Aécio Neves começou o segundo turno das eleições, há apenas três semanas, menos até, como favorito.
Seu resultado, no primeiro turno, surpreendeu, menos pelos votos que atingiu – semelhantes aos de Serra, em 2010 – mas pelo inesperado de alcançá-los depois, segundo as pesquisas, de patinar numa faixa muito abaixo deles e o terem mostrado fora do segundo turno.
Também era evidente que, pelo ódio a Dilma e Lula que mal consegue esconder, Marina iria apoiá-lo e poderia, em outras condições, levar a ele a maioria de seus votos.
Mais inesperado, talvez só para quem estivesse distante da política local, como eu, foi o apoio da viúva de Eduardo Campos. As origens da família, a simpatia pessoal e a carga de dor familiar nos fizeram crer, erradamente, que garantidas as posições do grupo do ex-governador e dada a preferência dos pernambucanos por Lula, a família fosse recolher-se no segundo turno. Não sou capaz de compreender que argumentos soaram para leva-los a expor o prestígio recém-reafirmado no Estado.
Além do mais, os cuidados que a mídia tinha com ele e Marina – protegendo-os enquanto despejava uma inacreditável campanha de desmoralização do Governo, apoiada em criminosos que dele haviam sido expelidos – agora seriam só seus.
Então, o que fez, em exíguos 17 dias, Aécio decair a esta situação deplorável, onde consegue exalar o cheiro de derrota em imagens, palavras e gestos, cada vez mais agressivos?
É simples: o seu tamanho pessoal ou o que Leonel Brizola chamaria de “luz própria”.
Mesmo tendo presidido a Câmara dos Deputados, governado o segundo maior Estado da Federação e sido eleito, sem contestação possível, senador pelos mineiros, Aécio Jamais foi um líder.
Foi apenas um chefe de máquina política, uma versão “playboy” das velhas oligarquias interioranas. Ou o que em tempos antigos, chamaríamos de “herdeiro perdulário”.
Não fosse sua pequenez, Aécio teria feito o que só ele poderia fazer na passagem para o segundo turno: apresentar-se como o “pacificador”, o candidato que se propunha a encerrar a temporada de ódios que marca o processo político brasileiro, reconhecido os erros do tucanato, anunciado a abertura de uma nova etapa da política, menos feroz, mais humana, menos “mercadista”…
Digamos que um pós-neoliberalismo, reconhecendo que o Estado não podia nem ser ausente nem mero provedor de lucros financeiros.
A despolitização que os governos de esquerda, por tibieza e excesso de pruridos “republicanos”, deixaram crescer, sem reação, numa sociedade que não progrediu senão por suas próprias políticas, convenhamos, abriu espaço para a eleição de um governante conservador “light”.
Um nome novo para a direita, para “recomeçar” e não para negar.
Em lugar de demonizar os adversários, um conservador “light” ter-lhes-ia feito acenos, chamado à razão, dito que não prescindia deles e, até, que gostaria de contar, em seu governo, com a colaboração de Lula, que se tornou mundialmente um símbolo do Brasil.
Não pôde florescer um “Aecinho Paz e Amor” a partir do dia 6 de outubro por duas essenciais razões.
A primeira é a fraqueza pessoal do personagem, que é pífio.
Reconheçamos: como político e administrador, José Serra está a anos luz à frente de Aécio. Tem uma trajetória – desviada, errada, traidora de quem foi, não importa – construída por seus próprios pés.
Foi candidato a presidente duas vezes em condições dificílimas: no final do desastre de Fernando Henrique e no boom de crescimento do país em 2010.
Só deixou o oceano de ódio que habita sua alma mesquinha fluir naquelas eleições porque não poderia ser diferente.
Para Aécio, sim, havia outra opção.
A segunda razão foi o ódio.
E ele não tinha, até o início da campanha eleitoral, o estigma de pecados mortais em sua testa. Conversas sobre seus hábitos pessoais, um suposto “barraco” numa festa animada, pequenas falcatruas comuns aos políticos, o que mais? Nada que o tempo e a missão não pudessem sublimar nos deslizes da juventude de quem amadurece e tem uma missão para si.
Mas Aécio resolver ser o que não foi na carreira política – embora tenha sido na vida pessoal : um “coxinha” elitista e agressivo, uma espécie de (já não tão) jovem pit-bull da direita e marcar a si mesmo com o ferro em brasa da volta ao passado, ao escolher como símbolo de seus planos o capataz do desastre econômico do final da era FHC.
O dedo em riste não era um acaso: sua campanha era apontar os males alheios, sem ter o bem para mostrar.
