Passei a primeira hora da manhã encantado.
E, confesso, algo vaidoso e confortado comigo mesmo, por ter feito a escolha mais certa e coerente de minha vida.
Ouvi a longa e preciosa gravação – inédita para mim – feita pela polícia, de uma fala de Brizola na Rádio Mayrink Veiga, publicada pelo blog de Mário Magalhães.
E, apesar de inédita para mim, soou tão conhecida.
Aproximava-se, e apenas os ingênuos não percebiam, o golpe militar e o aprisionamento – mais de que de militantes e opositores – do próprio Brasil.
É claro que a conjuntura política de hoje é diferente – e que maravilha que seja!- mas há algo ali que nos serve hoje.
Que falta faz hoje ao Brasil quem possa falar claramente ao povo!
Que falta faz alguém que lhe fale sem rodeios de nossos desafios!
Que falta faz alguém que se contraponha às pressões da direita contra um governo popular!
Do arquivo secreto do Dops: no rádio, Brizola alertou sobre golpe em 1964
Mário Magalhães
Muitas semanas antes da deposição de seu correligionário e cunhado João Goulart, o deputado federal Leonel Brizola alertou para a possibilidade de um golpe de Estado no Brasil.
É o que mostra gravação feita pela polícia política carioca, que monitorava os pronunciamentos que o ex-governador do Rio Grande do Sul fazia todas as noites por meio de modesta cadeia radiofônica encabeçada pela Rádio Mayrink Veiga.
O áudio foi guardado no arquivo secreto do antigo Departamento de Ordem Política e Social da Guanabara, o Estado que então equivalia ao atual município do Rio. Hoje integra o acervo do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro.
Tem meia hora de duração e não registra nem o início nem o encerramento de um discurso de Brizola ocorrido provavelmente em fevereiro de 1964.
O deputado do Partido Trabalhista Brasileiro falava a uma plateia em local não informado, e as emissoras transmitiam ao vivo. Ele tinha 42 anos.
Aos 39, havia sido o principal líder da resistência contra a tentativa de golpe de agosto-setembro de 1961. O presidente Jânio Quadros renunciara, e golpistas capitaneados pelos comandantes das três Forças Armadas tentaram impedir a posse do vice, Jango. Governador do Rio Grande do Sul, Brizola foi decisivo para que Goulart assumisse, ainda que com menos poderes que o antecessor.
A semanas da derrubada de Jango, em 1964, Brizola clamava pela formação de comandos nacionalistas ou grupos de 11 pessoas. O nome não havia sido decidido. As organizações ficariam conhecidas como “grupos dos 11″, o mesmo número de jogadores dos times de futebol. Deveriam se dedicar, entre outros objetivos, a impedir o golpe.
Brizola advertiu para a possibilidade de “golpe” e de “ditadura”: “Caminhamos para um desfecho desta crise”.
Prometeu: “Vai ter luta”.
Não teve, pois Jango, temendo derramamento de sangue, preferiu não resistir em 1º de abril.
Devido ao parentesco, Brizola não poderia concorrer a presidente em 1965. Seus partidários protestavam: “Cunhado não é parente, Brizola pra presidente!”.
Jango também não poderia participar do pleito, pois a reeleição era vetada.
A ditadura cancelou a eleição, e somente em 1989 os brasileiros votaram de novo para presidente.
Um aspecto curioso da manifestação de Brizola são as referências às mazelas nacionais. Mais à esquerda do que o cunhado, ele pregava que o governo realizasse de fato as reformas estruturais prometidas. Em março, Jango começaria a implementá-las com mais decisão.
PS. Os grupos de Onze nada tinham de clandestinos ou ilegais. Havia até um documento para ser firmado e dirigido ao registro civil. Depois do golpe – contou-me Cibilis Vianna, colaborador de Brizola – uma das maiores dificuldades foi “sumir”, num sítio do interior do Rio de Jameiro, com as montanhas de listas enviadas com os nomes dos integrantes dos grupos
11 respostas
Se o golpe foi , além de militar , civil . Se o regime imposto ao país foi de exceção e arbítrio ,com direito aos descalabros conhecidos e outros a conhecer . Se hoje , timidamente , algumas empresas civis confessam terem participado destas barbaridades , no mínimo como cúmplices ao apoiar a ditadura , fica a pergunta: Existiu antes ou existe atualmente um único processo legal contra os civis ( pessoas físicas ou empresas ) atuantes nesta empreitada de 64 ??
É de arrepiar! Fantástico.
Pena que não houve a reedição da Campanha pela Legalidade de 1961, como preconizava nosso Brizola.
