Cinco ônibus em chamas, vários carros incendiados, vidraças da sede da Polícia Federal em Brasília desmanchando-se em cacos, após pedradas e….nenhum preso e nem mesmo alguém apontado como responsável pelas depredações.
Alguns dos envolvidos puderam até acoitar-se nas portas de quartéis e até na própria residência presidencial, com direito lanches mandados servir pela primeira-dama Michele Bolsonaro.
O próprio vice-presidente da República os convoca a “manter acesa a chamada direita” e não dá uma palavra sobre o vandalismo.
Estamos hoje a assistir uma espécie de erisipela fascista, onde bactérias que, num organismo sadio, de nada seriam capazes, produzem uma chaga horrenda e assustadora, que não vai ser curada rápido.
Será que se pode chamar a isso de uma situação normal, de acontecimentos próprios de um regime democrático o que está?
Qualquer autoridade, civil ou militar, seja por prevaricar em seus deveres, seja por procrastinar as investigações sobre as responsabilidades – as diretas e as remotas – deve ser tratada como é: cúmplice de uma aventura autoritária que só não aconteceu por falta de condições políticas internas e externas.
O ministro Alexandre de Moraes diz que “ainda tem muita gente para prender e muita multa para aplicar” é correto, mas não é uma resposta suficiente ao que está acontecendo.
Da mesma forma, a declaração do futuro Ministro da Justiça, Flávio Dino, de que “o que não puder ser feito agora, será feito a partir de 1° de janeiro” é correto, mas não responde às necessidades do país.
O nó político-institucional que precisa ser desatado é o de o Brasil estar desprovido de uma instituição chave para a democracia: o Ministério Público, a quem corresponde o papel de ter iniciativas.
À falta dele, ficamos neste impasse: o Judiciário não pode – e não deve – agir sem provocação; a polícia tem limites muito apertados – e assim deve ser – para agir além dos fatos em curso.
Augusto Aras é hoje o personagem símbolo da ruína a que o MP foi levado e dos danos que, por conta de sua desmoralização, suprimiu as defesas do organismo democrático.
E a chaga se espalha e insiste, sem que haja reação, como se nos bastasse dizer: “daqui a quinze dias os estreptococos vão ver só”.