A maioridade penal e a certeza do Magno: meu colega de escola, chefe do tráfico

magno

Boa parte da minha infância e adolescência passei no Lins de Vasconcellos, “subúrbio do subúrbio” do Méier, onde estudei na escola primária Isabel Mendes,um prédio sobre pilotis, típico da arquitetura do final dos anos 50.

Lá também estudava o Magno.

Morávamos perto: eu, numa vila que ficava bem defronte a um grande centro espírita, o Tupyara, na Rua Lins. Ele, no conjunto habitacional do BNH, 50 metros antes.

Os guris se davam, indiferentes à pouca diferença social entre a vila de classe média baixa e a pobreza do conjunto. Morava lá, além do Magno, o Marcos “Galinha”, bom de bola como eu jamais fui, mentiroso que só.

O conjunto subia um morro até a “barreira” e lá em cima, perto do bloco 26, ficava o tráfico. Camburão da polícia, lá, só subia se “combinado”.

É obvio que as diferenças, que eram pequenas, ficaram grandes.

Fui para a universidade, ajudado no vestibular pelo amor à matemática e à física que a (recuso-me a dizer “uma”, sobre ela) escola técnica me deu, fui para uma universidade pública.

Magno foi para o tráfico e, como era um cara capaz, chegou a chefe da “boca”.

Já não o via, muito menos jogávamos bola, como antes.

Até que um dia soube dele.

Eu já morava em Vila Isabel, mas minha mãe seguia na vila e sua casa foi roubada, num dia em que ela não estava por lá.

Dois dias depois, um negrinho, empurrando um carrinho de mão, trouxe de volta televisão, toca-discos, bugigangas.

O Magno mandou o ladrãozinho devolver e que pedisse desculpas à professora.

Já repórter, fui procurá-lo, e o entrevistado fui eu.

Tomamos uma cerveja, ele de frente para a rua e costas para a parede, num botequim na esquina da Rua Lins com a Cabuçu.

Mais que a gíria, impressionou-me o fatalismo do Magno.

Perguntou se eu achava se ele pensava em um dia, chegar aos 40 anos.

Se eu era idiota de achar que ele um dia seria um aposentado.

E me perguntou se eu tinha um carro, que eu não tinha, e ele tinha.

E mulheres. E a pulseira grossa, de ouro, reluzente.

“Sei que não duro muito”. E, a seguir: “mas no que vou durar, tenho muito mais que teria”.

Poucos meses depois, numa cilada, Magno ficou sob uma chuva de balas.

Não sei se vinte e três ou vinte quatro anos, mais de uma bala por ano de vida, com a arma silente em sua mão.

Não me oponho à pena de morte por convicções humanistas ou religiosas, só.

Magno me ensinou para sempre que o medo de morrer não o tirava daquela vida.

Impunidade, como, se ele sabia, serenamente, que ia pagar com a morte?

Os “dimenor” agora não podem mais ter 17 anos, com a redução da maioridade penal?

Terão 15, 14, 13 anos, como já têm.

A diferença essencial entre eu e Magno não quero perder.

Eu não embruteci, que sorte a minha.

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41 respostas

  1. Absolutamente magistral. Não se trata de uma reflexão jurídico-político-ideológica, mas de uma reminiscência, uma busca nos porões da memória. Mas como dói, em nós, seus leitores. E como cresce nossa admiração por suas doses diárias de caráter, humanismo, equilíbrio e estoicismo.

    1. Será?
      Decerto é eleitoreira. Decerto é mais um buraco neste queijo suíço que tentam fazer na Constituição. Mas será apenas isso?
      Posto que a redução da maioridade penal não vai resolver absolutamente nada, a não ser encher as burras dos futuros donos de presídios; posto que os que hoje cegamente defendem essa mudança constitucional como solução para os problemas da violência no país serão os frustrados de amanhã, não seria esse mais um passo em direção ao nazifascismo capaz de transformar o Brasil num verdadeiro açougue de carne humana? E não seria essa uma forma de se promover a eugenia, e com isso branquear e enfraquecer ainda mais o Brasil e suas resistências ante os ataques de colonizadores internos e externos? E não seria essa uma forma de jamais honrar a dívida social com os nossos irmãos afrodescendentes e mesmo com os nossos irmãos indígenas?

