Vacina não é brincadeira de criança

Respondendo a uma “blogueira-mirim” devidamente instruída pelo próprio Jair Bolsonaro, o general do Ministério da Saúde, Eduardo Pazuello disse que “em janeiro do ano que vem, a gente começa a vacinar todo mundo”.

Assim todos esperam mas, infelizmente, não é tão simples com uma vacina (ou com várias vacinas) sobre as quais não se tem, ainda, certeza da eficácia.

Tanto não é simples que a descoordenação do Ministério da Saúde é uma das principais razões da queda para 51% da aplicação de vacinas já existentes e confiáveis na população infantil neste ano, quando o ideal para bloquear a transmissão é acima de 90%.

É a primeira vez desde antes do ano 2.000 que isso acontece.

Mais complicada ainda porque, em todas a experiências conduzidas até agora, as vacinas são de aplicação em duas doses e a taxa de abandono da reimunização de dupla dose no Brasil aumentou muito, como diz a Folha:

Em algumas regiões do país, a desistência entre doses vacinais é ainda mais preocupante. Em Goiás, o abandono cresceu 99,2% de 2015 para 2019. No Distrito Federal, o aumento de quem larga o esquema vacinal chegou a 69,2% no mesmo período. O crescimento da taxa de abandono entre doses de imunização tem preocupado cientistas no contexto da pandemia de Covid-19. Das 33 vacinas para a doença causada pelo novo coronavírus em testes clínicos no mundo, 29 exigem pelo menos duas doses de imunização.

Aliás, a falta de seriedade no trato desta questão é evidenciada pela própria a atitude do Governo, seja com a transformação do problema em exibições como a da menina que faz o papel de “repórter” sem perguntar onde estão os programas para que aconteça a vacinação, sobre a garantia de recursos para que ela aconteça, sobre a ordem de prioridades que deverá obrigatoriamente ser cumprida e sobre a atitude de um presidente que trata-a como um “toma a vacina quem quiser” e não um “todos devem tomar, porque a eficácia da vacina só é forte se toda, ou praticamente toda a população se imunizar”.

O Brasil tem capacidade e conhecimento acumulado para fazer com sucesso uma campanha rápida e bem sucedida de vacinação em massa. Há muitas décadas as faz, mas nunca enfrentando o ceticismo e o negacionismo de seus governos, como acontece agora, com o presidente da “gripezinha” e do “histórico de atleta”.

O primeiro passo para que o faça, de novo, é a seriedade da ação do poder público, que não pode deixar de ter um comitê nacional de acompanhamento do resultado dos vários imunizantes que estão em perspectiva, notadamente a Sinovac, chinesa, a Pfeizer, a Astrazêneca-Oxford, anglo-americana e a Sputnik V, russa, cada uma delas patrocinada por governos e empresas e envolvendo bilhões de dólares em compras em escala mundial.

Não é, portanto, uma questão a ser tratada em uma “Sessão da Tarde” e muito menos num clima de programa de auditório.

PS. Enquanto escrevia, noticiou-se que a Asrtrazêneca-Oxford suspendeu mundialmente os testes com a vacina, por uma reação adversa que, até agora, não se sabe qual e quão grave foi. Um prova a mais que o país precisa de um comitê científico que avalie esta corrida pela vacina, que não pode ser regulada apenas pela responsabilidade dos laboratórios.

 

 

 

 

Fernando Brito:
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