Seu discurso era o do terror e do medo e da falsificação simplória: o desemprego (o menor da história brasileira, confirmado hoje pelo IBGE), a inflação (ora, ora, ora, como se não tivéssemos tido piores e muito, com o PSDB) e a estagnação da economia…
Faltou-lhe, que sabe, um padre bem mineiro que lhe dissesse: “meu filho, o Paraíso é lindo, mas ninguém se atira do precipício por achar que vai pra lá, tirando a turma do Jim Jones”
Mas Aécio, não tem juízo e, sobretudo, não tem um caráter que lhe permita isso.
Quis ser o porta-voz do ódio e o ódio tirou-lhe qualquer razão, exceto para os que não precisam de razões, tanto é o ódio que lhes possui.
Seu comportamento e seus modos agressivos e carregados de valentia podem fazer algum sucesso nos meios “mauricinhos e patricinhas” mas ninguém quer ter um pit-bull em casa, como genro.
Agora, ao se fazer de “vítima” de agressões, depois dos seus arroubos de “machão”, só o que consegue transmitir é falsidade e fraqueza.
Não se culpe marqueteiro ou estrategistas pelo desastre de Aécio.
Ele está sendo derrubado por seu próprio nanismo político.
Aécio deu no que deu porque não tinha tamanho para dar em outra coisa.
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Aécio seria um retrocesso catastrófico para o Brasil.
A elite odeia o PT e sempre vai odiar.
O povo ama e isto é o que importa.
Onde está escrito aqui José ou maria que doou algum dinheiro para o PT?
http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-2014/prestacao-de-contas-eleicoes-2014/divulgacao-da-prestacao-de-contas-eleicoes-2014
http://www.pragmatismopolitico.com.br/wp-content/uploads/2014/09/doadores-de-campanh1.png
Boa tarde,
discordo das falas acima, pois Aécio na sua plena altivez nunca foi protagonista de nada se não dá sua própria megalomania de achar que poderia ser presidente do Brasil. Quanto a nós mineiros, sim erramos em coloca-lo no governo, talvez por ter na época uma falta de candidato do PT, pois lula tinha sido eleito e as chapas unificadas em prol do PSB em BH. Aécio, não passa de um simples herdeiro de nada, pois só tem 8 anos ou melhor 6 anos de senado e será somente isso, pois sua insignificância de pessoa e político não arrebata nada mais ao não ser o coração dos que vê nele uma forma de ter lucro e roubos no estado.
o povo acordou, o povo nao e bobo, o povo tem raciocinio proprio, nao se deixam ser levados por bla bla bla.o povo agora estudam, trabalham , nao falta servico e todos sabem que e gracas o governo do PT QUE FOI dado essa oportunidade. acabou o cabresto, servem para todos os politicos, o povo sabe o que e melhor para eles. dai-lhe dilma
Cara, fostes verdadeiro mas de uma crueldade atroz.
Bom diagnóstico. Acho que, se Aécio tivesse mudado para o PMDB em 2010, quando perdeu a luta para Serra e o nefasto PSDB paulista nas prévias do partido, e se mostrasse um candidato "conciliador", inclusive sem pudores para elogiar Lula, ressaltar sem atacar que o governo ficou aquém do que poderia, assumir "mea culpa" nos erros tucanos e tentar, de forma reservada, diminuir a distância entre as classes e negar o discurso do ódio, seria ele com a maioria do eleitorado hoje. Veja: nem precisaria indicar antecipadamente nomes ridículos como Armínio Fraga, ou mostrar caminhos mirabolantes: bastaria uma imagem nebulosa e superficial que talvez a maioria do eleitorado o seguisse - o antipetismo viria a reboque de qualquer forma. Mas ele preferiu ser leal a FHC e o discurso de ódio. Apostou, até o momento, errado.
Por enquanto eu não daria Aécio como morto e enterrado nessa eleição. Vamos ter cautela.
Concordo. Já bastaram os erros grotescos das pesquisas no 1º turno. Enquanto o último voto não for apurado, não podemos comemorar.
Concordo com vocês, não podemos chutar o adversário, precisamos de muita cautela nesta hora, como dizia minha vó.
BINGO!!!!!!!!
