O povo tem suas razões e um líder, que é Lula

Política não é uma atividade privada, a do “eu gosto dele” ou “não gosto deste aí”.

Até porque seus protagonistas não são os seres humanos – com falhas, defeitos e virtudes.

O protagonista é o processo social, a formação da consciência da população, ou do que dela consegue resistir à manipulação que lhe faz o poder econômico e seu sistema de mídia.

Hoje, no Brasil, talvez não haja quem mais o compreenda do que o próprio Lula.

De outra forma, como seria ele capaz de compreender que está passando o sofrimento de uma prisão sem motivos, sete anos depois de ter deixado o governo e sem ter, durante seu mandato, perseguido ou prejudicado ninguém?

Lula pode ter – e tem – empenho pessoal em restabelecer, formalmente, a condição de inocente das acusações que lhe fazem.

Mas tem exata noção de que não é por elas que está preso, mas pelo “perigo” que representa à agudização do projeto de destruição do Brasil.

Não se pense que Lula é um primário em matéria de política, que age essencialmente por simpatia ou antipatia pessoal.

Nem mesmo preso, e submetido à semi-incomunicabilidade em que está, raciocina em função de seus humores pessoais.

Não é assim que se mantém candidato nem é assim que definirá o apoio a alguém, se for este o caso.

É terrível que alguém coloque esta questão como se fosse uma “briga de torcidas”, embora seja compreensível que o passionalismo leve alguns a tanto.

Entre o primeiro e o segundo turno das eleições de 1989, numa convenção do PDT – para quem não sabe, partido que integrei até 2013 – um grupo de brizolistas carregava uma urna para que delegados e militantes votassem “contra” o apoio a Lula.

Brizola mantinha-se em silêncio, sem anunciar qual seria sua opção no turno decisivo, embora os mais próximos a ele soubéssemos – e vários, nem o apoiassem nisso – qual seria sua posição.

Brizola, sempre de orelha em pé, pediu a alguns de nós que andássemos “atrás” deles, estimulando todos a deixarem de votar, porque o ressentimento pela exclusão do velho líder gaúcho da disputa empurrava ao “não”.

Anunciar o apoio a Lula pelas virtudes que nele reconhecia e, sobretudo, por aquilo que poderia representar criaria traumas e, talvez, até divisões nos brizolistas.

Foi o dia em que nasceu a expressão “sapo barbudo”, uma reverso do que, em sua própria eleição, em 82, tinha provocado pela boca do general Euclydes Figueiredo, irmão do João: “Brizola é um sapo que a gente engole e  expele depois”.

Brizola, ao discursar, dizia que a política era a arte de engolir sapos – e ele estava engolindo o de ficar de fora de uma disputa presidencial adiada por mais de 30 anos – e que seria, afinal, fantástico que aqueles que o excluíram, a elite brasileira, tivessem de, por isso, também engolirem um sapo, o sapo barbudo Lula.

É preciso muito cuidado para não agirmos feito aqueles companheiros que andavam com a urna para dizer não a Lula.

Quem quer excluir Lula talvez seja forçado a engolir sapos. Não necessariamente barbudos, mas muito mais indigestos.

Esperar por Lula não é se atrasar, como insistem os comentaristas da imprensa, loucos para que ele “entregue os pontos”.

É deixar que a qualidade de quem é líder se exerça e que ele lidere.

 

 

 

 

 

 

Fernando Brito:

View Comments (41)

    • Perfeito: " tem exata noção de que não é por elas que está preso, mas pelo “perigo” que representa à agudização do projeto de destruição do Brasil. Não se pense que Lula é um primário em matéria de política, que age essencialmente por simpatia ou antipatia pessoal. Nem mesmo preso, e submetido à semi-incomunicabilidade em que está, raciocina em função de seus humores pessoais. Não é assim que se mantém candidato nem é assim que definirá o apoio a alguém, se for este o caso."

      Bem antes da Constituinte, num grupo de ilustres políticos, Tancredo disse que chamassem esse sapo barbudo para terem uma conversa a sós. Após a conversa, comentou: "esse vai dar trabalho". Lula desde muito tempo é hábil na arte de fazer política (não dessa política demonizada por quem pensa fazer limpeza) e de conciliação. Tenho pós graduação, mas, apesar de meu conhecimento formal, considero meu QI e, especialmente meu QE bem inferior ao do Lula. Confio em sua liderança! Me representa.

      • Confio na liderança de Lula. Precisamos saber esperar até que ele dê o sinal sobre os rumos das eleições 2018. Por enquanto ele continua "candidatíssimo" e é o que vale para mim.

    • Flávio Dino ?
      Entendi que ele está em dúvida se é para eleger uma forte bancada de parlamentares ,ou se é apenas para competir com uma candidatura presidencial sem chances - sem interesse na vitoria .
      Pessoalmente tô observando o barco caminhar.
      Boulos - Ciro ???

  • O stf comete um tremendo erro quando exclui LULA.
    Já deu o golpe e está vendo o péssimo resultado, mas será muito pior um próximo período sem LULA, será desastroso e eles serão os responsáveis pela desgraça ainda muito maior do que a de agora.
    O stf assume a responsabilidade por um desastre certo.

