Três anos atrás, a pergunta que hoje está evidente: “Onde está a CIA? Fechou?”

ciahall

A Cláudia Ferreira, sei lá porque, marcou no Facebook um texto que escrevi num 23 de junho, como hoje, mas há três anos atrás, por conta do nono aniversário da morte do Brizola.   Curioso, fui ler o que tinha escrito. Já são 12 anos, agora, e não tenho uma linha a mudar.

Brizola: “Onde está a CIA? Fechou?”

No Tijolaço, em 23/6/2013

Anteontem, completaram-se nove anos da morte de Leonel Brizola.

A velocidade dos acontecimentos impediu-me de falar dele, com quem convivi quase diariamente,  desde 1982 até seu último alento, no Hospital São Lucas, em 2004.

Em cada um destes dias, divergimos e concordamos e devo a isto o que sou, hoje.

Nada, na vida, me foi mais emocionante que soltar as lágrimas contidas pelo dever quando encontrei meus filhos, na calçada da Rua Pinheiro Machado, silenciosos, me abraçarem pela perda que eu próprio não admitia tão profunda.

Eu não devo a Brizola o que eu sou, mas  devo, e com sobras, o como sou.

Aprendi com ele que a verdade é a nossa força. Aprendi que as palavras devem ter um ritmo, uma melodia, mas que ela jamais deve ser o veículo da mentira.

“Eu uso as palavras para expressar, não para esconder meus pensamentos”, frase dele que me ficou como bússola e ficará sempre.

Perdoem-me o que possa soar piegas, mas devo essa homenagem ao velho. E devo a ele, também, o aprendizado possível a quem, ao contrário dele, tem ojeriza à “realpolitik”.

Tenho dúzias de episódios a recordar, mas escolho o que mais tem a ver com o nosso momento.

Todo mundo achava, inclusive eu, que era meio “folclórica” a recorrente insistência de Brizola em achar que o jogo de poder internacional também era jogado aqui:

– Ninguém mais fala na CIA. Parece que até que ela fechou. Se foi isso, eu não entendo porque ela tem  aquele orçamento, enorme, de bilhões de dólares? Será que não sobram uns trocados para ela aplicar no Brasil?

Claro que, no princípio, eu achava que aquilo era uma manifestação do tipo “teoria conspiratória”.

Natural, eu era um guri, recém-saído do movimento estudantil e do PCB – favor não confundir com Roberto Freire – e não tinha visto a ação do IBAD e dos dinheiros americanos na deposição de João Goulart.

Devo ter sido um dos milhões de ingênuos que não percebeu o que os documentos históricos desnudaram: a ação direta dos interesses americanos na deposição de um governo democrático e progressista no Brasil e na destruição de tudo o que se opunha ao golpe que nos levou a isso.

Um tolo, portanto, que achava que as ruas e a correlação de forças internas era o que tudo determinava e decidia.

Hoje, sob o peso do tempo que dói no corpo mas não verga a alma, se não nos acomodamos e aburguesamos como tantos fazem, posso compreender melhor.

A importância geopolítica do Brasil só não é enorme porque enorme não é um adjetivo suficiente para descrevê-la.

À parcela dominante do mundo capitalista não interessa que o Brasil tenha um governo forte, capaz de defender, soberanamente, seus interesses e sua visão global .

Deram tapinhas nas costas a Lula por sua originalidade e sucesso mas, no fundo, tal como nossas elites escravocratas, nunca deixaram de querer reduzir “aquele paraíba de m…” ao seu “devido lugar”.

E o nosso lugar é o de servos, embora uma casta de dirigentes do entreposto colonial goste e creia que é “cosmopolita”  e que o mundo é, de fato, uma “aldeia global”.

Não somos uma aldeia, somos porque somos uma potência imanente e iminente.

Ninguém se atreveria a dizer que os EUA são parte de uma “aldeia global”, não é?

Pois eles são os reis do globo ( sem trocadilho)  e, mesmo fracos, impõem seu poder ideológico – e, na falta dele, o militar – sobre , de novo sem trocadilho, o globo terrestre.

Devolver o Brasil à condição de coelho amedrontado é uma prioridade. Afeganistão, Iraque e as escutas cibernéticas mostraram que, embora presididos por um negro, os EUA não deixaram de ser o que são.

A pergunta, agora, é: deixaremos de ser o que recentemente nos tornamos: um país que mira a justiça social, que é altivo, admirado, respeitado e necessariamente considerado no contexto mundial?

É possível, pela via do golpe midiático complementado pela legitimidade eleitoral, fazer-nos, outra vez, tirarmos os sapatos para prestar nossa vassalagem à corte?