  2. Essa tal de maioridade penal e uma tremenda pegaçao de pe’ da pobresa essa que nao tem acesso ao mundo minimo ciilizado gente. Temos que construir pra dpois penalizar muito da culpa e dos pais essa de encaminhar jovens para quase tortura e coisa da pseudo elite. Auela que acha que bater nos ilhos os outros e bom e no seu nao pode muito engraçado isso,na minha cidade(torres/rs) houve um cao de pai que oi dr uma palmadinha em uma menina de tres anos( um pobre anjo) e acabou deslocando a coluna junto o gluteos(acho ue e’ iso) deixando a menina aleijafa de uma perna, esse sim deveria ir para cadeia um pai onstruoo desses tem que ir pra atraz das grades.

  3. Nos EUA qualquer idade pode responder criminalmente como adulto e não é que a Justiça americana funciona? Aqui tinha que reduzir pra 15 anos. Afinal, quantos pagadores de impostos, trabalhadores, estudantes e demais pessoas corretas ditas livres são obrigadas a trabalhar, a ficarem presas em suas casas à noite e até durante o dia dependendo de onde moram porque vagabundos que não produzem, não pagam impostos, não fazem nada de útil para ninguém e ainda ameaçam a vida das pessoas direitas dominam locais e impõem suas vontades. Na remotíssima possibilidade de irem presos, não podem trabalhar, comem de graça, têm assistência médica e até aposentadoria! Francamente. Nossa democracia é libertária e garantista demais. Daria para ser menos, como as democracias dos países mais avançados.

    1. O sistema de justiça americano é um dos mais incosistentes do mundo. Adolescentes trocando mensagens/fotos picantes podem acabar sendo registrados como “sexual offender” o resto da vida, tendo sempre que avisar pra qualquer possivel empregador: “Olá, tenho um registro de ofensa sexual, quero um emprego”. Isso não é justiça.
      Lá a reincidência é muito maior que no Brasil, o sistema carcerário deles consegue ser pior que o nosso.

      De resto, parece que você se baseia no que aquele Revoltados Online, TV Revolta falam sobre presídios e presos.

    2. Se vamos imitar os EUA, então vamos “de com força”: lá juiz é eleito, não decora apostilas para passar em concurso. Lá, o Ministério Público é subordinado ao Poder Executivo e ai de quem não obedecer ao Presidente. Lá, as escolas públicas são decentes e os salários dos professores não fazem vergonha. Lá, não há tanta diferença salarial como aqui, onde juízes e promotores acham que devem ser tratados como se fossem uma casta superior, com direito a auxílio-moradia e outros badulaques. Lá, a população se envolve com a gestão das cidades, das escolas, da polícia. Lá, a política de cotas afirmativas existe há muito mais tempo. Lá, não existe saúde pública e ninguém consegue fazer um transplante se não pagar muito caro, não é como aqui que só o SUS faz.

    3. Seja honesto:
      Você conhece os EUA, de perto?
      Não vale ter viajado para Miami ou Nova Iorque.
      Digo ter vivido mesmo, por anos, na sociedade americana.
      A propósito, os EUA tem a maior população carcerária do mundo, mesmo com uma suposta justiça eficaz, mesmo com penas severíssimas, como prisão perpétua e pena de morte.
      Aliás, de vez em quando surge a história de um condenado a morte que foi executado, mas que posteriormente se descobrem ter sido inocente.
      Quanto aos menores estadunidenses, trancafia-los na cadeia não os impedem de cometerem chacinas em suas escolas, com armas de grosso calibre comprada livremente pelos seus pais, nas milhares de lojas de armas e munição espalhados pelos quatro cantos dos EUA.

