Escolhi para a entrevista de ontem, com Lula, a questão dos investimentos públicos que, se quiser vencer a estagnação da economia brasileira, o novo governo terá de ter como ponto central de sua política econômica.
O tempo era curto e, para que se entenda a escolha, recomendo a leitura da coluna de hoje do jornalista José Paulo Kupfer, na minha visão o melhor do setor na mídia brasileira.
No UOL, ele analisa um estudo do Observatório de Política Fiscal da Fundação Getúlio Vargas no qual há dados devastadores, como o de que “o investimento público, em 2021, não passou de 2,05% do PIB, o segundo menor volume desde um longíquo 1947, e só maior do que o de 2017, que ficou em 1,94% do PIB.”
De forma mais direta: é o segundo menor menor nos últimos 75 anos e, pior ainda, estende uma sequência de números pífios desde 2016/17, o que torna mais grave ainda seu impacto sobre o (não) desenvolvimento econômico do país.
No caso das empresas estatais, que tiveram ano passado o pior resultado desde 1995, quando começou-se a contabilizar os investimentos, de uma dotação orçamentária de, praticamente, R$ 145 bilhões, foram executados R$ 57,5 bilhões, ou 39,7% do disponível.
Daí, é claro, os lucros recordes que apresentaram, grande parte drenada para os acionistas privados. São tão baixos os investimentos que nem sequer atingem o valor da depreciação dos ativos existentes.
Numa palavra, é o caminho do sucateamento.
Este é o nó que o novo governo terá de desatar: o de manter e avançar nas políticas distributivas de renda e, ao mesmo tempo, fazer e induzir os investimentos para que a economia volte a crescer, gerando emprego, produção, renda e consumo.
Não é uma questão ideológica, de ser ou não “estatista”. É a de saber que não haverá investimento se o governo não puxar a fila, indicando ao setor privado que é lucrativo investir num país onde o consumo está em alta e não no atoleiro que o empobrecimento traz.