Se o Brasil estivese normal, Aparecida derrotaria Bolsonaro

Minha família materna é do Vale do Paraíba (especificamente, da pequeníssima Conservatória) e, por isso, acostumei-me, já criança, a ver, em quase todas as casas as pequenas imagens, retalhos de azulejos com a Basílica (ainda a antiga) “Lembrança de Aparecida”. Ir a Aparecida era, talvez, a única viagem que a maioria dos moradores fazia.

O que se viu ontem, com a transformação em cenário de guerra bolsonarista do dia da Padroeira, se o Brasil estivesse vivendo tempos minimamente racionais, significaria que qualquer candidato estaria derrotado.

Vaias ao arcebispo quando este condenou a fome e o trabalho escravo infantil, ataques às equipes de TV por um bando uniformizado, até a própria entrada de Bolsonaro na Basílica, como se fosse um pistoleiro entrando num saloon do “Velho Oeste”, tudo era um verdadeiro “chute na santa”.

A coisa foi ao ponto de fazer o D. Orlando Brandes, o arcebispo, e o o padre Camilo Júnior, que celebrava uma missa dizer que o dia era de “pedir bençãos, não de pedir votos”.

Acontece, porém, que o Brasil vive uma espécie de “possessão idiótica”, no qual para evitar uma “ameaça comunista” que ninguém vê justifica-se ser tolerante com o que todos mundo está vendo: a transformação da fé numa arma de guerra.

Na qual nem mesmo as igrejas são territórios sagrados, nos quais os sacerdotes, se não falarem a língua do pretendente a Messias, são vaiados e intimidados.

Portanto, apesar do vilipêndio evidente que ocorreu ontem, há quem ainda acredite que seria Lula quem ameaça a religião.

Claro que algum prejuízo o episódio trará a Bolsonaro (e a Tarcísio de Freitas, no eleitorado interiorano), mas não a “eliminação precoce” que qualquer candidato teria com um episódio assim, se estivéssemos vivendo tempos normais.

Vencer esta anomalia é o que temos pela frente.

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