  4. Não há como fugir à comparação. Aqui não há pena de morte, não há pena oficial, diga-se de passagem. Agora, bem recente, vimos o governo clamar pela vida de um brasileiro condenado à morte por crime de tráfico. Tem outro na fila.Lá na Indonésia, eles foram apanhados em flagrante. Sou contra a pena de morte, critico o nosso sistema judiciário em geral por crimes menores, imagina isso aqui no Brasil. Diante dessa lei da redução de idade, a gente pensa como é fácil manipular emoções e manifestações que, conforme o caso, provocam a vontade do justiçamento ou da compaixão. Basta ver o caso do helicóptero do Perrela, que não deu em nada. A É o famoso caso do Corra que a justiça sumiu! E o do rapaz inocente que foi salvo de um erro de identificação que o levou à prisão, porque trabalhou numa emissora de televisão. Ou do jovem de classe alta paulista que atropelou arrancando o braço de um ciclista e fugiu, sem prestar socorro. Não deu em nada. Nem comoção midiática, nem revolta contra o representante da classe privilegiada. Ou do menor acorrentado no poste , ato elogiado pela Sheerazade em concessão pública de televisão. Ai a gente pergunta: e se fosse o filho dela (interrogação).

  5. Caro Fernando,

    Seu texto me fez lembrar um ex-vizinho que, na adolescência, entrou no tráfico de drogas. Certa vez, em tom vitorioso, falou: “Disseram que eu não passava dos 30, mas já estou com 31”.

    Não chegou aos 32 anos.

  6. Fernando Brito

    Novamente, fico engasgada lendo um de seus artigos.
    Você não pode imaginar a grande admiração que tenho por seus escritos.
    Você é único!

  7. Ver Datena diariamente, a décadas, tratando da criminalidade, por apresentar um programa sangrento, como se tivesse conhecimento para tal, a gente até entende, embora nunca entendendo por que ele continua no cargo, se não tem rpeparo nem mesmo pra desenvolver uma frase com sentido.
    Espanta é ouvir da boca de pessoas que a gente pensa que usa a cabeça, acreditar que não existe outro meio jurídico capaz de dar um basta na violência promovida por menores de 18 anos, que não esse, de tornar imputáveis menores de 16 anos. Quem usa a razão garante que será o caso de em pouco tempo irmos para os 14, os 12, os 10,…Até que idade, então, se na verdade já hoje mesmo temos assistido a crimes hediondos praticados por menores de 12.
    A imprensa já divulgou por diversas vezes a ficha criminal, vastíssima, de um garoto de 12 anos, que sempre aparece no vídeo fazendo chacota dos repórteres e das polícias.
    Por que os legisladores não se incomodam com as carceragens? Os próprios presos adultos poderiam agir de forma diferente, e saírem das prisões ressocializados, não fossem presos como uns animais, o que os deixam mais delinquentes, e com mais ganas de praticar outros crimes.
    Ao invés de dizerem que estão atentos aos clamores das ruas, os legisladores tem que estar atentos ao resultado de suas ações, que podem resultar num verdadeiro desastre nos próximos anos.
    Investir na educação dos meninos, mesmo dentro de um sistema carcerário, é o que falta. Juntar esses meninos sem nenhum propósito de trazê-los de volta à sociedade sem as devidas condições de convívio humano é a maior estupidez já vista e sabida.

  8. Fernando,

    Política é, antes de tudo, relações humanas. Ela se dá na esfera macro e micro. Eu acesso o seu blog porque você humaniza a política, a torna algo do dia-a-dia, mais próximo das relações humanas, algo que não se restringe à números econômicos, medidas administrativas ou àquilo se passa nas instituições republicanas. Parabéns por relatar essa história pessoal e por concluir o texto de forma reflexiva e útil!

  9. Ontem, por um acaso grande, já que não vejo noticias na tv a não ser na tv Brasil, estava o Boris na band a comentar sobre a aprovação em 1* instancia da redução da maioridade penal.
    Após contar o que aconteceu ele teceu seus comentários, favoráveis à redução e depois os comentários contra, terminando por dizer que isso é partidário e ideológico …
    Impressionante a cara-durice desses comentaristas !!!