Velho Briza, valeu. Obrigado pelas respostas às dúvidas que hoje são certezas.

Muito mais que a sabedoria, o que nos engrandece é o aprendizado.

Espero que Dilma Rousseff, que encontrou nele as referências de sua ação, malgrado os desencontros de conjuntura, tenha sabido absorver as lições profundas que ele nos deixou.

E que este Tijolaço não trai nem esquece.

 

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10 respostas

  1. Um filósofo grego já dizia “A gratidão é a memória do coração”. Acrescento e de quem tem caráter, e o Brizola merece.

  2. Laura bergamo voce é um troll um merda vai procurar uma rola seu bosta. Nao sei porque o dono do blogue te tolera. Está dando cartaz de graça pra uns nerdas pagos pela direita achando que está praticando democracia. Posso aconselhar a ele alguns livros de história sobre a ascensão do nazismo na alemanha pra aprender o que não é democracia. Pura sindrome de estocolmo do blogueiro. Wuanto a voce pseudonimo bergamo vai trabalhar vagabundo.

  3. Fernando Brito, os seus textos eram maiores, os de hoje têm o tamanho mais adaptado à internet: curtos, rápidos, diretos.
    Ler seus escritos é emocionante. Parabéns.

  4. Fernando Brito, os seus textos eram maiores. Agora estão mais adaptados à internet: curtos, rápidos, diretos.
    Ler seus escritos é emocionante.
    Parabéns.

  5. “… sob o peso do tempo que dói no corpo mas não verga a alma…”.

    Brito, gostaria de avisá-lo que, não sei o dia e nem sequer a hora, vou assaltá-lo com um poema em riste.

  6. O vídeo de Tassia e a piscina de ratos
    .
    Hildegard Angel
    .
    Publicado em 12/06/2016
    3

    http://www.hildegardangel.com.br/

    Tassia combativa e sempre ascendente, no pensamento e nas causas

    A atriz Tassia Camargo está sendo alvo de perseguição pelos blogs marrons, que a rotulam de “decadente”, por se posicionar a favor da Presidenta Dilma no episódio do corte da verba de suprimento do Palácio da Alvorada.

    Tassia gravou um vídeo que se espalhou “feito rastilho de pólvora” pedindo doações em comida para o Alvorada enquanto durar esse corte. Por isso é desconsiderada desse modo grosseiro.

    Com um longo currículo de trabalhos realizados, Tassia é muito querida e respeitada no meio artístico, onde se destaca também por seu desassombro em abraçar causas que mobilizam a sociedade – e não nos ocorre que isso seja proibido ou criminalizado no Brasil. Pelo menos por enquanto.

    O apelo de Tassia é perfeito e oportuno. Se se corta a verba de suprimento do palácio não há comida, óbvio. Nem pra Dilma nem pra ninguém no Alvorada. Ela terá de pagar com recursos pessoais para si e todos que servem ao Alvorada e no Alvorada. Ou então pedir ao pessoal que leve marmita de casa, o que não é tradição dos palácios, muito menos quando os funcionários dormem no local do serviço. Um contra senso, uma mesquinharia, enfim, perseguição e falta do que fazer.

    O governo provisório parece agir inspirado naquele grã-fino paulista, barrado no Harmonia, que de vingança furou um buraco no muro da casa vizinha e introduziu no clube, por aquela passagem, milhares de ratos vivos, além de alugar um helicóptero e jogar na piscina do clube centenas de ratos mortos.
    Fará também assim o interinato até obter o Alvorada pra si?

  7. A Cia matem conluios separados para proteger os seus aqui dentro. Em certos casos nem da bola para as forças. So quando interessa a formalidade.

    Rola grana e comissão por vendas de equipamentos.

  8. “Na minha opinião é essa visão de que os EUA são um gigante opressor e contra o desenvolvimento de outros países é totalmente equivocada”.

    Se você se dispusesse, um pouquinho só, Sr Welson Jesus, a deixar de lado o PIG (Globo, Band, Veja, Istoé, Exame, Folha, Estadão, ZH, etc) e buscasse informações mais fidedignas, não estaria escrevendo isso.

    Sugiro, então, que dês uma olhada nos textos de Noam Chomsky, James Petras, Howard Zinn, Stephen Lendman, William Blum, Michael Parenti, Tom Engelhardt, entre outros.

    Todos eles são intelectuais nascidos nos EUA e, portanto, insuspeitos de padecerem de ódio irracional a seus país. Lendo-os, eu garanto que, para além da espessa cortina de fumaça que a propaganda coloca à frente de nosso olhos, você passará a enxergar como se dão as relações de poder entre as nações.

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