Por que xingam Ana Luiza?


Ana Luiza é quase uma menina, como se pode ver na imagem.

Quase, porque é uma mulher e vai ser uma médica de verdade, não uma comerciante da saúde.

Ela fez, no aniversário do Programa Mais Médicos, um discurso de agradecimento pela instalação de um curso de medicina em sua cidade: Caicó, no sertão do Rio Grande do Norte.

E curso pra lá de concorrido: foi, na primeira parcial do Sisu este ano, a escola de medicina com a maior nota de corte: 868,98.

Lá, ela está no segundo ano de medicina.

O que ela disse que pudesse ofender alguém?

Falou que uma neta de agricultores, como ela, agora pode realizar o sonho de estudar medicina.

Que pode fazer algo de bom por sua comunidade.

Que tem orgulho do que faz.

Por isso, Ana foi pessoal e violentamente agredida em mensagens do Facebook, onde ela narrou, num desabafo:

“Fui atacada em minha página pessoal brutalmente por MÉDICOS E FUTUROS MÉDICOS, além de outras pessoas. O machismo e a elite mostraram sua cara. Fui chamada de vadia, de MÉDICA VAGABUNDA DE POBRE, ignorante, não merecedora de cursar medicina. Me foi dito que iam fazer de TUDO pra que eu não conseguisse emprego depois de formada. De que eu não sabia com QUEM estava lidando. Que eu merecia LEVAR UMA SURRA pra aprender a deixar de ser corrupta. Me mandaram CALAR MINHA BOCA NOJENTA DE POBRE E DE VADIA.”.

Depois, por conta de gente capaz de dizer isso a uma menina do interior que sonhou com a profissão e caminha para ela, a categoria médica não quer que surjam situações como a publicada ontem pelo UOL, que registra uma pesquisa da Universidade Federal  de Minas Gerais apontando que “Em dois anos, cubanos ganham preferência a médicos brasileiros“.

E na injustiça que isso representa com milhares de médicos brasileiros que merecem este nome, como o meu querido José Carlos, que, quando médico do Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, desabafou comigo que tinha colegas que sentiam “nojo do paciente”. Ou com a Dra. Diane, que nem desconfia que sou blogueiro ou que fui do Governo e tem a delicadeza de me levar até a porta do consultório do posto de saúde – a mim e a todos – perdido na beira de uma lagoa.

Ana Luiza é quase uma menina, mas não precisa de defesa de ninguém, porque sabe se defender.

Sabe que é inútil falar ao ódio e o melhor que podemos pretender é que o ódio se cale, desmoralizado, e vá minguando, como deve ser, para minúscula condição dos vícios humanos, contra os quais a gente tem de se vacinar todos os dias.

Assim como fez a  Ana:

Minhas palavras foram pros profissionais de saúde que dão o sangue todo dia, mesmo com condições péssimas de trabalho, com salários atrasados, numa saúde abandonada e caótica. Eles sim, são verdadeiros heróis.Minhas palavras foram direcionadas àqueles que acreditam e lutam por um mundo transformado a partir da educação e do amor. Minhas palavras foram um agradecimento aos professores, a classe Trabalhadora com T maiúsculo!! Que têm seu serviço desvalorizado ao máximo, mas toma a linha de frente na luta pela transformação diária do futuro de milhões de jovens sem oportunidade no país.

Fernando Brito:

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  • Ana Luíza de Lima, sua coragem nos representa.

    Fique firme, pois já dizia o poeta: "Estes que aí estão/atrapalhando o meu caminho/eles passarão:/eu passarinho".

  • Mocinha cheia de valor atacada vilmente pra quê? Em vez de valorizar jovens como ela, atacam! Tudo que há de bom é atacado, não sei o que está acontecendo, uma coisa estranha, parece que o bom ofende.

    • O problema foram as palavras gentis e verdadeiras dirigidas a Presidenta Dilma. Infelizmente vivemos um momento em que a política foi resumida em uma guerra de torcidas organizadas como no futebol. O que importa são as cores da camisa. E o panelaço é justamente a expressão disso. Não há espaço para diálogo.

  • Não sei quem são esses animais que se dirigiram a Ana Luiza dessa maneira. Digo ainda que a classe médica, como inúmeras classes, tem gente boa, a maioria, e gente ruim.Mas os representantes dessa classe, parecem todos ruins. Ontem, num discurso para médicos recém-formados, no cremesp (São Paulo), discurso de "nobre" da classe, conclamou os jovens a lutar contra o Governo e o Mais Médicos.Depois se queixam de serem chamados de "mafia de branco".

  • È que eles,os médicos não vão ao banheiro ,engolem e o substrato vai direto ao cérebro.Importa não Ana.

  • Eles,os médicos Coxinhas,não são burros.Sabem muito bem que atendem os pacientes com nojo e desprezo e só visam lucro.Daí a reação contra uma menina idealista que honrará a profissão .Sentem vergonha de serem os vermes que são...

  • Ana Luiza, liga pra essas babacas não, minha filha. Isso é puro ódio de classe. É por ter dado oportunidade a pessoas como você que os coxinhas e a máfia de branco odeiam o Lula. Liga não. Lembre-se daquele velho ditado árabe: Os cães ladram e a caravana passa.

  • O fato de ter descendência negra, ser uma futura médica, ser mulher e ser agradecida a um governo que defende excluídos é demais para Oligarquia, que vê seus privilégios diminuídos e seus pretensos méritos intelectuais igualados e em geral superados. Lembra os anos 50 nos USA quando a Klux-Kan queriam barrar os negros nas universidades Americanas. Como dizia alguém. Invejo a burrice e a estupidez pois são eternas.

  • A questão não é mais se Dilma fica ou sai. O fato é que, fruto da manipulação midiática ou não, a maioria do povo brasileiro que carrega no seu cotidiano as marcas da senzala, e que foi o alvo das políticas de inclusão do governo trabalhista, está com a elite gritando Fora Dilma! Fora PT! Se alguém conseguir compreender, de como os beneficiários de uma política pública odeiam quem as fomentou, este terá descoberto a solução para o Brasil. Dilma fecha o ciclo pós ditadura e nada há de novo no horizonte a não ser retrocesso. É o Brasil mostrando a sua cara, como pediu Cazuza.

    • Eu acho que é justamente pelo sentimento de cidadania. Quando entramos pra valer no mercado de massa (anos 80), cidadania se confundiu com consumo, era cidadão quem podia consumir. Durante FHC, especialmente após o Real, a classe C começou a aumentar e a D/E a diminuir. Mas isso só se deu com força mesmo no governo Lula, que teve um aumento real de 70% de gastos públicos (educação, saúde, seguro desemprego, etc.). Agora cidadania não era só consumir, tornou-se também bem-estar via políticas públicas. A crise e os cortes ameaçam essa cidadania e a Lava a Jato atualizou um passado que se pensava não existia mais, aquele em que os poderosos se locupletam e o povo se dana. Por isso eu acho que houve a queda de popularidade da Dilma em todas as classes, como um protesto não talvez em todos os casos dirigidos pessoalmente a ela, mas a todo um sistema que pode colocar a recém conquista e ampliada cidadania. Bem, é uma hipótese.

      • Ôps, a todo um sistema que pode colocar em risco a cidadania recém conquistada e ampliada. A Lava a Jato trouxe uma questão moral forte (nosso povo de classe C é trabalhador, honesto, honra seus compromissos...) e de certa forma fragilizou a questão da cidadania, mostrou o quanto ela ainda pode depender da atuação dos poderosos e como inclui muita coisa - Petrobras, partido do governo, outros partidos e empresários, criou essa revolta, com razão.

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