Mello e Globo: a aliança dos derrotados

Seguindo a máxima sugerida acima, de que somente é derrotado quem se dá por vencido, a mídia tenta a dar a volta por cima depois da goleada de 6 a 5 que tomou do STF na votação do crime de quadrilha. E nada melhor para isso do que convocar seus “inside boys” da corte, seus campeões, ou ex-campeões de um STF que, até então, nunca tinha fugido do script delineado pelos editoriais do dia.

Daí não espanta ver um membro do STF fazendo dobradinha com o Globo para detonar o… STF.

Triste aliança de derrotados.

Sob pretexto de falar de nova campanha do TSE, do qual é presidente, Marco Aurélio Mello, discorre sobre a derrota no STF e ajuda o Globo a insuflar a tese de que o Supremo “recuou” e que isso é negativo.

Entretanto, é interessante constatar que juízes são como peixes: morrem pela boca. O esforço de Mello para salvar as aparências do julgamento da Ação Penal 470 acaba gerando um efeito contrário.

Por exemplo, o repórter do Globo faz a seguinte pergunta:

Isso é uma sinalização ruim para a sociedade que acreditou no STF durante esse julgamento?

Mello responde:

“Isso, para o leigo, é péssimo. Embora o crime de quadrilha tenha uma pena pequena frente à pena da corrupção, do peculato, da lavagem de dinheiro, que pode chegar até a uma dezena ou mais de anos, o simbolismo é muito grande. O leigo vai ficar decepcionado, o que não é bom em termos de fortalecimento e crença nas instituições.”

Sem brincadeira. Um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) preocupar-se com o que pensa um “leigo” é o fim da picada. Esse é o problema, aliás, de chamarmos juízes de “ministros”. Não são ministros. São juízes. E juiz tem que se preocupar em fazer um julgamento justo, ponto final.

Cortes supremas, num regime democrático, tem as características que têm, de não passarem pelo filtro do voto, de serem enxutas e com mandatos vitalícios, justamente para poderem exercer um poder contra-majoritário.

Mello esquece que o STF não está julgando uma causa constitucional, está julgando seres humanos, e não pode, portanto, usar a lógica do “linchamento”.

Ao observar que “o leigo vai ficar decepcionado”, Mello praticamente admitiu a publicidade opressiva por trás de todo o julgamento da Ação Penal 470.

Além do mais, é um bocado estranho. Mello não está preocupado com a opinião do jurista experiente? Pelo visto não, já que o jurista experiente está perplexo com as sucessivas inovações introduzidas pelo STF para julgar o mensalão.

É interessante notar que Mello procura se explicar demais, mesmo sem ser perguntado. Como se estivesse ansioso para apagar uma impressão que vê crescendo. Reparem nesse trecho:

Reforça a visão leiga de que foi um julgamento político, e não foi. Precisamos fazer justiça inclusive ao colega que já saiu, o ministro Carlos Ayres Brito, que votou pela condenação por formação de quadrilha. Não julgamos no campo do direito alternativo, muito menos para condenar um ser humano!

“Reforça a visão leiga de que foi um julgamento político, e não foi.” Ora, ora. Aí não há sequer visão leiga! Grandes juristas já afirmaram isso, como o Celso Bandeira de Mello e o próprio Ives Gandra. Quanto a Ayres Britto, Mello esqueceu de informar que a primeira coisa que ele fez, ao sair do STF, foi assinar prefácio de um livro de Merval Pereira. Ou seja, Brito não se preocupou em afastar as denúncias de julgamento político. Embriagado pelas luzes da mídia, cometeu um erro em que desnudou a politização do julgamento.

A aliança entre Globo e Mello não é de hoje, como se pode verificar assistindo 10 segundo da entrevista abaixo.