A documentação da barragem que se rompeu, levando destruição e morte ao povoado de Bento Rodrigues, em Mariana, traz informações mais objetivas e úteis ao descobrimento das causas do desastre do que as especulações sobre terremotos e outras que andamos lendo.
Por uma razão muito simples: a estrutura havia chegado ao seu limite máximo, a partir do qual deveria ser desativada, segundo os compromissos de licenciamento assumidos pela Samarco em 2008, quando da concessão da licença de instalação.
Segundo o Parecer Único da Superintendência Regional de Meio Ambiente, anexado ao processo 00015/1984/066 daquele ano, no projeto apresentado na fase de licença prévia era “prevista a implantação de 03 (três) diques no vale do Córrego do Fundão”, um para contenção de rejeito arenoso, e mais dois diques situados a montante (rio acima) para estocagem de lama”. E, segue o texto, “partindo da premissa que dos rejeitos gerados na mina da Samarco, 70% são rejeito arenoso e 30% correspondem à lamas, foi feita uma revisão do projeto, e a concepção inicial foi modificada a favor da eliminação de um dos diques, sendo instalado um dique para estocagem de rejeito arenoso e o segundo, para contenção de lama argilosa”. Ou seja, diminui-se a capacidade de estocagem de lama em favor da de rejeito arenoso.
O projeto aprovado passou a prever, então, uma represa que se estendia a partir da Elevação (cota) 850 até a cota 920 metros sobre o nível do mar. O tempo referido ao lado, retirada do parecer, é o de vida útil do barramento, isto é, a sua capacidade de receber resíduos até o esgotamento de sua capacidade. A previsão para que isso acontecesse, naquele licenciamento, era entre 2019 e 2020, quando se atingiria os 920 metros de elevação no dique, como está expresso na tabela 5 daquele documento.
O plano previa, assim, a desativação da represa, a cobertura da área de rejeitos arenosos usando a própria lama depositada na represa e o recobrimento vegetal da área.
Apenas cinco anos depois, em 2013, porém, a Samarco entrou com outro pedido, solicitando autorização para um Plano de Otimização da Barragem, que recebeu a Licença Certificado LP + LI Nº 197/2013 SUPRAM CM, no dia 17/12/2013. Embora a empresa tenha anunciado a elevação da represa até a cota 940 metros, não encontrei este valor expresso nos documentos, mas é provável que seja correto.
De qualquer forma, é isso que se depreende das razões do projeto constantes em novo parecer único, o GCA/DIAP Nº 121/2014, emitido em 28 de julho do ano passado, que trata das compensações ambientais:
A Samarco Mineração S.A. utiliza, atualmente, as barragens de Germano, Fundão e Santarém para a disposição dos rejeitos do processo de concentração de minério do Complexo Minerador Germano-Alegria. Essas barragens já estão com suas capacidades de reservação de rejeitos próximas do limite, o que acarreta a necessidade de viabilizar novas áreas para a disposição dos mesmos. A justificativa para o Projeto Otimização da Barragem de Rejeito do Fundão relaciona-se à continuidade das operações da Samarco para a produção de concentrado de minério de ferro (Pellet Feed) e, consequentemente, de rejeitos gerados nas Usinas de Concentração do Complexo Minerador Germano-Alegria. (os grifos são do Tijolaço)
Portanto, não é preciso ser nenhum especialista para dizer que, quatro anos antes do esperado, a carga de acumulação das represas já estava “próxima do limite” e mais próxima ainda só poderia estar mais de um ano depois.
Esta é a razão das obras de grande porte – na época do licenciamento, o valor estimado era de R$ 436.677.564,70, o que dá hoje mais de meio bilhão de reais – que estavam sendo realizadas.
A situação da Samarco era, aparentemente, de grande urgência na sua realização, porque o esgotamento da capacidade das represas implicaria na paralisação de sua planta de produção de pellets. É importante saber ainda qual era o nível de preenchimento da fase superior da barragem que, pelo vídeo do UOL do momento do acidente, foi a primeira a desabar.
Estas são as perguntas e situações que têm de ser esclarecidas, deixando os terremotos e explosões solares em segundo plano, caso se deseje fazer jornalismo.
12 respostas
Acho que o tijolaço, na figura do querido jornalista Fernando Brito terá um importante futuro papel no acompanhamento desta trágica situação aqui em MG. Não vejo por parte do PIG e quiçá dos próprios órgãos responsáveis por apuração e esclarecimentos, a mesma profundidade exposta neste blog…inclusive em futuras fases, qualquer tentativa de escamotear a realidade desta situação que parece estar muito além de uma fatalidade, terá o acompanhamento indignado de todos nós, através de todas as informações extremamente relevantes aqui postadas, parabéns!
Realmente Fernando, somos um pais de imbecis.
Acho que essa desgraça vai constar nos livro de história do PIG como mais uma praga egipicia.
A lava jato chegará a conclusão de que “supostamente” a culpa é do PT e que o Lula sabia de tudo.
Enquanto zé da justiça de omite em relação aos desmandos na milícia tucana em nome de um falso republicanismo que esconde uma guerra anti-Lulista, judiciário dá repetidas lições de “republicanismo”:
Isso lembra a Chevron Brito, vai dar em nada! !
Os juros, a dívida pública e os estratosféricos lucros dos bancos no Brasil (Mª Lúcia Fattorelli):
http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1961
Me ocorreu uma idéia absurda: já que a barragem ficou vazia, agora é só construir outra no mesmo lugar.
Absurdo, pode ser, mas fica mais barato pagar uma meia dúzia de indenizações que construir uma barragem novinha.
Multas ambientais, não haverão pois tem muita gente na folha de pagamento.
Site versão em Língua Inglesahttp://retaengenharia.com.br/en/segmento/mining/
Este blog ate o momento foi rico em tecnicalidades sobre o triste ocorrido em Mariana. Este tipo de tragedia eh recorrente no local faz tempo .As mortes ocorridas nao foram suficientes para aprendermos liçoes.O blog ate o momento calou-se em relaçao as responsabilidades do governador Fernando Pimentel.
Bronco Capiau,
você é bronco, capiau e burro. Fernando Pimentel é governador de Minas há 10 meses.
Até o ano passado Minas era governado pelo PSDB, ou seja, pelos tucanos.
Diga para nós onde foi que os tucanos fizeram coisa que preste?
As duas estruturas q se romperam estavam sendo ampliadas e as obras se iniciaram a pouco mais de tres meses. Fazendo continha simples chega-se a conclusao q jah estavam dentro do periodo de mandato do PT.Qual a responsabilidade do governador Fernando Pimentel nisso tudo? Ou os distintos mortadelas petistas acham q foi outra sabotagem dos coxinhas??
Então, seu bronco, o parecer de JULHO DE 2014 (governo Anastasia) dizia que as barragens já estavam muito próximas do limite. O que deveria ter feito o governador do teu partido? Parar as atividades da mineradora até que as obras necessárias fossem realizadas? Você mesmo informa que as tais obras começaram apenas há três meses, ou seja após um ano do parecer. É claro que o governo atual tem de responder sobre a fiscalização e o acompanhamento das obras sob seu mandato. Mas o que você está querendo é transformar a desgraça das pessoas em mais uma Lava Jato, cuja corrupção e desmandos começaram com teu partido e o PT é o culpado. Tome vergonha na cara; respeite pelo menos as vidas perdidas e o meio-ambiente danificado. A primeira culpa a ser apurada é a da empresa; ela é quem lucra com a mineração. mas é capaz de de ser perdoada pelo Judiciário, como fizeram com a Chevron.