Pirueta histórica. A esquerda avança na Europa

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(Na foto: Alexis Tsipras, de braço erguido, candidato do Syriza e favorito nas eleições deste domingo, ao lado de Pablo Iglesias, líder do Podemos, partido de esquerda espanhol, também favorito nas eleições deste ano.)

A história é uma dama maliciosa e cheia de surpresas.

Quando todos os analistas dizem uma coisa, ela dá uma pirueta e toma o caminho contrário.

Muito se falou sobre o irreversível avanço da direita na Europa.

Pois bem. Na Espanha, o Podemos, liderado por Pablo Iglesias, lidera as pesquisas para as eleições presidenciais ao final deste ano.

Segundo pesquisa publicada pelo El Pais, principal jornal espanhol, o Podemos teria 28,2% dos votos, contra 23,5% dos socialistas e 19% do PP.

Podemos é um partido de esquerda, ou “anti-austeridade”.

Austeridade é o conceito que os ricos europeus inventaram para continuar cevando a classe média e os mais pobres.

Enquanto os ricos continuam na boa, pagando cada vez menos impostos, em virtude da facilidade crescente com que escamoteiam seu dinheiro e seus negócios em paraísos fiscais, os governos aumentam a carga tributária sobre os trabalhadores e reduzem os investimentos.

Na Grécia, todas as pesquisas apontam a vitória do Syriza, liderado pelo jovem Alexis Tsipras. A última pesquisa, divulgada nesta sexta-feira, mostra o partido com 6 pontos à frente do partido de centro-direita Nova Democracia, atualmente no poder.

Será a primeira vez, em quase 200 anos, que a esquerda chega ao poder na Grécia.

Em outras ocasiões, lideranças socialistas ou comunistas gregas foram duramente reprimidas, presas, exiladas.

O avanço da esquerda na Europa é uma consequência democrática e natural da crise financeira vivida pelo continente após 2008.

Os europeus assistiram, aterrorizados e perplexos, seus governos esvaziarem os cofres públicos e darem todo o dinheiro a bancos privados.

Ou seja, pobres e classe média se tornaram mais pobres para os ricos se tornarem mais ricos.

A imprensa europeia está cheia de reportagens sobre a explosão da desigualdade na Grécia.

No Liberación desta sexta-feira, há uma matéria sobre o maior magnata grego, Dimitris Melissanidis, dono da Aegean Oil, companhia de petróleo que abastece a marinha americana.

Melissanidis é dono de outras centenas de empresas, em toda a Europa.

A reportagem fala das ameaças de Melissanidis a um jornalista de uma publicação mensal de Atenas, a Unfollow, que havia publicado uma denúncia de sonegação e contrabando de gasolina contra o bilionário, baseado em relatórios do fisco grego.

Mais ou menos a mesma coisa que divulgamos aqui contra a Globo, sendo que a Globo, ao invés de praticar crimes com petróleo, o faz com informação.

O jornalista, Lefteris Charalambopoulos, explicou que a grande mídia grega ignorou as denúncias, e tampouco fez caso das ameaças do bilionário à sua pessoa, cujo áudio vazou para a internet.

A mesma coisa que aconteceu aqui: a grande mídia blinda seus amigos.

Não é a primeira vez que Melissanidis ameaça jornalistas. E não é a primeira vez que a grande mídia o protege.

Essa é uma das coisas que explica a ascensão do Syriza, contra toda a grande mídia grega.

Na última quinta-feira, o candidato da Syriza, Alexis Tsipras, fez um discurso ao lado de Pablo Iglesias, o líder do Podemos, diante de milhares de pessoas, em Atenas.

Juntos, eles cantaram alguns versos de First We Take Manhattan, de Leonardo Cohen, que se transformou numa espécie de hino revolucionário dessa nova juventude “transviada” (tradução da música aqui).

Os analistas dizem que a Grécia nunca viveu uma eleição tão nervosa, tão polarizada entre esquerda e direita, entre o novo e o velho.

A história, essa maliciosa dama, continua aprontando das suas.

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10 respostas

  1. E aqui Fernando? Dona Dilma e o PT , estando tentando dar a pirueta ao contrário?impressiona, mas não entendo esta ortodoxia toda. Só falta privatizar a caixa e aumentar o percentual de concessão da petrobras . Então que entreguem logo para o originais, os tucanos. Plágio do Levy, esta autorizado?

  2. Enquanto isso em Pindorama o PIG saúda a acolhida de Levy em Davos !

    Isso num início de governo onde até a vaca tosse.

  3. Brito,

    Seria interessante uma analise sobre o papel do movimento “Cansei” espanhol, que originou o grupo “podemos”. Sobretudo que esse movimento foi responsável pela eleição da direita na Espanha e aprofundou a crise sobre a classe média e trabalhadores. O mesmo podemos observar no “movimento de junho” de 2013 que teve como resultado a eleição de um congresso no mínimo conservador. Enfraqueceu de forma definitiva o PT e os movimento sociais.

  4. Fernando, bela e didática análise sobre o que realmente significa “austeridade” por gente do porte de Malan, Levy, Lara Resende e outros, significa ferrar mais ainda a parca renda dos mais pobres e da combalida e espoliada classe média.

    Difícil aceitar a guinada pro “mercado” do segundo mandato Dilma, depois da mais encarniçada luta contra os meios de comunicação que teve como ápice a batalha do segundo turno de 2014, cada um de nós empunhou as armas que pode, verdadeiros cabos de vassoura contra os canhões da mídia e da direita, do rentismo, dos bancos e do diabo a quatro.

    Agora em poucos dias vemos nossas esperanças se esfarelarem, Levy na fazenda, Eduardo Cunha quase presidente da Câmara Baixa, direitos sociais vitimados pela tesoura da “austeridade”, enfim, um início pífio.

    Foi isso que elegemos ?

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