Manipulação ou burrice? Como a Folha inverte o sentido de uma declaração

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“Estado é contra reivindicação de direitos”, diz Ministro.”

É uma das chamadas da editoria de política, hoje, da Folha.

O leitor – que em geral é  leitor de títulos, desde que as folhas ficavam penduradas com pregador de roupa nas bancas de jornal – entenderá que  o Governo é contra reivindicarem-se direitos, não é?

Só que a matéria diz exatamente o contrário: é uma queixa do Secretário-Geral da Presidência da república, Ministro Gilberto Carvalho, para quem o aparelho de estado no Brasil tem uma cultura de resistir e tratar como “problema” tudo aquilo que é reivindicação de direitos, individuais e, sobre tudo, coletivos.

E para, mais além disso, ter o Governo a obrigação de fazer cumprir a lei, mesmo quando a sabe injusta.

Nem falo do trabalho do repórter que fez a matéria: o texto está correto, embora burocrático, talvez porque ele não tenha tido espaço para aprofundar e esmiuçar o conteúdo da fala de Carvalho.

Mas o que a editoria faz, se não é manipulação, é, ao menos, incapacidade de entender o que se se disse.

Não é raro isso.

Uma vez, quando era assessor de imprensa de Brizola, fui procurado com um repórter – bem novo, meio foquinha, embora eu também ainda não tivesse nenhum fio de cabelo branco…-  com uma pauta pronta da redação.

Muito técnico, ele relatou que, enquanto em todo governo anterior tinham acontecido apenas X manifestações no Palácio Guanabara, nos primeiros – sei lá – 100 dias do Governo Brizola já haviam ocorrido o triplo…. E perguntou: o que o Governo acha disso?

– Acha ótimo, eu respondi, para ele arregalar os olhos, estupefato. Repeti: pode escrever: O governo do Rio de Janeiro acha ótimo.

Mas a que os senhores atribuem isso? – continuou, meio sem-jeito…

– A três fatores: primeiro, as pessoas precisam: elas vêm aqui pedir direitos, não favores: água, esgoto, luz, aumento de salário, lote para morar, terra para plantar, escola para as crianças; depois, porque pode vir, não tem mais bordoada em cima deles. E o terceiro é que as pessoas vêm porque acreditam que adianta, porque tem um governante que foi eleito com o voto deles, embora nem sempre a gente possa resolver.

O menino parecia que ia ficando em outro planeta, eu acho que ele não entendia o que eu dizia. Tudo o que ele esperava era uma “defesa técnica”, um amontoado de “fizemos isso, fizemos aquilo” burocrático e sem-vergonha, porque por mais que tivéssemos feito, certamente teríamos feito muito pouco, diante daquele mar de necessidades e injustiças.

Por isso, dou o benefício da dúvida ao editor da Folha.

Pode até não ter tido a intenção de manipular.

Pode ter sido pior: não teve a capacidade de entender.

Para estes, liberdade é o direito de preencher um formulário-padrão…

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5 respostas

  1. Já fizemos isto e faremos aquilo.
    Estamos fazendo isto…
    Muito bom….E politico que responde
    assim, já esta morto para o voto.

  2. Com muita propriedade o sr ministro GILBERTO CARVALHO, traduz a incapcidade do estado de ter uma ampla compreençao sobre direito da sociedade. A percepçao do estado passa as vezes bem longe do principio da razoabilidade quando se ver diante de uma reindivicaçao muitas vezes coberta de justiça.

  3. Se não soubesse da seriedade do blogueiro diria que é muita ironia, mas acho que é só benevolência descabida. A Folha é um jornal da direita, mente, não tem compromisso com a verdade, basta ver o histórico do jornal.

  4. Também pudera. Esse ministro tem a mania de falar demais. Quem fala demais corre o risco de falar bobagens, ainda mais quando vê um holofote ou um jornalista do PIG.

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