Mais informações inéditas sobre Pasadena!

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O Cafezinho teve acesso a mais dois documentos exclusivos (no Brasil) sobre a refinaria de Pasadena antes de ser comprada pela Astra.

O documento mais recente, de agosto de 2000, é um informe da Golnoy Barge Company, empresa que detinha 14% das ações da refinaria de Pasadena, aos outros sócios minoritários.

O documento fala da preocupação dos sócios pequenos com a gestão de Henry Rosenberg, e seus dois filhos, à frente da refinaria. Eles estavam preocupados com uma operação financeira que Rosenberg tinha iniciado para ampliar sua participação acionária da refinaria e aumentar seu controle sobre ela.

O final da década de 90 tinha sido bem difícil para o negócio de refinaria. Em 1998, a Crown Central (nome antigo da refinaria de Pasadena) havia registrado fortes prejuízos, e ainda enfrentava inúmeros processos trabalhistas.

O segundo documento obtido por Cafezinho é um artigo publicado no Oil Daily, onde se lê que o mercado desconfiava que Henry Rosenberg estava se preparando para vender a companhia. Até aí nada demais, a empresa era dele e ele podia vender quando quisesse. Acontece que ninguém confiava em Rosenberg, nem os sócios pequenos, muito menos os sindicatos.

A matéria informa que a Crown registrou prejuízo de 829,4 milhões de dólares em 1998. Segundo a matéria, parte desse prejuízo se devia ao boicote que os sindicatos vinham fazendo à empresa. Era uma campanha popular. Ninguém queria comprar a gasolina vendida nos postos da Crown. A empresa, por sua vez, atribuía o prejuízo a situação do mercado, e lembrava que todas as empresas estavam amargando prejuízo aquele ano, o que era verdade.

O caso de Pasadena, contudo, era mais grave porque Rosenberg, dono da empresa, enfrentava um grave problema de crédito na praça. E não estava conseguindo renegociá-lo junto aos bancos.

No documento de agosto de 2000, da Golnoy Barge Company, contudo, somos informados que o mercado de refinaria se recuperou vigorosamente a partir do início da nova década. O faturamento líquido (EBITDALL) da Crown nos primeiros seis meses de 2000 totaliza US$ 66,6 milhões. O lucro líquido no primeiro semestre de 2000 atingiu US$ 5,6 milhões, comparado ao prejuízo de US$ 22 milhões no mesmo período de 1999.

Entretanto, os sócios pequenos da refinaria dão duas informações que serão fundamentais para a gente entender o preço pago pela Astra em 2005.

A Crown tinha promissórias junto a seus acionistas pelas quais “qualquer um que quisesse adquirir a Crown Central deveria estar preparado para refinanciar o débito de US$ 125 milhões”.

Isso em 2000! Em 2005, esse débito teria subido para US$ 200 milhões, como eu disse em outro post. A diferença é que essa fonte agora é mais oficial ainda. É um documento dos próprios sócios da Crown.

A outra informação importante é sobre os estoques da Crown. A mídia vem repetindo que a Astra comprou a refinaria por US$ 42,5 milhões. Mentira. A Astra começou a trabalhar junto à Crown em 2004. Pagou suas dívidas, comprou seus estoques, e só então adquiriu as ações da refinaria por US$ 42,5 milhões.

O documento da Golnoy nos dá uma ideia do valor dos estoques da Crown no ano 2000. Os sócios achavam que esses podiam ser US$ 83 milhões maiores do que o informado oficialmente pela empresa. Portanto, o valor dos estoques, no ano 2000, era um valor X mais US$ 83 milhões. Quanto valiam? US$ 100, 300, 500 milhões? A refinaria tinha capacidade para estocar mais de 6 milhões de barris, portanto o valor desses estoques poderia até ultrapassar US$ 1 bilhão.

Por que Pasadena tinha uma capacidade tão grande de estoque? A resposta é fácil. A volatilidade alucinante das cotações do petróleo e seus derivados, fazem com que seja estratégico, para uma refinaria, ter uma boa capacidade de estoque, para ordenar a oferta e evitar vender em momento inadequado.

Na sexta-feira, o Valor confirmou uma informação que eu já detectei em vários documentos, inclusive no relatório da Astra.

