Quem diria, o “Doutor Escravo” é livre para criticar. E com a autoridade de quem faz saúde

Quem acha que os médicos cubanos são uns “cordeirinhos” que só dizem amém para os Governo deveria ler a matéria da Folha  , hojecom Juan Delgado, que se tornou uma espécie de símbolo dos profissionais da ilha que vieram ao Brasil no programa “Mais Médicos”.

O “Dr. Escravo”, como pejorativamente o chamaram seus colegas brasileiros em Fortaleza , há exatos dois anos, mostra que seu compromisso é com a saúde das pessoas e não hesita em criticar a falta de remédios e outras carências que enfrenta nos cuidados que presta a comunidades indígenas no Oeste do Maranhão.

Imagine se não vai faltar nada em distritos de saúde indígenas, isolados no meio da mata, a horas de viagem por estradas de terra ou de barco? Claro que falta.

Mas já não falta tudo, sobretudo o médico.

Claro que a Folha pode ter carregado um pouco nas tintas, mas seja  assim ou não, Delgado já está lá há dois anos, tem mais um ano de contrato e quer ficar mais, mesmo dormindo em redes quando vai às aldeias e enfrentando um quadro de  atraso que não vai mudar de estalo.

É que ele, certamente, lembra do que é sua profissão e do valor que tem cuidar da vida e da saúde das pessoas.

Problemas sempre há, até aqueles gerados pelas coisas boas e justas: no “meu” postinho de saúde aqui no Tibau, em Niterói, às vezes minha consulta marcada para as sete da manhã só acontece lá pelas nove e meia. É que os idosos têm prioridade, entram antes e, dependendo de quantos venham ao posto, demora um pouco. Nem por isso vou reclamar, até porque já esperei tanto quanto lá em consultórios particulares, com a consulta custando os olhos da cara. Espero e sou tratado, e muito bem tratado, aliás por uma médica brasileira.

Tem gente, irritadinha, que quer dar chilique, chilique que não dá no privado. E tenho testemunhas de que tem gente que chega lá até de Pajero, carrão... O que acho, aliás, ótimo, porque é sinal de que ainda há esperanças de que, como diziam os padres nos casamentos “antigos” ao menos”na saúde e na doença” a gente possa ser igual .

Assim como vai ter gente usando as críticas do Dr. Delgado para desqualificar algo que, até dois anos atrás, sequer existia: a presença de serviço de saúde para estes “donos do Brasil” que o Brasil sempre desdenhou e maltratou.

Ao ponto de os “Doutores Livres” não quererem, de jeito nenhum, dar a cara naquelas lonjuras.

Outros mal mostram a cara para seus paciente, numa (in)cultura médica que repete o olhar de nossas elites para as pessoas do povo, que deveríamos ser todos.

O olhar sobre os “invisíveis “, que teimam em aparecer.

Fernando Brito:

View Comments (28)

  • Se se tiver menos saúde para os índios, a natureza controla a taxa de natalidade, mantendo sempre uma população de baixa densidade. Assim é menos gente para reclamar enquanto grandes empresas e oligopólios roubam seus recursos, até de receitas naturais para doenças.

  • No inicio do ano, dois dos meus três filhos contraíram dengue. Como eles não têm plano de saúde, levei-os para serem atendidos em um hopital particular. As despesas passaram de R$ 3.000,00 entre consultas e medicamentos dados no hospital.
    Cada vez que tomavam algum medicamento, basicamente analgésicos e antitermais, esse era aplicado com soro fisiológico a um custo de R$ 120,00 a hora da sala.
    Como aqui em Campinas houve a maior (e bota maior nisso) epidemia de dengue, os hospitais particulares estavam cheios. Algumas vezes preferimos fazer o retorno na madrugada para não esperar tanto.
    Os hospitais e postos que atendem pelo SUS eram motivo de reportágens diárias na TV, tamanha era a espera pelo atendimento.
    O alto custo das consultas particulares e hopitais do SUS lotados, tornam quase obrigatório o convênio médico.
    Com consulta a R$ 500,00, e sala de soro lotada 24h por dia, dá pra concluir que a dengue foi muito lucrativa para quem trabalha no ramo de saúde.
    Os médicos trabalhando em 3 turnos, os hospitais particulares recebendo alta demanda, os planos de saúde que se tornaram "imprescindíveis", todos eles levando vantagem pela ineficiencia do serviço público.
    Até seria legítimo, se não fosse a vontade de eternizar essa situação.
    Qualquer movimento para melhorar a saúde pública é rechaçado imediatamente pela classe médica, como se quisessem proteger o seu mercado lucrativo.
    A rejeição aos médicos cubanos é só um exemplo.