  10. A maioria dos meus colegas de bairro aqui em Itaquera teve o mesmo fim que o seu colega. O que mais me irrita nesta história de maioridade penal é a hipocrisia em se dissociar o banditismo adolescente dos processos de cooptação e de coação que empurram o jovem pra este fim.

    Quando eu era criança, dizia-se que o que levava um jovem para o crime era a miséria, a desigualdade social e o abandono. Tudo verdade só que agora, é isto e muito mais. O leque de argumentos foi ampliado e poucas pessoas se atrevem a ir além daquilo que sempre foi dito. Filhos de proletário, de família estruturada, jovens de classe média com todas as oportunidades, gente rica… todos em situação de risco e poucos hoje se encaixam no velho discurso da desigualdade social. O que dizem? Mentalidades? A sociedade mudou? O mundo está mais violento? O jovem já nasce predisposto (meu Deus!)?
    Superficialidades, discursos prontos, saídas pela tangente…

    Certa vez, vi uma cena que, de tão repetitiva, acabou por convencer-me de que o problema é muito menos conjuntural e muito mais estrutural, premeditado e transparente do que comumente pensamos. Quatro garotos sentados à porta de minha casa fumavam seu baseado. Passa um carro da polícia e eles se livram do bagulho jogando-o no meu quintal. Os polícias descem com arma em riste, dão uma batida, pedem pra abrir o portão e fazem um dos garotos recolher o naco de maconha. Espancam, xingam, humilham e, ao final, dão um pedaço de maconha pra cada um, mandam molhar na água de fossa e comerem o produto diante dos olhos de todos. Sempre com um dos policiais conferindo se moradores estão observando o que se passa. Alguns, ficam maravilhados. Eu saí, tentei argumentar que aquela atitude não seria a solução e que, se tivessem que prender que agissem conforme a lei. A resposta foi dada com arma em riste: “Tu tá com eles?! Você faz parte da gangue?! Quer comer também?! Cala a boca, desgraçado e entra!” Os rapazes foram levados e, aí é que a história fica interessante: ao retornarem ao bairro, já não faziam mais nada às escondidas. Eram noites e dias de escândalos, algazarra e gritaria. Chegavam com produtos de assalto e perambulavam sem cerimônia. Ameaçavam a todos (inclusive ao otário zé povinho que vos fala) como se, agora, tivessem carta branca pra qualquer brutalidade que cometessem contra as pessoas comuns. E, se alguém chamasse a polícia, era retalhado logo de cara pelos próprios atendentes, como eu fui muitas vezes, quando tive que recorrer às autoridades por pura falta de opção. Aqueles que reclamavam eram achacados, incriminados, ameaçados.
    É assim desde os anos 90 até hoje. Tudo se consolidou. Gerações inteiras passavam pelo mesmo processo: eram pegos, apanhavam e voltavam pra rua a serviço “vocês sabem de quem”. Como o colega do Fernando Brito, vivem pouco, salvo raras exceções que ainda conseguem se safar. Daqui deste bairro, por exemplo saiu o garoto que matou o bolivianinho (lembram?), o rapaz que falsificava cartões de crédito em Guarulhos há uns dois anos, chefes de gangue de assalto a banco, a gangue das “loiras”, etc etc. É só ver os arquivos de jornais locais, e alguns dos jornais nacionais, e verão a origem de muitos e seu local de captura. Virou uma indústria de cooptação para o crime. Bom lembrar que, recentemente, quando da instalação da UPP no morro do Alemão no Rio, dois dias depois, fervia de carioca alugando casa no pedaço.

    Este é um dado interessante que quase nunca os que avaliam o crescimento da criminalidade se atrevem a mencionar. A existência de grandes beneficiários nesta escalada de violência, a ação deliberada das autoridades na estratégia de gerenciamento, controle e renovação do “plantel”, a ação premeditada de um grupo específico de nossa sociedade que administra isto. Quem são? Tenho alguma ideia disto.