“Conforme o acordo de acionistas, ao qual o Valor teve acesso, o prêmio de 20% valeria tanto para os 50% restantes do ativo refinaria, avaliado em março de 2006 por US$ 378 milhões, como para a trading, que tinha preço de referência inicial de US$ 300 milhões, que era o “capital comprometido” pela Astra no negócio até a assinatura do acordo.

A Petrobrás não adquiriu somente a refinaria de Pasadena. Ela comprou também a Astra Trading, que era o braço comercial da refinaria montado pela Astra quando a assumiu. Essa trading tinha recebido US$ 300 milhões da Astra. Não está claro se esse valor já embute os estoques. E não se sabe exatamente a dívida herdada pela Astra quando assumiu o controle da refinaria. O que se tem certeza é que havia uma dívida de US$ 125 milhões em 2000 e, segundo a Jefferies, US$ 200 milhões em 2003. Como os americanos nunca pagam uma dívida de uma vez, pois os juros lá são muito baixos e todos apenas rolam seus débitos, indefinidamente, é certo que estes deveriam continuar na casa dos oito dígitos quando houve a compra pela Astra.

Portanto, a Astra quando adquiriu Pasadena, investiu US$ 42,5 milhões pelo controle acionário, assumiu uma dívida milionária, mobilizou US$ 300 milhões, comprou estoques, e ainda fez investimentos de quase US$ 100 milhões para modernizar a refinaria. Os documentos da Astra deixam bem claro que a venda decorreu de um “processo”, cujos detalhes jamais foram revelados.

Não sei se houve, como dizem os paulistas, alguma treta em algum momento do negócio. Talvez. Mas pode haver treta na Abreu Lima, no porto de Suape, no Comperj, em qualquer negócio da Petrobrás em qualquer lugar do mundo. O ser humano, infelizmente, é corrompível por natureza.

O importante a saber aqui é que essa disparidade absurda de valores com que a mídia tenta impressionar o cidadão comum não existe. A refinaria de Pasadena sempre valeu um bocado de dinheiro, sempre esteve operante, e possivelmente se revele com o tempo uma excelente aquisição para a Petrobrás.

Outra coisa que é preciso deixar claro é que as cláusulas Put Option e, sobretudo, a Marlim, existiram porque a Petrobrás também tinha suas prerrogativas. Também havia cláusulas a favor da Petrobrás: a estatal podia “forçar investimentos”, ou seja, podia fazer o que quisesse ali dentro.

Lembro-me que o ex-presidente Lula, certa vez, ensinou que um bom negócio é o chamado “ganha-ganha”. Um ganha e o outro pensa que ganha. Acho que foi exatamente o que aconteceu aqui. A Astra pensou que fez um bom negócio, mas quem agora possui uma refinaria no coração dos EUA é a Petrobrás!

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16 respostas

  1. O que o Renato disse serve para abrir uma outra hipótese para a trama: juntar artefatos eleitorais com eliminação de concorrência lá dentro. Sabe como é, país sul-americano, dando lucro diante de tantos outros…

    1. Hummmmm… É, pode ser isso mesmo. Mas conhecendo a mídia e a oposição brasileiras, é muito provável que o governo acabe tendo que se preocupar com DOIS problemas.

  2. O PIG (Prof. Hariovaldo) não entende. Como uma comuna celerada, a Presidenta Dilma, vai investir numa refinaria no Texas. Não era em Cuba que o Brasil investe, ou agora na Crimeia anexada.
    U-ma-re-fi-na-ria-no-Te-xas, senhores! Não pode. E está faturando dólares na terra de Tio Sam, senhores. Cadê os petistas comunas pra reclamar que o Brasil, a Petrobras, investe nos EEUU.
    Pois é. E ganha dinheiro nos EEUU. Assim, não dá, assim, não pode…

    1. ‘Comunas’ investindo nos USA. Assim não dá, assim não pode.
      E logo em petróleo o ouro negro, o combustível do capetalismo.
      Mas no Texas já é demais. No minimo querem fazer igualzinho ao Putin, anexar o Texas.

  3. Bingo! Um verdadeiro serviço de utilidade pública esse levantamento feito sobre a dívida da Pasadena e seus estoques. Parabéns!

