Um dos mais importantes primeiros-ministros ingleses do século 19, Benjamin Disraeli, dizia que há “três espécies de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas”.
Jair Bolsonaro, um campeão nesta matéria, conseguiu reunir as três, ontem, com a história do “relatório do tal Tribunal de Contas da União” que mostraria não serem de Covid metade das mortes atribuídas à Covid.
Mentira, diriam os antigos, adrede preparada, porque suas redes virtuais já tinham pronto para ser disparado na internet, com a ajuda do R7, supostos trechos do suposto relatório que afirmava, sem maiores argumentos, que só 41% das mortes registradas como provocadas pela doença o eram de fato.
Depois de horas de amedrontamento, o TCU informou que não havia o relatório e muito menos qualquer conclusão ou especulação neste sentido.
O presidente da República, portanto, mentiu; mentiu deslavadamente, por atribuir a informação a um tribunal federal e, para completar a trinca, fraudou estatísticas.
Mas, e daí?
Mesmo não permitindo enquadrar penalmente mentiras sobre algo tão grave e envolver nela justamente o órgão de controle da administração pública, é mais que evidente a quebra de ética e decoro que competem ao Presidente da República.
Ainda assim, nada se fará, ninguém o interpelará e ele está livre para dizer o que quiser, atribuindo a quem quiser a informação mentirosa.
Pior é que se naturaliza a possibilidade de divulgar fraudes como prática política, ainda mais envolvendo vidas humanas e o cuidado da sociedade com uma moléstia fatal.
Afinal, cria-se uma inversão: as boas novas mentirosas são saudadas; a verdade é inconveniente, porque há quem queira resolver a crise com fantasias, porque os mortos, debaixo da terra, já não podem falar.