Transição começa bem, mas há espinhos nas rosas

Avaliar o périplo feito em Brasília por Geraldo Alckmin, em nome do novo governo, passa por uma preliminar , que o ex-governador de São Paulo conhece bem.

E não é a de que ele não pode assumir decisões no lugar de Lula mas, acima disto, que ninguém assumirá compromissos com ele, sem que sejam ratificados pelo próprio presidente eleito.

Sobretudo dos personagens dos quais Lula sabe que, neste momento, precisa: Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, sem os quais não há a menor possibilidade de se chegar à aprovação ainda este ano do que já está sendo chamado de “PEC da Transição”, que reformaria o Orçamento para que o rebatizado Auxílio Emergencial de R$ 600 e outras despesas necessária a que o novo Governo já entrasse honrando seus compromissos de campanha.

Só com o empenho pessoal de ambos – empenho total, não um mero apoio – há condições para que isso prospere e tramite no prazo curtíssimo de cinco semanas até o recesso de final de ano e é evidente que Lira e Pacheco vão cobrar caríssimo por isso. Muito mais que uma simples neutralidade do PT na eleição para a presidência da Câmara ou o já delineado apoio ao segundo na recondução ao cargo de presidente do Senado.

A primeira rodada de negociações entabulada por Alckmin, embora muito positiva, nada garante nestas duas negociações, até porque nem Lira, nem Pacheco querem apenas isso.

(Um parêntesis: pena que a nossa constituição não designe, como fazia a antiga e faz, ainda hoje, a dos EUA, designando o vice-presidente como presidente do Senado, o que dá ao presidente um emissário forte e formal na relação com o Legislativo)

Tanto que, certamente plantada com a anuência de um deles, circula a ideia de deixar a reforma do Orçamento para 2023, obrigando Lula a usar remanejamentos (de resto, quase impossíveis, com as verbas já miseráveis de outras dotações) e a ver seu governo “pendurado” na urgência de aprovar uma PEC “do almoço para pagar a janta”, a toque de caixa.

Lula terá de fazer política com fatos e um destes fatos é que não recebeu de nós uma bancada numerosa o suficiente para se impor, sem muitas condições, à maioria conservadora do parlamento.

Mas as raposas do Legislativo sabem que, ao contrário do que faziam com um presidente amorfo, desta vez têm de se relacionar com alguém que sabe e quer jogar a política com as pedras de opinião pública.

Lula, pela mão de Alckmin, fez o primeiro movimento e colocou a “PEC da Transição” como a pauta central do seu jogo político, deixando a seus contendores a amarga posição de terem de, na prática, concordar ou assumir a responsabilidade de frustrar o anseio público por auxílio, salário mínimo em alta, farmácia popular…

Agora, pessoalmente, mostrará que está disposto a reciprocidades.

A reação do senador Renan Calheiros, dizendo que foi “uma “barbeiragem” a proposta, é sinal de que há possibilidades de um acordo com seu arqui-inimigo Arthur Lira.

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