Diz o dicionário Houaiss que troglodita é quem vive numa caverna e, por extensão, alguém “agressivo, violento e ameaçador”.
Bem, como Jair Bolsonaro vive no ambiente solar do Palácio da Alvorada, se me perdoam o pleonasmo, descarte-se a primeira acepção da palavra. Até porque Jair Bolsonaro demonstra pouco apego às cavernas de verdade, ambientes de alto valor ambiental que expôs à devastação assinando um decreto que autoriza a sua destruição para a construção de empreendimentos de “interesse social”.
Da segunda acepção, porém, não dá para dizer que não seja a mais perfeita tradução do sujeito.
A questão, porém, é se somos uma sociedade que quer escolher ser “agressiva, violenta e ameaçadora” e, portanto, escolher para liderá-la alguém que simbolize estes, digamos, “predicados”.
Quando Lula chamou de “troglodita” Jair Bolsonaro, hoje, na convenção petista no Ceará, não fez um xingamento, mas uma descrição do que ele de fato é mas que, sobretudo, simboliza.
Perdemos, em grande parte, o sentido da civilização, que se exprime no esforço e no respeito comum que são a base do progresso humano, resultado da ação coletiva de indivíduos que se viam, sem prejuízo de serem diferentes, como essencialmente iguais.
Inclusive os milhares de trogloditas que, na acepção original da palavra, vivem nas cavernas, nas neocavernas dos viadutos, das soleiras de lojas (as que não puseram espetos, para espantá-los), na dos papelões, trapos e barracas rotas que se amontoam nas ruas dos centros das metrópoles, ou ainda os que habitam milhões de barracos insalubres para os quais não há uma política de moradia que os resgate.
A liberdade não é uma pistola quer nos proteja dos famintos, de comida ou de justiça.
Inacreditavelmente, eles são mais civilizados que o habitante do Solar do Alvorada, porque não querem destruir, querem apenas sobreviver.
E nós, queremos sobreviver como sociedade civilizada, com um objetivo comum em que se inclua e fortaleça o objetivo dos indivíduos ou num faroeste onde as diferenças se resolvam a bala?