As duas manchetes de O Globo, separadas por três anos, são dois momentos da tentativa perene de tentar mostrar que o Brasil estaria “quebrando” por descontrole orçamentário.
Estamos vivendo uma nova onda de terrorismo econômico, agora com o Governo gastando demais para que possa “entregar” – sim, a desfaçatez é tanta que usam essa palavra – o superávit primário, que é o pesado dízimo que o país paga pelos juros.
Os adoradores do tripé, como se poderia chamar aqueles que reduzem a vida de um país aos indicadores do chamado tripé macroeconômico – inflação, câmbio e superávit – estão vibrando com o resultado negativo das contas do Tesouro Nacional, que apurou, em setembro, um pesado déficit.
Isso, de fato, deveria ser motivo de um alerta fortíssimo, desde que houvesse ocorrido uma ou mais das três razões abaixo:
1) Redução continuada no recolhimento de impostos por desaceleração da economia;
2) queda na receita previdenciária, obrigando a ampliação dos subsídios estatais ao pagamento de proventos;
3) Elevação insustentável nos gastos não-compressíveis de custeio (pessoal e encargos);
Nenhum dos três fatores ocorreu.
A receita, mesmo com as crescentes desonerações tributárias, cresceu, idem a arrecadação previdenciária. O déficit de R$ 6 bilhões nas contas mensais da Previdência foi resultado da antecipação do 13°, houve o gasto eventual com a conta de compensação energética, acima de R$ 2 bilhões e transferências extraordinárias aos municipios.
Embora nenhum destes fatores permaneça, estejam previstas receitas extraordinárias – das quais o bônus de R$ 15 bilhões de Libra e o parcelamento do Refis são as maiores – e tenham sido tomadas medidas de corte no custeio da máquina pública – em geral o bloqueio de novas liberações, pois não se pode simplesmente “dar calote” no já contratado – a gritaria continuou, ao ponto de fazer o discreto Arno Augustin, Secretário do Tesouro, perder a paciência e dizer ontem à noite que “política fiscal brasileira está sob ‘ataque especulativo'”.
Mas é claro que está, secretário, como esteve até julho a inflação e, logo depois dela, o câmbio.
E se a cada ataque destes, “para recuperar a credibilidade”, o Banco Central dá mais um totozinho para cima nos juros, o ciclo da chantagem rentista, que já nos leva 5% do PIB, se fecha: guardamos mais, tirando dos serviços e investimentos públicos, para pagar mais de juros.
É o perde-perde para nós e o ganha-ganha para eles.
Mas, se resistimos aos ataques especulativos, frustramos esta gente e vamos adiante no sofrido e injusto dever de reduzir nosso endividamento, que os “adoradores do tripé” aumentaram vertiginosamente, embora produzissem superávits como ninguém.