Na edição natalina de O Globo há um artigo que bem que poderia ser dado de presente aos que, emprenhados pela mídia que mais sabota seu país, acham que o Brasil regrediu décadas e que hoje somos uma espécie de “coitadinhos” mundiais.
Paulo Nogueira Batista, ex-representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional – sim, o velho e sabido FMI -, escreve sobre a ascensão no Brasil no ranking das finanças mundiais, numa avaliação perto da qual Moody’s, Fitch ou Standard & Poors são meros palpiteiros de apostas no Jockey.
Passamos, de pedintes submissos a parceiro respeitável e nossa posição, dentro da composição do órgão, passou de um 18º lugar para o 10º maior “dono” do fundo, que ainda não é o registro preciso de nosso tamanho econômico e que não lhe tira a posição de ser, ainda, uma espécie de “pacto colonial” das finanças entre os EUA e a Europa.
O FMI é o que é, mas o Brasil já não é o que foi. Quem tem saudades da escravidão ainda tem a mente escravizada.
O Brasil e o FMI
Paulo Nogueira Batista Jr.
O Congresso dos EUA finalmente ratificou a reforma do FMI, concluída em 2010. Fiquei contente. Trabalhei muito na montagem desse acordo e a demora dos EUA em ratificá-lo já me fazia temer que ele nunca seria implementado. A reforma do FMI terminaria assim por ter a mesma sorte que a Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio.
Demorou mas saiu. O esforço não foi em vão. O Brasil é, depois da China, o maior beneficiário da reforma em termos de aumento de quota e poder de voto.
Quando cheguei ao FMI, em 2007, o Brasil tinha uma quota de 1,4% e era o 18º maior quotista. A reforma de 2008 levou a nossa quota para 1,8% do total e o Brasil subiu para 14º no ranking. Com a entrada em vigor da reforma de 2010, a nossa quota sobe para 2,3% e o Brasil, para 10º no ranking. O aumento acumulado em termos de poder de voto com as reformas de 2008 e 2010 foi o maior obtido pelo Brasil em toda a história do FMI.
A chave para esses resultados foi o diálogo com Dominique Strauss Kahn, na época diretor-gerente do FMI, que compreendia a necessidade de abrir mais espaço para os países de economia emergente. Uma característica importante de Strauss Kahn é que ele cumpria os acordos que fazia. Essa foi a minha experiência, pelo menos.
Em 2007, quando Strauss Kahn era candidato ao cargo de diretor-gerente, combinei que o Brasil votaria nele em troca do compromisso de aumentar a quota brasileira para 1,8% na reforma que seria concluída em 2008. (O então ministro da Fazenda, Guido Mantega, aliás, teve que conter integrantes do governo propensos a anunciar precocemente apoio à candidatura de Strauss Kahn.)
Quando da negociação do passo seguinte — a reforma de 2010 — mostrei a Strauss Kahn que Brasil, EUA, China, Índia e Rússia eram os únicos países que figuravam na lista dos dez maiores tanto em termos de PIB, como de território e população. Ele logo se deu conta de que a reforma teria que ter como um objetivo central colocar as dez maiores economias do mundo — os EUA, o Japão, os quatro grandes europeus, e os quatro Bric — como os dez maiores quotistas do FMI. Para tal, o Brasil precisaria dar novo salto e passar de 14º para 10º. Em fins de 2010, o acordo foi fechado com esse resultado.
A entrada em vigor das quotas negociadas em 2010 é um passo significativo, mas não resolve os problemas de legitimidade do FMI. A transferência de poder de voto dos países avançados para os países em desenvolvimento é modesta, apenas 2,6 pontos percentuais (que se somam à transferência de 2,7 pontos obtidos na reforma de 2008). Os países desenvolvidos ainda contam com ampla maioria e continuarão controlando a instituição. A distribuição de poder decisório no FMI não reflete as mudanças que vêm ocorrendo na economia mundial.
Os próximos passos estão previstos no próprio acordo de 2010. Primeiro: a revisão da fórmula que calcula as quotas para melhor refletir o peso econômico dos países. Segundo: um novo realinhamento de quotas, que permita aumentar a representação dos países em desenvolvimento. O primeiro passo era para ter sido concluído até janeiro de 2013; o segundo, até janeiro de 2014. Ficou tudo atrasado com a demora dos EUA em ratificar a reforma.
Agora é correr atrás do prejuízo.
4 respostas
Eles estao fazendo de tudo para impedir.
E colimar o que o desinfeliz mas arguto Brzinski escreveu: “manter os vassalos flexiveis e protegidos e impedir os bárbaros de se unirem”-as palavras nao literais mas o sentido é exatamente este, para significar o que um IMPERIO precisa fazer para manter a dominaçao total, de amplo espectro -full spectrum dominance.
Os barbaros somos nos, mais china, russia e india.
Se voce fizer um simples relatorio, cronologico, no intervalo de semana a semana, mes a mes desde 2010 para cá do que eles tem feito nesse exato sentido… Tudo fica muito claro. E fica claro que, desde 2013 e nos ultimos meses os eventos (sic) ja sao coisa de politicas erráticas, desespero, casuismos.
Isso vai dar merda, seguro.
Com sorte, gerda será pra eles.
A crise está no desemprego e na inflação! Cadê as promessas de campanha de Dilma?
Na era Lula, o Brasil ganhou um novo patamar nas negociações internacionais e um protagonismo ímpar no Mundo.
Que EUA faça de tudo para manter seu poder sobre as demais nações é compreensível, embora inaceitável, já que eles se apresentam como modelo de democracia. Numa democracia não há relação vertical. Muito pelo contrário há sim respeito, coisa que os americanos desconhecem. Agora o mais lamentável é ver nos demais países, sobretudo na América Latina – lamentavelmente Brasil se inclui nesta lista – haja pessoas e grupos que defendam tal ideia, de que devemos ser sempre subservientes aos americanos. Estes grupos carecem de autoestima. Precisavam descobrir o quanto é importante ser sujeito da própria história. Para isso precisarem saber pensar por si mesmos, deixando de ser marionetes.