Um Supremo covarde só toma decisões covardes

Assisti, em detalhes, o julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre a venda, já realizada, da Transportadora Associada de Gás, que pertencia integralmente à Petrobras – para a Engie (ex GDF Suez, ex-Tratecbel, semiestatal  francesa.

Foi um espetáclo vergonhoso de covardia, ainda que tenha sido referendada, em parte, a liminar do ministro Ricardo Levandowski que sustava a operação, a conclusão do julgamento foi pífia.

Decidiu-se, por maioria, o óbvio, que não estava em causa: de que para extinguir, por alienação, empresa estatal criada por lei específica era necessaria lei que o autorizasse.

Nem para o óbvio houve unanimidade.

Mas daí em diante, só absurdos.

Uma estatal só pode constituir subsidiárias mediante lei que o autorize. Mas, segundo o entendimento da maioria dos ministros, pode vendê-la sem lei que o autorize.

Portanto, se uma estatal transferir para subsidiárias toda a sua atividade, ela pode ser vendida sem autorização legal.

Pior, porém foi a conclusão sobre se é exigida licitação pública para sua venda.

O STF inovou criando a figura da “competitividade” que deve ser exigida.

Existem na lei as formas licitatórias que asseguram a competitividade, conforme o valor e o tipo da compra ou alienação: concorrência; tomada de preços; convite; concurso e  leilão.

A lei das licitações diz claramente (Lei 8.666, art. 22, & 8°) que “é vedada a criação de outras modalidades de licitação ou a combinação das referidas neste artigo”.

Uma decisão que fale em “competitividade” e não se refira à lei que a define é uma anomalia intolerável.

Vira uma competitividade subjetiva, sem normas, sem o respeito a regras pré-definidas, uma verdadeira “legalidade de varejo”.

Depende do que está sendo vendido, depende do que o “mercado” quer.

Em nenhum momento dos três dias de julgamento foi lembrado que a Lei do Petróleo ( Lei 9.478) que diz que são monopólio da União “o transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e de gás natural”.

Portanto, da entrega de uma concessão pública, não do comércio de  abacates ou bananas.

Foi assim que o Supremo os tratou, por falta de quem dissesse que a entrega do gás é algo que compromete a própria extração do petróleo.

É como se a consciência jurídica dos ministros, a escolher, sejam como abacates ou laranjas.

Fernando Brito:

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  • Quando se pensava que o Supremo estava recuperando a razão, ele vai e surta novamente. Parece um alpinista que não consegue chegar ao topo, porque escorrega e fica preso pelas cordas, seguidamente. Será mesmo o medo? Será mesmo a tal da chantagem? Enquanto isso, aumenta o risco de despencar tudo pelo abismo abaixo. Vamos ver se ainda dá para começar tudo de novo.

  • Não adianta, essa gente faz parte do GOLPE. O golpe é made in USA e ninguém brinca com os americanos - recebeu tem que entregar. Com essa corja aí a democracia, o estado de direito e o próprio Brasil estão destruídos.

    • Precisamente. O mulo-sem-cabeça e seus acólitos acéfalos são apenas subalternos, desfilando com roupas de "gerente", mas com a missão precípua definida de antemão e metas para cumprir, bem ao gosto do neoliberalismo financeiro. O resto serve para sedação de bovinos e venda no mercado de notícias.

  • Só com uma guerra civil ou dividir o país em dois ou três para consertar o estrago. Esse pacto de covardes com achacadores estabeleceu que o governo deve ser diminuído ou extinto para a maioria da população e só atender aos interesses da elite custe o que custar. Anos e anos de bombardeio ininterrupto da mídia contra o PT e as esquerdas em geral e o ode à mediocridade pelas TVs e rádios moldaram uma parte da população tão cretina, que será impossível fazer frente ao desmonte apenas com mobilização nas ruas.

  • Não há comentário possível para um poder que já ruiu faz tempo e só serve para referendar os retrocessos impostos pela elite do atraso.