Em 64 eu tinha 10 anos. Lembro de escutar junto com meu pai a Rádio Mayrink Veiga, num rádio Philco Transglobe. Era vibrante escutar o Brizola naquela época. Provavelmente eu devo ter escutado este pronunciamento. É comovente.
Tive a honra de apertar a mão de Brizola num comício nos galpões da Viação Férrea do RS – VFRGS a época. Meu pai era ferroviário e Santa Maria era o maior centro ferroviário do estado e um dos maiores do país. Durante o churrasco se formou uma fila enorme para quem quisesse apertar a mão do Brizola. E lá fui eu.
Sei do que antonio sc esta falando, tenho ferroviarios na familia,era um exercito de fidelidade, parabens antonio boa lembranca, abrcs.
Reeditando importante pronunciamento do saudoso e também corajoso deputado Ullysses Guimarães: “TEMOS ÓDIO E NOJO DA DITADURA!”.
Este é o cara!
Que saudade!!!
Fico imaginando o que o nosso Brizola estaria falando hoje, passados 50 anos do golpe.
Mas, pensado bem, acho que o discurso poderia ser o mesmo…
POR FAVOR, DIVULGUEM ESTE VÍDEO HISTÓRICO: ESTUDANTES DA USP ESCULACHAM PROFESSOR GOLPISTA!
http://www.youtube.com/watch?v=zpZ-CpjkZXM
Golpe Nunca Mais!
A verdade tem que ser dita, doa a quem doer.
Esse professor saído de alguma escolinha nazi-fascista de tortura com sua gravata borboleta é um covarde. Na sala de aula na condição de autoridade máxima com poderes para punir quem pensa igual a ele canta de galo. Foi só encontrar opiniões contrarias a sua que colocou o rabo entre as pernas e fugiu.
No seu discurso na sala de aula, tenta relacionar o governo de Jango com ao regimes comunistas. Para justificar o golpe. Qualquer tentativa de governar em prol do povo é taxado de comunismo. Se se apoia programas do governo Lula como bolsa família, ENEM, Mais Medico, Minha casa minha vida, Prouni, etc, se é taxado de comunista.
Fazem questão de confundir, causar pânico, medo na classe media, para possibilitar o golpe, uma vez que não conseguem ganhar o poder através das eleições pois partidários de medidas e programas que penalizam o povo.
Errata: para punir quem pensa diferente dele
Tarde demais e de forma equivocada. Como se viu em seguida, o efeito foi exatamente o contrário do que supostamente se desejava, que era evitar o golpe. E não podia ser outro. Naquele momento, às vésperas da implantação da ditadura, o caudilho despertava para a imensa fragilidade que representava a total falta de organização das massas, como ocorre hoje também. Obviamente, seu apelo desesperado à organização e a ideia estapafúrdia de formação de células, cada uma com 11 pessoas, espalhadas por todo território nacional, só serviu aos propósitos dos golpistas, que puderam usar a conclamação como uma prova de que a esquerda se preparava para mergulhar o país num regime totalitário, guardado por milícias secretas armadas, de 11 elementos cada. Basta considerar a situação atual e ver o que poderia ocorrer se algum líder de expressão nacional, Lula, por exemplo, usasse, digamos, o Youtube para concitar a população a se organizar em células de 11 membros, por todo o país. Pessoalmente, não hesitaria em tachá-lo de provocador a serviço das forças golpistas, espécie de Cabo Anselmo. Este certamente não era o caso de Brizola, mas seu tresloucado arrobo bonapartista certamente serviu para facilitar o golpe e engrossar a Marcha pela Família. Foi, infelizmente, uma atitude desastrada. E qual seria a alternativa? Tanto naquela época, como agora, o que falta não é uma organização militar para o povo. Isso só facilita o trabalho dos golpistas, dos psicopatas senhores da guerra, além de não poder desembocar, em nenhuma circunstância, num regime verdadeiramente democrático. O que falta é informação, conhecimento sobre o significado da democracia, consciência por parte do povo de seus direitos e deveres como cidadãos. Se o povo estiver bem informado, e não totalmente à mercê da mídia corporativa, que transborda os meios de comunicação 24 horas por dia com mentiras e asneiras, o povo saberá valorizar a democracia. Passará a desejar ampliá-la, estará disposto a participar cada vez mais efetivamente, a debater os assuntos que lhe afetam diretamente como cidadão. A organização que falta ao povo é a que brota naturalmente da conscientização. Esta, por sua vez, nasce e se desenvolve com a informação e com a participação.