    Muito antes da CIA iniciar o discurso de “teoria conspiratória” contra todo mundo que se aperceba de alguma tática organizacional sobre qualquer coisa, eu já tinha certeza de que o aumento da criminalidade tinha um objetivo, um esquema claro e evidente e que ninguém falava por puro pudor ou medo. Aqui e em qualquer periferia, isto é tão claro pra mim como pra qualquer aviãozinho do tráfico. É um sistema, mesmo. Agora, sabemos que tais “corporações” existem de fato, são grandes a atendem a interesses internacionais. As peças começam a se encaixar. Evo Morales que o diga, tendo sob sua tutela um agente da CIA que explicou como a agência é responsável pela implantação do tráfico na América Latina, como tal intento está incluído num projeto mais amplo de controle local e quais interesses são atendidos. Daí pra ligarmos com o uso da máquina do Estado mais rico do país, com todo seu aparato controlado pela elite branca e fascista local e as coisas ficam mais claras.

    É por isto que digo que o risco de se ver a criminalidade juvenil como um problema meramente social é grande. Que o crime é um aparato com fortes raízes institucionais e políticas, com finalidades muito mais graves. Digo também que tal aparato é e sempre foi o maior risco para a democracia, dada a sua força e poder de desarticulação social. Alguém ouve? E tem gente que ainda trata o menino traficante como se este fosse um heroi insurgente perante o sistema e lutando contra a violência da sociedade. Bem, é isto que o crime – com uma estrutura ideologica fortíssima de lavagem cerebral – diz a eles. Esta vitimização os torna quase uma organização paramilitar, tão fechada e impermeável que obter provas torna-se um verdadeiro exercício investigativo. são coesos, porém nem eles sabem que é o verdadeiro líder da grande matilha no país. No futuro próximo, é possível que venha à tona os verdadeiros comandantes do crime no país.

    Só me questiono se, até chegar este momento, a democracia aguentará?

    1. “Aqui e em qualquer periferia, isto é tão claro pra mim como pra qualquer aviãozinho do tráfico. É um sistema, mesmo. Agora, sabemos que tais “corporações” existem de fato, são grandes a atendem a interesses internacionais.”
      _______________________
      É a máfia, caro Edgar. Ela elaborou e cedeu ou alugou seus métodos. E por ora, são estes que estão se sobrepondo.
      E tal desterro, parece-me, Marx, não anteviu.

      1. Exageros à parte, e em se tratando de Brasil, a coisa, a raiz da coisa vem se desenvolvendo desde antes de Rui Barbosa, o Águia de Haia. Você sabe quando e em quais circunstâncias ele usou a expressão “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”, não sabe?
        Se não sabe, ela era parte de um Discurso no Senado em 17/12/1914.
        Mil, novecentos e quatorze, Edgar!

        1. Conheço este discurso, Mário. Sei que desde este tempo a violência institucional é efeito do entreguismo, do banditismo que assola nossa sociedade. É parte do nosso mito de fundação. O que expresso hoje, no entanto, é o fato de que, depois de tantos anos, tantas denúncias, tantas mentes capazes de analisar e perceber o óbvio, a coisa só fez se sofisticar. O que me choca nisto tudo é a incapacidade do brasileiro de romper com estes sistemas de pensamento, com os vínculos de classe que nos impedem de ir além das linhas gerais. Desconheço no Brasil, qualquer tese acadêmica que apresente os reais agentes desta força da natureza chamada corrupção. Além do caráter desumano e cruel de nossa elite. Poucas vezes, vejo colocarem o rabo no burro. E, quando colocam, tiram quando achar conveniente, relativizando a gravidade desta luta de classes tão massacrante que nos faz duvidar da existência de um único povo, uma única nação dentro deste país. Creio eu que, de fato, não sejamos. Mas, o que nos impede de nos apossarmos desta realidade, de encararmos os fatos, de aceitarmos de uma vez por todas que não podemos chamar de irmão, nem de patrício, nem sequer de colega alguém que trai nossa dignidade? Por que ainda teimamos em aceitar o jogo que força os que rompem os limites da não cidadania a esquecerem suas origens e abraçarem o sistema de valores do opressor? será só desânimo de ser honesto, como pensou Rui Barbosa?

