Por que a proposta de Alckmin não é solução para a água?

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O governador Sérgio Cabral disse no Twitter que “jamais permitirá que se retire água que abastece o povo fluminense”, falando da proposta de Geraldo Alckmin de retirar água do Rio Paraíba do Sul. Cabral afirmou que “nada que prejudique o abastecimento das residências e das empresas do Estado será autorizado.”

O Governador está errado.

Não porque devesse deixar o abastecimento do Rio e das outras cidades fluminenses ser comprometido.

Está errado simplesmente porque Geraldo Alckmin conduzindo, diante de toda a imprensa e das autoridades federais, uma armação publicitária, apenas, que via apenas criar um impasse político que encubra suas responsabilidades nesse processo.

Essa não é uma afirmação leviana.  É fácil provar que tudo é uma armação, com o que o próprio Alckmin diz, veja só:

Geraldo Alckmin diz à Época Negócios que:

1- A obra vai custar R$ 500 milhões;

2- Leva 14 meses e , segundo ele, mais 90 dias para conseguir licenças, etc;

3 -Só vai ser tirada água quando o nível do Cantareira estiver abaixo de 35%, o que só ocorreu duas vezes nos últimos 10 anos, incluindo esta.

Ora, quer dizer que o Governo do Estado de São Paulo vai gastar R$ 500 milhões em uma obra que vai ser útil uma vez a cada cinco anos?

Ou, se a gente considerar toda a série histórica desde 1982, como mostra o gráfico aí em cima, uma obra que, nestes 32 anos, teria funcionado em apenas6 vezes, durante  24 meses. Ou, apenas 6,25% do tempo?

Você construiria uma casa para ir lá uma única vez a cada ano, chegando na manhã do sábado e voltando no domingo à noite?

Um obra assim não suporta qualquer estudo de viabilidade econômica.

R$ 500 milhões para algo que vai ser usado a cada cinco anos?  Ou seis vezes a cada 32 anos, como mostra o gráfico acima, oficial, elaborado pela Agência Nacional de Águas e pela Sabesp?

Isso é uma evidente empulhação mas, infelizmente,  não é tudo.

Alckmin está propondo retirar até 5 m³ por segundo. Claro que na conta já se inclui algo para ceder, procurando a concordância das outras 184 cidades atingidas pelo projeto. Se levar 3 ou 3,5 m³/ segundo, lamba os beiços, como dizia minha finada avó.

Isso é  menos da metade do que hoje, já com o corte no volume usado do Cantareira, há de déficit no sistema: na média dos vinte primeiros dias de março, com chuva e tudo, entraram 13 metros cúbicos por segundo no Cantareira e saíram 23 m³/segundo.

Quanto ao prazo, dizer que em 90 dias tudo estará pronto para a obra começar, só rindo.

Licença ambiental não sai assim, a toque de caixa. Se rufarem os tambores, vários meses. Ainda mais com o número de municípios envolvidos, quase duas centenas.

E audiências públicas, justamente pelo número de interessados.

Só depois da licença pode sair algum edital, pois o TCU já decidiu que “a realização de certame licitatório com base em projeto básico elaborado sem a existência de licença ambiental prévia configura, em avaliação preliminar, afronta aos comandos contidos no art. 10 da Lei 6.938/1981, no art. 6º, inciso IX, c/c o art. 12, inciso VII, da Lei 8.666/1993 e no art. 8º, inciso I, da Resolução/Conama 237/1997”.

E aí, mais 30 dias de prazo para abrir a concorrência, julgamento, recursos até a homologação.

Se não houver liminares, suspendendo a licitação, o que é improvável, para qualquer um que leia sobre o que acontece com obras públicas que envolvam aspectos ambientais no Brasil.

Seis meses já seria algo muito otimista. Mais 14 meses de obras (sem atraso) teríamos 20 meses, se Deus for Pai.

O futuro governador de São Paulo inaugurará, portanto, esta obra em janeiro de 2016, na melhor das hipóteses.

Inaugurará simbolicamente, claro, porque como admite o próprio Alckmin ela só seria usada duas vezes por década.

E a seca de  São Paulo, que tem 180 dias de água, mesmo contando com o bombeamento do volume morto das represas com isso? Nada!

Não existe nenhuma obra que possa ser feita a tempo de remediar o drama presente para os paulistanos, esta é a verdade que não está sendo dita. Rápido, mesmo, só uma interligação entre os seis sistemas que servem São Paulo, alguns deles cheios de água até a boca, com os temporais. E ainda assim, leva meses.

Somente o corte mais intenso nos volumes retirados do Cantareira pode garantir, com nível razoável de segurança,  que se chegue à próxima estação de chuvas com água.

Os mesmos 5 m³ que viriam – daqui a dois anos – do Paraíba podem ser obtidos reduzido a vazão fornecida pelo Cantareira em 20%.

Ruim, mas não desastroso.

Uma família que consome mil litros de água por dia teria 800 litros.

Pior será ela, em outubro ou novembro, não ter uma gota sequer.

Essa é a verdade da qual o Governador Alckmin vem fugindo, apostando num ridículo “Rio x São Paulo”  com o qual quem não quiser ser cúmplice ou bobo não pode alimentar.

Não é o caso de negar a água do Paraíba do Sul a São Paulo. Não é isso o que está em questão. Há estudos sérios sobre isso, que devem ser levados em consideração e receber a análise técnica merecida.

Mas o que se está fazendo é política, e do pior tipo.

A que usa o medo da população para manipular a verdade.

