Séculos para trás na Educação

O próximo “grande projeto” do Governo está para ser anunciado, agora na área de Educação.

Calma. Não é um programa para ampliar ou melhorar as escolas, muito menos para apoiar a qualificação dos professores.

É a “escola do condomínio fechado”.

Que atende pelo nome de “homeschooling”, o ensino “em casa” para quem pode pagar por ele.

Como se fazia, nas famílias ricas, até o início do século passado, importando a tradição dos nobres europeus.

Gilberto Freyre, na sua Vida social no Brasil nos meados do século XIX, explica quem eram as preceptoras do “homeschooling” no segundo império:

[…] as preceptoras que os senhores de engenho mais ortodoxamente patriarcais da época – os que, não enviando as filhas para internatos das cidades, desejavam instruí-las em casa – anunciavam, nos jornais, precisarem para encarregar-se de tal ensino, eram senhoras que  soubessem iniciar as meninas no conhecimento da gramática portuguêsa, da geografia, da música, do piano; e que, também, as instruísse no conhecimento da língua francesa: não só no traduzir como no falar dessa língua.

Era, portanto, a maneira de deixar os meninos e meninas – estas, sobretudo – fora de qualquer convívio social que não fosse dentro das regras da “casa grande”, um isolamento ainda mais severo do que o dos internatos, onde entre os internos diferenças havia e a sua própria reunião dava margem a perguntas e contestações.

Claro que com os nossos nobres modernos, muito será diferente, não só o inglês no lugar do francês. Poderão aprender tanto ou mais conteúdo que nas escolas, porque para um, dois ou três alunos, talvez, não se precise  da solidariedade quee uma turma obriga no aprendizado, para que ninguém – ou poucos – fiquem para trás.

Essa será, aliás, a maior lição que aprenderão: a falta de solidariedade, de convívio, de tolerância, do crescimento coletivo e tudo o mais que a escola ensina, além de regência e fatoração.

Poderemos formar, assim, perfeitos monstros, egoístas, ambiciosos, sem outro mundo que não seja os seus próprios. Os meninos poderão ser príncipes e as meninas, princesas, desde que, claro, seus pais não sejam plebeus incapazes de pagar seus “personal teacher”.

Ah, sim. Esqueci de dizer que o preceptor moderno terá outra desvantagem diante de seus antecessores d’antanho.

Nem mesmo a instituição escola servirá para diminuir o poder do “papai pagou”. Serão empregadinhos que –  as crianças, espertas, terão certeza disso –  não poderão contrariá-los ou repreender, sob pena de perder o emprego.

Não duvido, nessa toada, que a alguns revistem a bolsa antes de saírem.

Fernando Brito:

View Comments (22)

  • Pode ser ainda pior: na falta de condições de pagar um professor particular, muitos pais enviarão seus filhos às... igrejas, as quais já estão ávidas por doutrinar as crianças. Não, espera, quem "doutrina" não são os "professores comunistas"? Xiii...

    • Ou fascista como é o governo do Bozo. Um horror pra o Brasil e o mundo!

  • Em termos de educação, isso é muito ruim para os filhos das famílias ricas, que terão seu universo social e intelectual limitados.
    Para os que não podem pagar preceptores, as coisas serão ainda piores.
    Minha convicção é de que esse projeto tem como principal objetivo ir, aos poucos, desativando as escolas públicas. Com a desculpa de falta de recursos, as escolas vão ser sucateadas, professores e funcionários não serão contratados, até que todo o sistema de ensino público esteja extinto.
    Ai, como já adiantou a Viviane, as igrejas evangélicas vão tomar o lugar das escolas. E a intenção final é transformar o Brasil em uma teocracia.
    MAS SE DEUS(*) QUISER, ESSES PLANOS VÃO RUIR.
    No caso, não se trata de um Deus vinculado a uma religião específica, mas da força positiva do universo que une tudo e todos, seja ela qual for.

    • Concordo com sua análise.

      Só acho que, no limite da tentativa de “teocratizar” o ensino básico, os pais mais endinheirados acabarão optando, ainda, por escolas que mantenham a capacidade de ensino crítico e de desenvolvimento psicomotor dos seus filhos.

      Enquanto que, as famílias mais pobres, se verão obrigadas a ingressar suas crianças na “Igreja mais próxima de vc”, pela falta de instituições de ensino público (com vagas disponíveis na sua região).

  • Você esqueceu uma coisa importante, deverão ter aulas de defesa pessoal e, com certeza, tiro. Precisam aprender a se defender e subjugar a plebe.

  • Todos os defeitos achacados ao "novo" projeto dos asnos em nada muda o resultado que já acontece hoje.
    Onde estudaram os quadrilheiros da farsa-jato ?,as macarenas da vida ?,os delegados pfelianos de índole duvidosa ?os trf4 da toga semvergonha?os stf? onde conseguiram esses ares de casta superior a quem todos os mortais lhes devemos obediência e servilismo ???
    Eles sempre serão minoría ,me preocupam as maiorías ,o que eles são levadas a pensar ,a sua falta de consciência política,espirito de classe ,falta de questionamento ,desprezo pela sua própria evolução.
    É aí que temos que focar, não serão os habitantes das gaiolas de cristal que dominarão um povo ciente da sua condição.

  • Pior é saber que alguns professores, face aos ridiculos salários pagos no ensino tradicional, aceitarão serem "preceptores" para ganhar um valor melhor e, por isso, se submeterão a coisas impensáveis.

  • Vai ser interessante os donos de colégios perdendo seus alunos...

  • Para quem combatia a mamadeira de piroca com tanto ardor e empenho, nada mais natural do que substituí-la pelo ensino aos pés do erasta...

  • Não tenho o menor otimismo em relação à essa homeschooling, mas vejo que pode ser um tremendo tiro nos pés por parte das elites. Vivemos num mundo, em tempos de internete, em que é tecnicamente impossível encapsular-se em casa ou nos salões paroquiais. Mas isso ocorrendo com alguns grupos, eles estarão automaticamente fora do convívio social. Algum poder, hegemonia ou influência poderá vir de grupos assim? Aliás, a molecada vai aceitar? Ou os pais e pastores nunca ouviram falar em rebeldia juvenil... O mundo vai parar para esperar pela formação destas elites idiotizadas? Os professores e professoras conhecem muito bem a energia da molecada. Estes acham que os rebentos elegidos vão ficar olhando o mundo lá fora sem contestação? Viva a juventude e sua irresistível e saudável rebeldia! Ninguém os segura!

  • Domingo, 7 de abril Lula faz um ano de prisão em Curitiba. Lula Livre já!

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