          1. Obrigado, Edgar.
            Abraço,
            Mário.
            PS.: De pouquinho em pouquinho vamos entendendo toda a trama. Não há porque ter pressa.
            A sorte já foi lançada.

  11. Desvio de foco … os bandidos não são mais os deputados comprados, os ministros corruptos, um partido como o PT que “rouba mas faz” (só que não faz) …O problema são os “di-menor”.

    O problema de segurança é a impunidade. Se o Magno tivesse certeza de ser preso uma semana depois de começar sua carreira no crime, ele ia mudar a perspectiva e pensar melhor antes de entrar nesse caminho. O crime é incerto, mas o criminoso é incensado como heroi. Alias, você está justamente fazendo isso no teu texto. Transformando o criminoso em um “Anti-Herói” vitma da sociedade. O que seu amigo era é um ASSASSINO FRIO, E UM EXPLORADOR DO VÍCIO ALHEIO.

    1. Exatamente. Mas foi um garoto como eu. E ele me achava um babaca, um duro (de grana) um covarde. O que foi diferente entre nós? Nunca foi meu herói, herói a gente tenta imitar.

    2. Queria ver o Magno, com a mesma convicção, traficando lá na Indonésia!! Rapidinho o vagabundo iria arrumar um emprego!

      Tinha que haver pena de remoção de órgãos aos nossos congressistas! Tipo, roubou, arranque-lhe a córnea e doe para o próximo da fila de transplantes! As penas seriam cumulativas, praticou dois crimes, inclua um rim ou parte do fígado!! Sempre considerando, primeiro,órgãos duplos, claro! Roubou mais do que órgãos disponíveis! Não importa, paga com o coração, que resultará na morte!!

      Homofobia? O apenado terá que receber uma terapia de hormônio para ficar afeminado! O suficiente para crescer-lhe as mamas!! Ou o contrário para as mulheres!!

      Racismo? Terapia de pigmentação de pele, irreversível, e obrigatoriedade de uso de henê!!

      Coisas do gênero!!

      1. Ulisses.
        Eu também queria ver o helicóptero do Perrella com seus 450 kgs de pasta de coca lá na indonésia.

  12. Esse Cunha é um canalha, não se legisla em temas polêmicos em meio a uma crise, principalmente em temas críticos. Isso é a maior patifaria demagógica, pois aproveita-se uma ebulição momentânea para aprovar leis estúpidas. O juiz Moro é outro, do mesmo baixo nível de caráter e moral, que tentou empurrar a sua tese do fim presunção de inocência. É como dizem, dê poder para alguém é verá o que ele é realmente. O Moro e o MP com o poder que a mídia lhes deu tentando empurrar leis absurdas de poder usar provas ilegais e acabar com o princípio da presunção de inocência e o Cunha com a redução da maioridade penal, tudo para agradar a turba do ódio que tomou conta das ruas e, pior um ódio que eles mesmos, junto com a grande mídia enfiaram goela abaixo na alma dos brasileiros. Tempos sombrios.

    Ah! E para agradar a oposição e a direita hidrofóbica com todo seu aparato midiático e controle dos órgãos de investigação e julgamento (o MP e o Judiciário sempre foram elitistas por excelência e, infelizmente a PF fez questão de se colocar nesse mesmo patamar, que pensam ser de destaque, mas é de uma mediocridade atroz, estão todos se transformando em mariposas atraídas pelas luzes dos holofotes midiáticos, mas… as mariposas acabam secando sob essa luz…), que fizeram com que o povo brasileiro que era conhecido mundialmente por sua cordialidade e alegria, se transformar em grande parte num povo azedo, amargo e odioso, quero dizer sobre esse trecho “posso retirar, se acharem melhor”.