Você tem razão, Daniel, afinal Alckmin foi eleito com ampla maioria, o que é bem difícil de explicar. De qualquer maneira, a possibilidade (trágica)de Aécio ainda vir a ser eleito não invalida a análise do Fernando, que é perfeita. Mas nem este ananismo político lhe é próprio. Estamos em presença de uma geração de herdeiros que não aprendeu senão que tudo lhes era naturalmente devido. Nunca ter feito a própria cama é apenas um exemplo. Tudo lhes veio à mão, sem esforço. Herdeiros, inclusive, de um período de ditadura implacável. Esta herança lhes forja o caráter. Hoje, os blogs mostram a foto do herdeiro do velho Mesquita, do Estadão, postando um cartaz, na "manifestação contra a podridão", manifestação em que a palavra de ordem mais ouvida foi: Dilma, vai tomar no ..., "Foda-se a Venezuela". Por que? O que sabe o senhor (sic) Fernão Lara Mesquita das transformações da Venezuela? Em que estas transformações lhe atrapalham a vida? Por que não pode mais tão facilmente quanto o fazia antes ir procurar uma linda candidata a Miss Venezuela? Em outra "manifestação" semelhante o herdeiro do Estado de Minas chama Lula de cachorro verborrágico. Se não fossem herdeiros talvez as mães, na idade devida, lhes tivessem botado pimenta na boca ou deixado de castigo para aprender a respeitar os outros. Sem berço, como diz Lula, só se formam pequenos anões, que se creem deuses.
FRAUDE NAS URNAS. E AECIO ESTA PREPARANDO S SUA AGORA. A CAUTELA É AI. Auditoria já! Antes das eleições!
Você já é tolo em confiar em um partido no BRasil ainda mais em uma urna 100% fraudulenta .
http://www.fraudeurnaseletronicas.com.br/
O comentário do sr. Fernando Brito é esclarecedor. Mas, um homem como o Aécio Never não tem a GRANDEZA para ser o Presidente do Brasil!
Olha, como o povo mineiro é bom e ingênuo!
É isso aí. Alguém reduzido a sua própria insignificância. Mas também não podemos esquecer seu principal padrinho: o ociólogo-pavão FHC, maior ego da política brasileira e maior cabo eleitoral da Dilma nessas eleições (mais uma vez, depois de Lula, é claro).
O problema, Fernando, é que o PSDB nada mais é do que herdeiro do malufismo, do udenismo, da Arena. Depois que o PT ocupou os espaços da social-democracia, não sobrou mais nada para os tucanos.
Por mais que surja um candidato com boas intenções, ele não vai ter muita alternativa senão cair nos braços da direita.
Veja que, no debate Record, Aécio conseguiu até arrancar aplausos da mal educada plateia ao insultar países amigos sul-americanos.
Ninguém aplaudiu nas suas promessas de manter bolsa-família ou de melhorar políticas do salário mínimo...
Vale lembrar que, em 2010, Serra chegou a ensaiar um "pós-Lula", até mesmo fazendo elogios ao então presidente, fingindo que não faria uma campanha de ódio.
Além de não ter empolgado, foi até desautorizado pela imprensa amiga dele.
Para encerrar, conto experiência ilustrativa desse quadro. Conheço duas pessoas, aqui em São Paulo, que realmente acreditam que Aécio vai acabar com o bolsa família. Resultado: em razão disso confirmaram o voto no tucano e, garantem, nada as fará demover da ideia.
Quer dizer, não é fácil!
Não foi Aécio que escolheu Armínio como ministro da fazenda do seu governo, o que não será sem nunca ter sido. Aécio foi apenas porta-voz da plutocracia mundial por trás dele, de FHC e do PSDB.
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O PSB corrupto de Pernambuco (e não só a família de Eduardo Campos) apoiou o PSDB e Aécio para pagar o acordo pelo qual foi agregado ao poderoso esquema de proteção da corrupção tucana, na mídia, na polícia, no ministério público e na justiça. Eles sabem o tamanho do rabo que têm no Porto de Suape, na Refinaria Abreu e Lima, e em tantos outros objetos, locais e eventos, inclusive o avião, uma das pontas do gigantesco rabo que apareceu de forma fatídica em 13 de agosto.
Por que, só no apagar das luzes do segundo turno, acusações gravíssimas, envolvendo Aécio e sua turma (contra Armínio as mais graves), elas veem à público? Os doze anos catastróficos do governo tucano em Minas, a arrecadação milionária de fundos para alicerçar sua candidatura à Presidência, as relações criminosas de Armínio com a banca internacional, a vida pregressa do candidato, elitizada, escandalosamente descomprometida com as questões sociais, a censura imposta à custa do erário público à mídia mineira, enfim fatos que já teriam desconstruído a muito tempo a farsa que o candidato encena com o cinismo que é a sua marca maior.