    • E na próxima Legislatura, todo Legislativo vai pedir revisão nas atribuições do Judiciário e do MPF. E, certamente, um órgão de controle da Polícia Federal, em caso de omissão do Ministério da Justiça.

  • Se hoje Brizola estivesse vivo iria perguntar para Ciro Gomes qual seu programa sobre democratização da mídia, já que ele anda bajulando a Globo.

  • Em 2013, naquelas manifestações que NADA tinham de espontâneas, e QUE NÃO eram organizadas por estudantes ou pessoas descontentes com a má qualidade e alto custo das tarifas dos transportes públicos, mas uma primeira ação de guerra híbrida, para aplicar em Pindorama um golpe de Estado midiático-policial-judicial-parlamentar, foram vistas bandeiras do PSTU, do PSOL e de outros "radicais" de esquerda... Em menos de três dias, as "jornadas de junho de 2013" se transformaram em protesto contra a PEC-37 (que visava delimitar de forma clara os limites de atuação do MP, que deveria formular denúncia e ser titular de ações penais, sendo a investigação atribuição exclusiva da polícia, que têm pessoal, equipamentos e preparo para essa atividade), com centenas de mascarados (alguns com mais 1,80 m de altura e aspecto de trogloditas) lançando voadoras contra vidraças de estabelecimentos comerciai no centro do Rio, saqueando lojas, depredando agências bancárias, etc.

    E nas manifestações pelo golpeachment? Quantos de "extrema esquerda" estavam lá, ao lado de coxinhas manifestoches e nazifascistas, pedindo a deposição da Presidenta Dilma Rousseff?

    Somente após o golpe, a degola de vários direitos, assassinato de centenas de presos, assassinato de dezenas de líderes de movimentos sociais, assassinato de uma vereadora no Rio, assassinato de alguns jovens líderes comunitários e militantes políticos, em Maricá, etc., para que a ficha de líderes políticos do PSOL cair. No PSTU de Zé Maria e Vanessa Portugal nem mais ouvimos falar.

    Alguns dos que acabei de citar agiram da mesma forma que "um grupo de brizolistas carregava uma urna para que delegados e militantes votassem “contra” o apoio a Lula." Como sentenciou Marx, há 150 anos, a história se repete como farsa... Se vivesse hoje, ele diria e escreveria que ela se repete como tragédia, mesmo.

  • A direita petista quer nos impor um candidato resultado de um acordo de bastidores com Lula candidatíssimo, como ele mesmo disse a Leonardo Boff. É difícil imaginar mau caratismo maior do que a dos petistas que estão fazendo este joguinho sujo contra o nosso maior líder, hoje e sempre, preso ou não, candidato inscrito na cédula ou não. A grandeza de Lula está anos-luz à frente desta gentalha que age como um sobrevoante abutre antes mesmo que a carniça esteja pronta e, no caso de Lula, nunca estará.

  • A questão não é excluir Lula, mas abrir o leque de opções que está aí quer gostem ou não. Bem com Lula, Boulos, Ciro e Manuela têm o mesmo direito de colocar as suas candidaturas e estão feitas já há algum tempo, é um fato. Porque olhar com desconfiança ou total ojeriza quem não confessa sua adesão incondicional ao Lula? Pobre país que dispõe de uma única opção política. Rica a esquerda que tem, hoje, pelo menos 4 candidatos.A ciumeira dos petistas da casta superior ou dirigente (sim, porque eu não sei exatamente o que pensa o comum dos mortais, ou seja, o eleitor comum) pode muito bem ser de apoio incondicional ao Lula , mas não pode criminalizar as outras opções. Este desespero da casta permite a suposição de que faz isto como auto promoção, marketing num futuro breve de suas próprias candidaturas. Diante do voa barata da direita que não consegue emplacar uma única candidatura viável, não vejo como sendo ruim ou perigoso, no primeiro turno, a esquerda ter diferentes opções colocadas para o eleitor (não teleguiado pela paixão ensandecida por Lula) afim de que ele analise os programas de governo, a viabilidade de sua implementação e, porque não dizer, a honestidade e desembaraço em relação à justiça de seus nomes. Políticos têm que ter empatia e respeito com o eleitor e não pensar que pode obriga-lo a ter uma única opção, a do estrito interesse de seu partido.

  • Esperar até os últimos minutos do terceiro tempo . A matilha jurídico/midiática está afiada esperando um nome . Embora já fizerem alguns movimentos em São Paulo contra Haddad , Na Bahia contra Jacque Wagner e mais recentemente contra Glesy Hoffmam .
    O nosso judiciário está muito célere e atendendo a pedidos , pode ser mais rápido ainda . ELEIÇÕES SEM LULA É GOLPE , LULA LIVRE E JÁ.

  • É triste ver o açodamento de muitos, no meio político e entre analistas. Estão se iludindo com a falta de candidato na direita e querendo jogar Lula pra escanteio, embarcando numa suposta "união das esquerdas" em torno de Ciro. Há muita coisa "estranha" acontecendo nesse processo, que só o futuro vai nos revelar. Mas temo que haja muitos ingênuos e alguns traidores.

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