Veríssimo: um país que apatifaram

Tristemente magistral Luís Fernando Veríssimo, em sua coluna de hoje, n’O Globo:

‘Apatifar”, nos diz o “Aurélio”, significa tornar desprezível, aviltar, envilecer. Pessoas se apatifam, nações inteiras podem se apatifar, ou serem apatifadas. O mundo hoje vive uma assustadora onda de contágio viral que, espera-se, acabará controlada ou, eventualmente, desaparecerá. Já patifaria não mata, mas também contagia, com a diferença de que não tem nem perspectiva de cura.

É impossível observar o Brasil de hoje sem a sensação de estar assistindo a uma pantomima tragicômica, a decomposição de um Estado que, dissessem o que dissessem de governos anteriores — inclusive os lamentáveis —, mantinham, pelo menos, a linha, o que é mais do que se pode dizer da atuação de Bolsonaro & Filhos no palco do poder.

Agora se entende por que Bolsonaro insistia em dizer que não houve um golpe em 64 nem uma ditadura militar nos 20 anos seguintes: ele queria montar o seu próprio regime militar, enchendo o Planalto de generais de fatiota que deixam seus tanques no estacionamento e entram pela rampa principal, rindo da gente. Implícita nessa original tomada do poder está a ideia imorredoura de que só uma casta iluminada, os militares, sabem governar um país.

O apatifamento de uma nação começa pela degradação do discurso público e pela baixaria como linguagem corriqueira, adotada nos mais altos níveis de uma sociedade embrutecida. Apatifam-nos pelo exemplo. Milícias armadas impõem sua lei do mais forte e mais assassino com licença tácita para matar. Há uma guerra aberta com a área de cultura, e a ameaça de um retrocesso obscurantista nas prioridades de um governo que ainda não aceitou Copérnico, o que dirá Darwin. Aumentam os cortes de gastos sociais, além de cortes em direitos históricos dos trabalhadores. Aumenta a defloração da Amazônia. Aumentam as ameaças à imprensa.

E aumenta a suspeita de que na Universidade de Chicago o Paulo Guedes só assistiu às aulas de bobagens para dizer caso a economia não deslanche.

Fernando Brito:

View Comments (25)

  • Engrossa o coro dos descontentes nos setores conservadores do país. Parece que muitos já se decidiram a partir para a solução Mourão. Também sou partidário dessa solução. Creio que o pior para o Brasil é a continuidade do Bolsonaro e de seu governo apatifado.

    • Ate acho q Mourao mandaria todos generais do governo e se cercaria de civis

      • Se Mourão não tem voz ativa nem para o Capitão-Facista, imagine para uma horda de Generais-Pijamas sedentos de poder e de auto-afirmação!

    • LFV nunca foi um conservador! Muito pelo contrário! E segue sendo um cronista excepcional!

    • Se temos um Capitão-Patife no poder imaginem um General-Patife. Mudar para Mourão seria escolher entre o fogo e frigideira. O que os brasileiros precisam é de vergonha na cara.

    • Mourão também é autoritário. A política econômica continuaria a mesma e os militares continuariam no comando.

  • Bozo trouxe a zona do meretrício para a sala de estar. Mas ele é "religioso".

  • Somos um povo de " armário " , nada é novo ou estranho , de norte a sul do país temos a direita e a extrema direita . O que de mais novo tivemos foi um período de governos petistas .De onde se tirou muita gente do " armário " , aonde não tinha voz e vez . E fez surgir o ex pobre de direita .

  • O guedes é igualzinho ao resto. É do time da patifaria. Tira tudo que pode dos pobres e dá aos ricos e por isso é apoiado.
    Há que se destacar o amor da grande mídia ao governo bozo: já esqueceu completamente a grosseira ofensa a uma de suas jornalista. O assunto evaporou. Isto é que amor, perdoa tudo, e rápido.

  • Quem deu o chute inicial não foi o bozo, Foram os golpistas que aí estão firmes e fortes.
    Destroem o país, destroem um país apatifado.
    Golpistas canalhas, sem saber são bolsonarianos históricos.

  • Ler Veríssimo faz-me lembrar que muita gente "boa" odiou ver o país avançar.
    Que já nos primeiros meses de 2003 numa clínica de fisioterapia ou mesmo num tribunal federal aqui em Floripa, já falavam mal, propunham impedimento e até a morte de Lula. Esse último denunciei à PF.
    Jô Soares em 2005, foi prá cima de Lula com "as meninas do Jô" ao tratar do "mentirão" todas 4ªs-feiras.
    Jornalistas, intelectuais, professores doutores das federais e das privadas, empresários, militares, juízes, servidores e etc. e por fim, muitos familiares fizerem o mesmo.
    Hoje, felizmente, os meus parentes invejosos, racistas e golpistas seguem pro brejo, aceleradamente.
    Não era só tirar a Dilma e o PT?

  • A dessensibilização da humanidade é um projeto e não começou aqui. Atinge prioritariamente as crianças e os jovens. E esse (des)governo é professor exemplar na matéria.

  • Veríssimo e outros com seu prestígio e penetração na sociedade brasileira, também têm sua CULPA nesse processo. Foi tímido, titubeante, dúbio, frouxo, durante o longo período em que a democracia foi sendo destruída. Mesmo agora, em sua crônica, faz questão de citar "os erros que possam ter cometido" os governos anteriores. Isto é uma forma de "passar paninho" no lavajatismo.

    • Concordo.
      Tem que dar o papo-reto: Isso é fruto de um Golpe de Estado.
      E quem se calou tem que pedir desculpas, para começar. Cada um tem que assumir sua responsabilidade nessa bagunça e começar a arrumar a casa.

    • Me desculpe, mas você demonstra que não conhece o Luiz Fernando Veríssimo. Eu acompanho seus textos há décadas. Ele sempre criticou o neoliberalismo. Sempre se posicionou. Nos anos FHC ele era a única voz dissonante na mídia pois ousava criticar o governo e sua política econômina, usando brilhantemente o humor para isso. Tinha liberdade para fazê-lo até no Globo, porque ter seu nome no time de colunistas do jornal dava prestígio. Nunca se omitiu.

      • Concordo plenamente. Veríssimo praticou a crítica a governos, políticos e politica econômica, com absoluta genialidade. Quem não lembra da inesquecível "Velhinha de Taubaté", ainda nos tempos do governo Figueiredo?

Related Post