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13 respostas

  1. Na verdade acho que o Cabral esta adorando. Um fla Flu como o dos royalties do petróleo éo que ele mais precisa.
    Ataques a upp e um bom choro defendendo o Rio é benção para ele.

  2. A “proposta” do governador de SP, mostra toda a sua “competência” administrativa. Com certeza ele terá a resposta do povo em outubro de 2014.
    Vão precisar de muito perfume francês para aguentar a “nhaca” do povão na fila para votar, pois até lá, banho dia sim, três não.

  3. Resumindo…”A Doutrina do Schock” Naomi Klein. Aterroriza, e depois que as mentes estão “sedentas” por soluções, apresenta a que mais lhe convém
    mesmo que seja esdrúxula, e fatura em cima ! No caso do Pinóquio e do PSDB, se manter no poder onde já estão por duas décadas de desmandos e incompetência para resolver o básico da vida…a ÁGUA!

  4. Olá Fernando, onde encontro em alguma pagina, um medidor dos niveis de agua das represas de Sao Paulo, no da sabesp ?

    Grato
    Rodrigo

  5. Há outros aspectos que complicam o cenário e serão amplamente aproveitados pela grande mídia. Vejam esses trechos de um artigo do Estadão:
    “O ESTADO DE S.PAULO – 19/03/2014 – Racionamento do Cantareira em janeiro foi evitado por União e Estado. Ricardo Brandt – O Estado de S. Paulo. Ministérios Público Federal e Estadual investigam captação acima do limite técnico; medida teria agravado a situação das represas. CAMPINAS – O racionamento de água no Sistema Cantareira deixou de ser decretado em janeiro porque foi autorizada pela União e pelo Estado uma liberação maior de água do que ele poderia produzir sem comprometer os níveis. …
    No documento da ANA, a Sabesp solicitou vazão média de 29,2 mil litros de água por segundo para janeiro e foi atendida integralmente. As cidades do interior solicitaram 7 mil litros de água por segundo e tiveram liberados 3 mil litros por segundo.
    …O Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), do Estado, informou que não comenta as medidas. A Sabesp, por meio de nota, informou que segue as determinações dos órgãos reguladores e o abastecimento nas cidades está sendo mantido.”
    Ou seja, a ANA está sendo diretamente envolvida como corresponsável. De quebra fala bobagem ao dizer que foram seguidas determinações de ÓRGÃOS REGULADORES. Isso não existe no sistema brasileiro de gestão das águas. As agências de bacias hidrográficas são braços técnicos dos Comitês de Bacia que eu gostaria muito de saber onde andam, pois eles tem poder deliberativo sobre tudo o que ocorre com os recursos hídricos de suas respectivas bacias. ANA no caso federal e DAEE no caso de São Paulo têm prerrogativa da outorga pelo direito de uso da água. Mas, desde a entrada em vigor da Lei 9433/97, as outorgas precisam respeitar o Plano de Bacia Hidrográfica. É outro aspecto muito ruim te todo esse contexto: órgãos deliberativos com ampla participação de todas esferas de governo e da sociedade, com amplos poderes deliberativos, os comitês, nem parecem que existem.

  6. Dois pontos interessantes.

    Reduzir 20% da cantareira, é reduzir o faturamento da SABESP. Isso é reduzir dividendos (e caixa 2??) do governo que, em ano de eleição, precisa gastar mais (com publicidade, lógico).

    Outra questão interessante dessa obra é o valor de 500milhões. Quem vai fazer a obra? Alston (risos, rsrsrrsrs)……..

  7. Os tucanos, com sua competência, em vez de cavar poço, estão cavando suas próprias covas (desculpem o trocadilho).

  8. Se São Paulo cuida-se das próprias merdas teria água em abundância.Tietê, Pinheiros, Tamandateí e etc., estão cheios de merdas.
    Eu fui em Salesópolis conhecer a nascente do tietê, limpa e cristalina lá bebe-se a água sem tratamento,mas quando chega em Mogi das Cruzes,começam jogar cocÔ e despejo industrias chega em São Paulo está todo poluído.Fala-se que em 2022 estará despoluido, como? As cidades ribeirinhas não tem tratamento de esgoto e ninguem fala em tratar a Água para jogar no rio. O Tietê na altura de Pirapora muitas vezes fica cheia de espuma,que deve ser de despejo industriais. Os estados e cidades deveriam cuidar melhor dos rios e não jogar imundice no rio e nem detritos, se fizessem assim não precisariámos buscar água tão distante, a água estaria na nossa porta.

  9. A sanha, a ganancia a estupidez da privatização de um serviço tão essencial, tão excepcional para o cidadão é prova da falta de compromisso com o povo. A omissão, a covardia, a chantagem, o terrorismo e agora a “jogada de mestre”, tentando colocar a casca de banana para a presidente pisar, tentar transferir a culpa de quem não investe a mais de 20 anos, um único centavo em novas fontes de captação de água potável é canalhice, calhordice, é golpe, é sacanagem. Segura essa Alkmin.

  10. R$ 500.000,00 (quinhentos milhões de reais) daria para construir uma usina de dessalinização da água do mar para abastecer a Grande São Paulo com certeza.

    Projetos deste tipo são vistos nos países árabes a agora na Austrália, que irá construir a maior usina de dessalinização do mundo.

    Para se ter uma idéia, a usina de Riad (capital da Arábia Saudita) retira toda a água potável do mar de sua usina com capacidade para 20.000 m3/segundo.

    O nosso litoral (São Paulo) está a apenas 70 km em seu ponto mais próximo.

    Então porque não investir nesta tecnologia?

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