  4. Como a refinaria está operando, uma forma de demonstrar se o negócio está sendo rentável é descontar o fluxo de caixa que proporcionou nesses anos em que é operada pela Petrobras, levando em consideração o valor da compra, os investimentos realizados nesse período, os custos operacionais, os estoques, a depreciação realizada e o valor de sucata. A taxa de desconto pode ser a taxa Marlin. Feito isso, verificar-se-á se está tudo pago, se houve lucro (contabilmente diz-se que há), aquilatando-se a realidade dessa aplicação de capital. Subsidiariamente, mostrar as condições do mercado de refino na área e suas perspectivas, verificando o limite para, se for de interesse, vender a refinaria.

  5. Caro miguel e colegas navegantes, prometo nao apurrinhar mais este fim de semana, mas e’ caput que tu tens que ir ate pasadena e conversar com esta gente da sstra isto e’ muito estranho algumas afirmacoes como “eles pagaram muito mais que esperavamos”, sei que idto custa muito caro mas damos um jeito(olha minha ousadia,sou baita pelado), mas em fim acredito muito em voces( fernando e miguel),pensem nisso e me mandem para o inferno.

  6. gostei do comentário do Jorge

    “O PT está deixando correr o tema Pasadena, pra tirar o foco da Copa.”

    acho que é mesmo essa a estratégia!!!!!!! e se for muito bom

    pois os eleitores do PT, em sua maioria não conseguem assimilar o que se fala sobre Pasadena, mas se estourar manifestações igual a do ano passado dai pode complicar!!!!

  7. Prezado, competente e impávido jornalista Miguel do Rosário,

    parabéns pela pesquisa das informações e, sobretudo, pela lapidar análise política do texto!

    A nação e a [verdadeira] história do Brasil agradecem, penhoradamente!

    Felicidades!

    Hasta la Victoria Siempre!

    Saudações democráticas, progressistas, civilizatórias, nacionalistas, antigolpistas e antifascistas,

    República de ‘Nois’ Bananas
    Bahia, Feira de Santana
    Messias Franca de Macedo

  8. Parabéns. A Folha e outras folhas, ocupadas em tentarem ampliar suas “investigações” golpistas nas profundezas de um pires de leite, estão sendo humilhadas pelo oceano de informações trazidas por um mero blog. Esta humilhação pesa muito, porque se dá diante de olhos de considerável parte da população pensante do país.

  9. Nos anos 70, li uma entrevista com um futuro alcaide de Santos, a ser nomeado pela junta militar, então sócio de Otávio Frias: Carlos Caldeira Filho, tratando da compra e venda do Parque Balneário.
    O sócio do Grupo Folha e da ditadura militar fora contra a compra e, depois, contra a venda do referido hotel.
    Essa marolinha de Pasadena está cheirando (cheirando não: fedendo!) a “pressão” sobre a Petrobras para vender o ativo e ‘minimizar’ hipotéticos prejuízos, forjados pela mídia corporativa e apátrida.

  10. Palavras do Dono da Astra: A venda da refinaria de Pasadena à Petrobrás foi comemorada pela Astra Oil, do barão belga Albert Frère, como “um triunfo financeiro acima de qualquer expectativa razoável”. O grande negócio, no entanto, não foi a única aposta lucrativa do magnata de 87 anos em relação ao Brasil. Operações de empresas da área de energia ligadas ao homem que “na Bélgica, manda mais que o rei”, segundo um dito popular do país, espalham-se por 12 Estados brasileiros e renderam, só em 2013, lucros próximos de R$ 1,73 bilhão.
    Ou foi incompetencia brutal(melhor que seja) ou um desvio de verba !!!! Só a CPI dirá.

  11. O PIGolpista começa a contar as verdades sobre a Refinaria de Pasadena, ainda que nas entrelinhas, tacitamente, a estratégia torpe do, digamos, “assoprando e mordendo para ver no que vai dar” (sic). ENTENDA

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    Boom do petróleo nos EUA sustenta refinaria da Petrobras em Pasadena

    ISABEL FLECK
    ENVIADA ESPECIAL A PASADENA (TEXAS)

    30/03/2014 02h00

    FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/03/1433095-boom-do-petroleo-nos-eua-sustenta-refinaria-da-petrobras-em-pasadena.shtml

    NOTA: durante todo o dia de ontem, o portal uol/folha destacava: ‘veja onde a Petrobras enterrou 1,2 bi’

    .. Lá isto é jornalismo, sô?…

    República de ‘Nois’ Bananas
    Bahia, Feira de Santana
    Messias Franca de Macedo

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