Discute-se muito sobre a insatisfação do Exército com o desempenho de Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde, dividido entre erros, patadas, confusões e, agora, mentiras deslavadas.
Cada entrevista do general “da ativa” – vê-se agora porque ele as quase abolira – é um desastre gerencial, político e de civilidade maior que o anterior. Pior, uma caricatura dos militares, com bobagens como o “Dia D, hora H” patético,
Mas achar que isso pode ser resolvido com a passagem de Pazuello à reserva é um erro tão primário quanto o que comete o general ao negar que esteja promovendo o uso da cloroquina como panaceia.
Ao contrario, foi justamente ter no Ministério quem se dobrasse ao charlatanismo presidencial que levou o general ao posto de ministro.
Tal como a cloroquina, colocar pijamas ao generalato do ministro não vai curar a ferida que ele está abrindo na imagem das Forças Armadas quando traz para suas próprias atitudes como ministro da Saúde a reprodução da insanidade presidencial.
Aliás, é pior: de um lado porque tira qualquer limite à monstruosidade de um homem capaz de dizer “e daí?” diante de uma montanha de mortos; de outro, porque faz aos oficiais que se indignam com o desgaste horrendo que isso faz à Força fazerem o papel de furiosos com quem critica enquanto se omitem sobre as trapalhadas mortais do “colega” que dão origem às críticas.
A carta do general Richard Nunes à revista Época, “exigindo” retratação por um artigo considerado ofensivo ao Exército é um bom exemplo dos danos colaterais que Pazuello e Bolsonaro têm causado à força: a mobilização militar em apoio às ações de Saúde só merecem aplauso, mas a entrega do comando técnico-administrativo destas ações (e da falta delas) a um general torna a Força responsável pelo que não pode ser: gestor da saúde pública, mais ainda em meio a uma tragédia mundial.
Há mais ainda: por conta da defesa do indefensável ministro, Jair Bolsonaro serve-se de ameaças de ditadura invocando as Forças Armadas, prosseguindo num envolvimento da caserna na política que resultou no desastre que vivemos.
Um pequeno exercício de inteligência – ainda assim fora dos alcance daqueles dois personagens – mostra que em parte alguma do planeta forças armadas se deixaram levar à usurpação da gestão civil da crise sanitária e em nada ela respingou sangue aos militares, ao contrário.
Pazuello, que já virou motivo de risada e deboche, tem duas formas de sair.
A que está trilhando hoje, colocando sobre suas costas – e sobre as costas do Exército Brasileiro – o fracasso, a desumanidade e morte até ser mandado, por inútil ou porque lhe reste ainda algum traço de altivez, para o lixo do bolsonarismo.
A outra, porque a instituição militar, se quer preservar o respeito dos brasileiros, diga ao presidente que quer não apenas ele, mas as Forças Armadas brasileiras fora desta aventura mal-sucedida e macabra.
Ainda temos meses de morte e dor, com cadáveres aos milhares, dezenas de milhares, pela frente. Agir assim não é refugar de batalhas, mas recusar-se ao massacre.