    1. Eduardo,
      Você tem razão em quase tudo o que disse. Ao final, porém, é preciso um pouco mais de reflexão:
      Vivemos num Brasil ainda. Um país muito jovem se comparados aos principais centros irradiadores de cultura do Mundo.
      Com o advento da informática, especialmente, da internet, e com a facilidade e instantaneidade de comunicação proporcionada por tais meios, e seus respectivos corretores de texto, suas técnicas de antecipação e redação automática de palavras, todo mundo acha inovador, prova de modernidade e de domínio dessa tal tecnologia. Nesse meio, e num país tão jovem, tão mal formado e tão erroneamente condicionado pela mídia fora da lei, onde ainda predomina a mais gritante falta de educação política, expressar-se nas redes sociais é produto da lei do menor esforço, e, na maioria das vezes mero processo de auto afirmamação.

  13. Ótimo texto. Mas eu sou a favor da redução da maioridade penal, pois acho um absurdo adolescentes maiores de 16 anos votarem, mas não poderem responder criminalmente por seus atos. Nenhum país sério tem a maioridade penal apenas aos 18 anos. O mundo mudou e a maturidade do jovem, também. Precisamos reformar a sociedade, mas demagogia com a “misericórdia” do povo brasileiro não é o caminho. Crime é crime e deve ser duramente combatido e punido.

  14. é esse o termo… também luto diuturnamente nas minhas vidas profissional, social e virtual na internet para não embrutecer… perfeito.

  15. Sou contra a redução da maioridade penal por duas razões bem simples:

    1) É mais uma variação do griteiro coxinha de direita que quer “proteger o seu mundinho” e se exploda o resto, que não está nem ai para resolver os graves problemas que atingem aquela parcela dos jovens do POVO “pobre, preto e petista (PPP)”;
    2) Reduzir a Maioridade Penal ANTES de melhorar a EDUCAÇÂO e com o tipo de Polícia e Justiça que possuímos (que tem de ser reformada) não só punirá os criminosos jovens mas levará de ROLDÃO uma enorme quantidade de jovens PPP que “parecem criminosos” aos olhos das Otoridades e dos isentos denunciantes coxinhas que vêem pivete e crime em todo lugar.

    Se reduzida a idade de maioridade penal, isso só gerará inexoravelmente uma coisa, enviará para a prisão uma horda mista de jovens criminosos e inocentes para “consumo” da população carcerária ADULTA. Uma máquina ampliada de moer cidadãos.

    E sem ser Mãe Dinah (já sendo) a talvez pequena porcentagem destes jovens pioneiros da tenra carceragem que de alguma forma sinistra forem capazes de SOBREVIVEREM este teste de Dawinismo hipócrita e selvagem até a fase adulta formarão uma nova geração de super-criminosos. Meliantes prolíficos e cruéis desde tenra idade e com um auto-justificado ÓDIO da sociedade HIPÓCRITA que desde sempre os abandonou a sua própria sorte nas masmorras desta mesma sociedade…

    Como Nação reduzir a maioridade penal é uma confissão de INCOMPETÊNCIA e ao mesmo tempo um erro COLOSSAL para o nosso futuro…

  16. Fernando Brito eu não sei aonde voce quis chegar com esta comparação: a da sua vida com a do seu amigo Magno.
    Mas uma coisa eu posso lhe garantir voce não trocaria a sua vida pela vida do seu amigo.
    Não adianta hipocrisias nesta hora.
    Temos que discutir este tema com muita responsabilidade e seriedade.
    Uma coisa é certa: os menores estão sendo usados. Muitos adultos marginais usam os menores. Só que estes menores vendo a impunidade a seu alcance estão deixando de ser funcionários para ser padrões. Tem menor que já cometeu mais crimes que muitos adultos bandidos. Paralelamente a redução da menoridade temos que discutir o papel educador do Estado. Uma coisa tem que ser feita. Não podemos mais suportar tanta violência. Quem sabe se adequarmos o Estatuto do Adolescente. Penas educativas maiores, com qualificação. Tratamento médico, psicologico. As Casas onde abrigam estes menores também precisam ser reformuladas. Parecem presidios da pior especie.