    • Sem dúvida, o Brasil vive uma situação de anomia. No improviso de última hora, os golpistas locais pensaram colocar um fantoche na Presidência mas a coisa não funcionou. O fantoche tosco não deu um bom capataz.
      As mãos de gato de Trump e Steve Bannon desapareceram rapidamente (rápido como quem rouba) após a eleição mais manipulada da nossa história.
      O fantoche tenta dar um "bypass" na elite colonial para se conectar diretamente à plutocracia da metrópole (EUA). Por isso, as turmas da FIESP e do agronegócio estão se ferrando caladinhas. Apenas murmuram queixas, mas, como bons colonizados, não ousam levantar suas vozes contra o poderoso Tio Sam. A conspiração é subterrânea, silenciosa.
      A dúvida hoje é apenas QUANDO será dado o bote para a deposição do títere trumpista. Até o próprio fantoche tem consciência de sua transitoriedade no cargo.

    • Recebi ano retrasado um post no WhatsApp onde o crucifixo tinha sido substituído por uma imagem de Baphomet. Contestava justamente isso. E mesmo que nós fossemos um estado cristão... como deixar uma imagem de Cristo num ambiente onde aparentemente o demônio reina?

  • “...Em nenhum momento dos três dias de julgamento foi lembrado que a Lei do Petróleo ( Lei 9.478) que diz que são monopólio da União “o transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e de gás natural”. o que nos resta então é uma ADI baseada na lei 9478. Porque se isso não for feito, Guedes e associados transformarão as “matrizes” das estatais em meros escritórios, e o restante em ‘subsidiárias’, passando adiante para qualquer um, de qualquer jeito, por qualquer preço. Essa decisão do STF é criminosa, fere de morte a Soberania Nacional, passando para escroques o petroleo brasileiro, nosso solo, nossa energia duramente obtida com empreendimentos colossais como Itaipu, estradas, até o Palácio da Alvorada, como Guedes prometeu a empresários americanos. Não tenho certeza se sobreviveremos a isso.

  • Além da covardia está a impunidade , quem vai puxar as orelhas de suas excelências ?. Quem vai investigá los ?., Essa conversa de jogar para biografia e para história os covardes e traidores da pátria e pura balela , o importante para eles é o que capitalizaram , mantendo a sua descendência no topo da elite . O STF como está e como por diversas vezes esteve não tem a dignidade e altivez e o compromisso com o Brasil , representam e defendem o ditator de plantão . Ali todos tem seu preço .

  • Sinto que estou no meio duma guerra de INFORMAÇÕES e de malícias ideológicas.

    FATO - as leis no BRASIL são feitas nas coxas e em profusão ..e o judiciário, quando chega (se não estiver de licença) chega tarde, falhando, ou PIOR, legislando.

    EM bom economês ..EVIDENTE que desde a criação duma empresa (subsidiária ou não) até seu amadurecimento, MUITAS COISAS acontecem, inclusive com a danada podendo virar monopólio e reguladora setorial, detentora de importante arsenal tecnológico ou de atrasos antolópgicos, e por aí vai. ÓBVIO ainda que qq venda devesse respeitar princípios como o da RESPONSABILIDADE no trato com a coisa pública e a garantia pela salutar disputa e concorrência nos processos que envolvem recursos públicos.

    mas ..no "juridiques" ..do que li, INÚMERAS subsidiárias da Petrobrás, atendendo a diversos interesses que SEQUER sabemos ser republicanos, exceção TRANSPETRO, foram criadas sem a necessidade de lei ..logo, garantem alguns, não se deveria, "por analogia", que nestes casos se exigisse da lei pra se desfazer do bem ..convenhamos, uma inocência maliciosa feita sob medida, e repetida da forma mais DESAVERGONHADA ainda.

    https://www.portosenavios.com.br/noticias/geral/lei-do-petroleo-autoriza-a-venda-de-subsidiarias-avalia-petrobras

    Interessante notar que o remendo feito por este sTF, inamovível e vitalício, POR COVARDIA, adoçou a medida com um termo NADA afeito ao direito, qual seja, que se exija doravante a devida "competitividade" no pleito

    ..oras, francamente, estou pra conhecer uma melhor medida de "competitividade" que não seja a tão e boa velha concorrência licitatória, aonde as regras DEVEM ser expostas de forma transparente e objetiva.

  • Já dizia o nosso rei lá atrás... Um supremo acovardado. As duas instituições que por natureza, mais deveria zela por nossa soberania, são em verdade, as que mais nos entregam a nações outras, falo das forças Armadas e do Supremo Tribunal Federal.

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