinhos de massagear egos, está velha, mas ainda funciona!

    • Alguns piores que os patrões, como diz Mino Carta, sobem nas tamancas para falar em libertade de imprensa (dos patrões), quando se fala em regulação dos meios, mas ficam caladinhos quando são tolhidos em suas propostas de pauta e de textos, às vezes inteiros, com rabinho entre as pernas.

  • Infelizmente, esse tipo de atitude espúria não acontece apenas nessa coisa nojenta que é a rede globo. Muitas escolas também agem da mesma maneira colocando uma mordaça em professores que ousem se manifestar.

  • É isso mesmo. Isenção coisa nenhuma. Na realidade está mostrado como o pensamento único é disseminado, nos meios de comunicação no mundo, claro com as adaptações locais necessárias. Mostra como devemos procurar outras fontes de informação. O noticiário, as imagens e as opiniões divulgadas são controladas, por comando local e internacional. É uma triste verdade esta de todos os jornalistas que atuam nos meios de comunicação no Brasil, mas não só, até em sua vida particular não têm como discordar da linha editorial da empresa de mídia que o emprega, geralmente com altos salários, que os acorrentam a essa ao tronco dessa escravidão. Queiram ou não, têm que ser a voz do dono. Por isso não dá para acreditar no que dizem, escrevem ou mostram, o objetivo não é informar, mas manter todos dentro de uma mesma visão ideológica. Sempre foi assim, certamente não só na Globo, tanto que esta agora está fazendo um adendo às normas existentes. Mas, mesmo sem normas escritas, há uma norma consuetudinária, que aponta a toda mídia uma mesma direção, que se liga ao patrocínio (menos o estatal, esse não tira proveito), à propagando dos grandes grupos econômicos, a maioria grupos estrangeiros, cujo interesse, não necessariamente os do Brasil e dos brasileiros. De tudo isso, e por tudo isso, tendo em, conta a percepção das pessoas, quando em contato com as falas, textos e imagens desse discurso forçado, capenga, é que estão perdendo a opinião pública. No nosso caso, as pesquisas eleitorais mostram o insucesso do esforço editorial sem precedentes, no intuito de impor o neoliberalismo, esconder as mazelas a que conduz o povo, particularmente os trabalhadores, desde que conseguiram desestabilizar com a participação do Congresso e do Judiciário o Governo Dilma, afastando-a do poder através do golpe-impeachment em 2016, aumentando a virulência dos ataques dos agora opositores, a ponto de aprisionarem o Presidente Lula. Apesar de todo aparato técnico, apesar de todas as normas de conduta, estão sendo derrotados, na formação da opinião pública, que se informa por outros meios, inclusive no boca a boca. É o caso que mentira tem pernas curtas, e o mentiroso se denuncia, quando atua. Isenção só sobressai quando há, quando os fatos e mesmo evidências a corroboram. Por mais que a Globo queira dissimular sua falta de isenção, todos percebem, é um fato, cada vez mais claro para todos. Isenção não é dizer-se isento.

  • Para mim, o mais vergonhoso é saber que Globo e mídias brasileiras similares se declaram "isentas" por terem fomentado, durante anos a fio, a ideia de que é assim que um veículo de comunicação deve ser. Não é, como bem nos lembra Brito. Mas o público tocado como gado vai defender a "isenção" como virtude.

  • O PSDB vai denunciar a Dilma no STF, certamente porque ela foi torturada e mentiu para os torturadores.

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