Muita gente não percebe que a possibilidade de que Geraldo Alckmin venha a compor com Lula é, além de um possível trunfo político do ex-presidente – seja pela sinalização ao centro, seja pela imagem de Alckmin sobre uma grande área do agronegócio – também uma alternativa de grande interesse para o ex-governador paulista.
A pesquisa XP-Ipespe, divulgada ontem e cujos principais resultados estão reproduzidos aí em cima – mostra que, embora lidere as intenções de votos dos paulistas, com 23% – quatro acima de Fernando Haddad, dentro da margem de erro – tem números muito distantes de uma situação confortável de favoritismo.
E não apenas pela minguada diferença, mas pelo fato de que Haddad, ao longo da campanha, seria beneficiado pela expressiva preferência do eleitor por Lula, enquanto ele teria muita dificuldade em apresentar-se como candidato de Moro e barreiras quase intransponível de ser o de Bolsonaro. Segundo turno contra Haddad, no caso de uma vitória (definitiva ou parcial) de Lula seria, provavelmente, um suicídio para o ex-governador. Sem contar com Guilherme Boulos, que tem o recall da eleição municipal, é bom de campanha e tem grande expressão entre os jovens e a imensa periferia de São Paulo.
Alckmin não tem quem o tracione e, ao contrário, terá de enfrentar a máquina dorista junto às prefeituras do interior e aos próprios remanescentes do tucanato. E Doria, sabe-se, tem métodos e meios impiedosos em matéria de cooptação.
Posto isso, que não seria uma eleição certa, mas uma disputa perigosa que, ainda pior, o obrigaria a aliar-se, no segundo turno, com seu principal desafeto, são fatores subjetivos que vão dirigir a decisão do ex-governador.
O tucano, que disputaria o quinto mandato como governador (quinto!), certamente não tem furiosa obsessão pelo cargo, de tantas vezes o ocupou. Mas certamente tem ganas, e muitas, da cria que o apunhalou e de repor em sua imagem a marca do vencedor. Sim, porque as vitórias são muitas, mas ele tem o estigma da derrota acachapante na eleição presidencial de 2018 e, é provável, contas a acertar daquela que, sem Lula a enfrentar, deveria ter sido a sua consagração e tornou-se seu maior fracasso.
Tem fundamento a opinião de Helena Chagas, em artigo em Os Divergentes de que está erra a premissa que muitos adotam, achando que “se Alckmin se filiar ao PSD de Gilberto Kassab, terá jogado por terra os planos de ser vice de Lula e optado definitivamente pela disputa em SP”.
No xadrez da política, é mais frequente que, ao contrário do tabuleiro, “jogar com as brancas” (isto é, fazer o primeiro movimento) seja uma desvantagem.
E, aí, talvez caiba a Alckmin esperar para saber se Doria não estará também esperando uma conjuntura favorável a compor-se com Moro, sendo seu vice.
Acho que, aí, será irresistível a Alckmin um indireto “confronto direto”, disputando o mesmo cargo, com a criatura que virou algoz.