Vermes na academia

Entrei na universidade nos anos 70, em plena ditadura militar.

Nem naqueles dias seria imaginável que uma instituição de ensino, que goza de autonomia, abrisse uma sindicância para investigar o lançamento de um livro de seus professores.

Muito menos que se prestasse a interroga-los sobre se houve “manifestações de desapreço e contra o Presidente Temer e integrantes do poder judiciário-MP?”, como consta do questionário enviado aos professores Gilberto Maringoni, Giorgio Romano e Valter Pomar por uma “Comissão de Sindicância Investigativa” da Universidade Federal do ABC, onde lecionam,  por terem lançado o livro “Lula – A Verdade Vencerá” dentro da universidade.

O livro, lançado com tiragem de 30 mil exemplares – imensa, para os padrões do mercado editorial brasileiro – e já traduzido para outras línguas, como você vê na imagem da vitrine de uma livraria italiana – é, na essência, uma longa entrevista concedida por Lula aos jornalistas Juca Kfouri e Maria Inês Nassif, ao professor Maringoni e à editora Ivana Jinkings, fundadora e diretora da editora Boitempo.

Os meganhas acadêmicos querem descobrir – uau! – se foram vendidos alguns exemplares dentro da Universidade.

Se quiserem, podem vir me prender, também, porque em meus tempos de Centro Acadêmico cansamos de vender livros dentro do prédio da UFRJ, na Praia Vermelha!

O que é isso, sabujice ou medo de que algum “gravatinha” do MP ou delegado da PF, por conta deste “crime”, venham pegar os dirigentes da Universidade – criada e inaugurada, aliás, pelo “monstro” que o livro retrata – e fazer o que fizeram ao reitor da Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier, conduzido por homens armados, despido, humilhado e dolorido ao ponto de, dias depois, ter se suicidado?

Desculpem, quem não tem independência e dignidade não presta para um ambiente acadêmico.

A história foi revelada ontem pelo blog Nocaute, do jornalista Fernando Morais, e não está na grande mídia, que só gosta da autonomia universitária quando os governos são de esquerda.

O fascismo, no Brasil, já não é calouro nas universidades.

 

 

 

 

 

 

 

Fernando Brito:

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  • A situação é tão humilhante para uma Universidade que terá reação digna e proporcional após virar escândalo na mídia estrangeira, por que a mídia canalha e submissa do Brasil jamais dará destaque a essa incrível história.

    • Repito o que escrevi, no artigo anterior do Fernando Brito, sobre esses vermes:

      MP já há algum tempo quer ser muito mais que um 4o poder. Avoca os 3 poderes para si, investigando, acusando (essa sim a função dele), julgando e executando.

      Um poder quase que absolutista reforçado por essa imagem falsa de paladinos da ética e justiceiros. Estão sujeitos à corrupção tanto quanto qualquer outro ser humano!

      • Pior que o MP são os sabujos, indignos de serem chamados "acadêmicos", que obedecem a ordens manifestamente ilegais.

      • Com certeza! Aliás, a parte justiceira do MP não tem nada de honesta!

        • É capaz de fazer palestras remuneradas para empresas que poderiam ser objeto de ações judiciais e especular com imóveis do Minha Casa Minha vida.

  • Estamos vivendo a ficção que George Orwell concebeu no seu livro “1984”. E isso só está acontecendo porque o Judiciário brasileiro está empoderando e cobrindo os fascistas, sabe-se lá com que intenções. De qualquer forma, deixaram de ser guardiões da Constituição, se converteram em golpistas.

  • Que vergonha!!!! Covardes idiotas! Perderão muito mais com sua atitude rasteira, do que se tivessem um mínimo de dignidade!

  • O apetite do Estado Policial em curso no Brasil é insaciável, já não se contenta com as Redações da Grande Mídia, Delegacias e Fóruns Judiciais, agora adentra às Universidades, como a do ABC, ironicamente inaugurada, dentre muitas outras, no governo do monstro a que se refere o livro, um tal de Lula, o brasileiro que mais foi agraciado com Títulos de Doutor Honoris Causa pelo mundo. #EstadoPolicialEmMarcha

  • É um absurdo! Se quiserem me prender também não tem problemas. Eu vou comprar o livro, e for dentro de uma universidade, é ainda melhor. Chega de medo dessa galera que ameaça diariamente a democracia!

  • Estamos vivendo a ficção que George Orwell concebeu no seu livro “1984”. E isso só está acontecendo porque o Judiciário brasileiro está empoderando e cobrindo os fascistas, sabe-se lá com que intenções. Deixaram de ser guardiões da Constituição, se converteram em golpistas.

  • É com muita preocupação que estamos, outros professores universitários acompanhando esse episódio. Fiz parte de um grupo que ministrou a disciplina sobre o golpe de 2016. Se o lançamento de um livro gera processos.... Mas que me faz escrever aqui é a vontade de dizer o que escrevi num esboço de texto sobre a questão. Como pode a ouvidoria de uma universidade dar prosseguimento a um telefonema dessa natureza? O que essa gente que trabalha numa universidade entende de liberdade de pensamento e de pesquisa? Nossa capacidade de pensar está definhando a passos largos. Como pode uma propaganda vulgar como o escola sem partido ter mais influência do que sua crítica?

  • E simplesmente vergonhoso o que estes canalhas estao fazendo com o nosso Brasil.Depois leio nos jornaloes que so servem para embrulhar porcarias, que certos candidatos a algum cargo eletivo, defenda este governo hipocrita e sem condiçoes de ser sindico de predio de um so morador.

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