  • bom, pelo menos a argumentação de que "sem remédio de que adianta médico" não virá daqueles que tanto criticam o programa + médicos, rsrsrrsrs

    • Você não leu ou não entendeu? O médico cubano não disse que não adianta estar lá; tanto é que regressará às aldeias que atende. Ele deve saber que sua prática profissional é uma coisa e a estrutura é outra, embora interdependentes. Aliás, é muito bom que os médicos estejam lá e que encaminhem as demandas aos locais certos: prefeituras e estados.
      A reporcagem fala de "cidade mais próxima" ao invés de dizer a qual município e distrito sanitário estão vinculadas as aldeias; quem responde pela distribuição dos medicamentos lá? Não vale dizer que é Dilma.
      Talvez em Cuba não faltem medicamentos, daí a estranheza do médico. Não sabe ele que isso ocorre no Brasil inclusive nas grandes capitais. As críticas dele não se dirigem ao Mais Médicos (cujo objetivo é prover as cidades de médicos), mas ao sistema de saúde todo, que não funciona a contento em todas as cidades.
      A meu ver, a reporcagem só serviu para confirmar o que já sabíamos: os médicos brasileiros não vão a todos os lugares porque não querem, o que é um direito inafastável deles. Mas, se tem quem queira, deixa ir.

  • O problema é que em muitos postos de saúde, os médicos atendem apenas por duas horas e depois vão embora ganhar dinheiro na clínica particular.
    Sabem que ali está a população carente, ou seja, a que não tem direitos reconhecidos, que não pode reclamar porque não será ouvida pelas instituições.
    Postos de saúde municipais são administradas por prefeitos. Mas um monte de gente vai botar a culpa na Dilma.

  • Parece que os médicos dos hospitais públicos situados nas capitais vão ter que bater cartão ponto, pois como sabemos tais serviços (para alguns) era p/ contar na hora da aposentadoria, pois lá não apareciam. Mas não são só os médicos, muitas empresas jornalistas colocam seus funcionários como CC na Câmara de deputados, no Congresso, nos estados, e em várias repartições púbicas e falam em ética.

  • Viva os medicos cubanos.
    Cheguei de Cuba mes passado.
    Pude observar o orgulho dos cubanos quando diziam ter amigos e parentes no Brasil participando do " mais medicos".
    O garcom de um restaurante me disse que seus pais sao medicos.
    A mae estah no Rio Grande do Sul. E o pai no interior do Amazonas.
    Orgulhosamente me disse, apesar da saudade.

  • Meu filho e eu moramos em Brasília. Pago plano de saúde, mas ele, por princípio, decidiu usar apenas o SUS. Há pouco mais de um ano, com febre, moleza no corpo e outros sintomas, correu, pela primeira vez, para uma UPA nos arredores da cidade. Como lá os pacientes passam por uma triagem que obedece a uma escala que vai do mais urgente ao menos urgente, foi ouvido pelo médico em 5 minutos. Fez exames lá mesmo e foi, rapidamente, diagnosticado com dengue. Recebeu toda orientação necessária para o tratamento e a recomendação de voltar para o controle. Em uma segunda ocasião, sentindo dores na área dos rins, foi atendido, na mesma UPA, assim que chegou e diagnosticado com pedras minúsculas nos rins. Recebeu medicação e orientação de como eliminar as pedrinhas e já saiu de lá bem. Quanto a mim, com dores agudas na coluna cervical, fui a uma consulta em um cardiologista coberto pelo plano de saúde, que me atendeu após quatro, isso mesmo, quatro horas de espera e com quem falei por menos de 10 minutos. Como eu já tinha feito ressonância magnética, pegou meus exames para avaliar em sua própria casa, me prescreveu um remédio pra dor e um colar cervical. Dois dias depois, recebi um telefonema do secretário de um neurocirurgião desconhecido para mim, para agendar um horário com o objetivo de marcar uma cirurgia! É claro que mandei todos às favas. Sem alternativa, paguei caríssimo por uma consulta com um médico particular, que me diagnosticou com uma protusão e, após prescrição para eliminar a inflamação e a dor, me orientou a fazer sessões de RPG e pilates, tratamento certeiro.

    • Desculpem-me, onde está escrito "cardiologista" deveria ser "ortopedista".

      • Eles são máquina de fazer dinheiro, com exceções honrosas. Em 94 me indicaram uma cirurgia urgentíssima de neurinoma do acústico, não fiz e estou com ele até hoje (se tivesse feito ficaria surda). De vez em quando faço ressonância - ele está quietinho há 20 anos. Eu mesma cuido dele, rs.

  • Nada é perfeito,se tiver faltando remédios então deve-se cobrar,é o que se pode fazer não é ? é, e o remédio chega.
    Mas parece o seguinte que as pessoas querem tudo certinho,certo? errado!
    O mundo não é assim tão certo ou errado,
    Acontece que tem gente que torce para dar errado,e dá certo...

  • 2002.Inflação de dois dígitos,desemprego de dois dígitos,eu preocupadaço.Duas filhas e duas enteadas com idades entre 12 anos a 25 anos.Treze anos depois vejo com alegria três delas remando sozinhas,sendo que duas com mestrado e doutorado,e o melhor de tudo,seres humanos de primeira linha.A caçula ainda não se encontrou profissionalmente,mas já formada e preparada para a luta.Ontem ao ver um noticiário com discurso da Dilma,ela reclamou secamente:"Porquê vocês gostam tanto dessa mulher,do PT,de esquerda.Acho ridículo.".Fiquei mudo...

    • Nossos filhos mais jovens, especialmente os adolescentes como o meu, são assediados pela internet e formam sua visão de mundo pela internet, dá um trabalho danado reverter isso sem confronto, todas as vezes que há brecha.

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