Dão os jornais que Bolsonaro planeja “viagens triunfais” para comemorar a passagem dos mil dias de seu governo.
Uma ou outra cerimônias formais, de autorização de obras que ninguém sabe se irão sair e, de concreto, a abertura de dois trechos da duplicação da BR-116 e da BR-101. de 5 km cada, são um nada em estradas que contam o Brasil em extensões de mais de 4.500 km cada uma.
Talvez seja bom para passeio de motos com seus simpatizantes, mas está quilômetros abaixo das necessidades do Brasil em matéria de infraestrutura. Concluem-se, aqui e ali, porções de obras iniciadas dez anos antes, assinam-se contratos de privatização, concessão um tanto quanto obscuros, lançam-se “parcerias” para a implantação de uma ou outra ferrovia.
Siderurgia, refinarias, infraestrutura urbana, tudo o que envolve construção pesada, literalmente, está parado.
Mas há que reconhecer o sucesso de Jair Bolsonaro em outros campos.
Nunca, em mil dias, ninguém fez tanto para transformar este país num rinha de ódio, num palco da estupidez, num lugar de elites tão medíocres.
Mas há progressos. Já se pode falar e encontrar eco nas ruas ao falar deste desastre, coisa há algum tempo impossível e temerária.
A minoria que são se tornou tão evidentemente pequena e identificada que já se tem, e cada vez mais, de volta o direito de conversar entre a maioria que havíamos perdido, mesmo quando sabíamos haver apenas um ou outro bolsonarista presentes: somos das paz, não queremos brigas e desavenças.
Puséramos todos, até inconscientemente, em tocas e nos vemos a sair delas, como animais que pressentem a primavera, a época de nos reencontrarmos numa causa comum: expelir o medo de nossas vidas.
Os mil dias de Bolsonaro, por serem uma era de treva, engendram um tempo de luz. Elas não se acendem, na forma de esperança, para iluminar outros ódios, outras discriminações. Certamente existem, mas devem ficar de lado, ressabiados, vendo uma imensa onda de lucidez pessoal nos purgar as penas de tanto tempo ruim.
Nada de deixar que este ódio se recicle em novas formas de divisão daquilo que o sentimento popular aponta.
Não são, afinal, mil dias de Bolsonaro, mas os dias que faltam para o fim de seu mandato: 380 até a eleição, que deve dar a ele a mais acachapante derrota na urnas.