    1. Nossa Valdir que pobreza de capacidade de interpretação de texto a sua (digo isso não para te ofender, mas para você começar a racionalizar mais sobre as coisas e não comprar o “pacote” supostamente pré-racionalizado que alguns grupos lhe “vendem”). Só desenhando, não tem nada a ver o que você falou sobre o Britto fazer uma comparação da vida dele com a do Magno, esse não foi nem de longe o cerne do texto.

      A conclusão mais importante do texto você não passou nem perto de perceber. Leia esse trecho do texto do Britto:

      “Sei que não duro muito”. E, a seguir: “mas no que vou durar, tenho muito mais que teria”.

      Poucos meses depois, numa cilada, Magno ficou sob uma chuva de balas.

      Não sei se vinte e três ou vinte quatro anos, mais de uma bala por ano de vida, com a arma silente em sua mão.

      Não me oponho à pena de morte por convicções humanistas ou religiosas, só.

      Magno me ensinou para sempre que o medo de morrer não o tirava daquela vida”

      REPETINDO PARA VOCÊ ENTENDER:

      “Magno me ensinou para sempre que o medo de morrer não o tirava daquela vida”

      Percebe agora? Se nem o medo da morte retirava o sujeito daquela vida, você imagina mesmo que o medo da prisão irão afastar jovens que, em geral, vem de famílias desequilibradas, de parar de cometer crimes? É claro que não, infelizmente esses jovens se perderão e se tornaram o que são por conta de décadas de descaso da sociedade. Eles já vivem numa pressão psicológica constante, não vão retroceder por conta da pressão psicológica da redução da menoridade. Pior, farão como o Magno, que pensava ou pensa mais ou menos assim: “tenho consciência de que vou durar pouco, então, vou botar para quebrar no tempo que tenho”. Percebe o peso do “tempo que me resta” para quem não tem nenhuma outra expectativa de mudança de vida? Bem, reduza a menoridade que o crime irá se barbarizar, porque com “menos tempo” o sujeito SEM ESPERANÇA, vai partir ainda mais para o tudo ou nada.

      A solução é ir fundo nas causas do problema (o que tornou esses jovens assim) e não tentar curar os sintomas (violência – embora os dados mostrem que os menores infratores praticam basicamente roubo e são usados para o tráfico – apenas 1% dos homicídios são realizados por menores – coisa que a grande mídia faz questão de esconder da sociedade).

      Então meu caro, pense nisso “para quem não tem esperança, a morte não intimida, que dirá a prisão…”. E até nos EUA estão revendo sua política mais dura contra os menores, porque não resultou em nenhuma redução dos crimes praticados por eles. Imagine no Brasil, onde, diferentemente dos EUA esses jovens tem muito menos oportunidades (menos esperança), se a redução da maioridade vai mudar alguma coisa?

      Assim, o mais efetivo, pode ser mais caro financeiramente (o que é uma tragédia para o pensamento conservador da direita), mas é muito mais lucrativo para a sociedade como um todo num tempo mais adiante, que é trazer ESPERANÇA para esses jovens.

      1. Prezado Sr. Eduardo

        Esta sua filosofia é pura enrolação.
        Você disse e não disse nada.
        Não estou discutindo se sou ou não a favor da menoridade penal.
        O que eu quis dizer é que algo tem que ser feito. Na minha cidade por exemplo muitos homicídios estão relacionados com menores, sejam eles autores ou vítimas. Esta sua estatística de 1 por cento é furada. O Governo Lula e Dilma tem contribuindo para a melhoria deste quadro. Programas como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Pronatec, Ciencias sem Fronteiras, Prouni estabelecem condições mais favoráveis para os jovens, que podem viver mais dignamente. Mas as questões das drogas é muita séria. Todos os crimes praticados por menores tem droga no meio. Esta é a realidade. Chega de hipocrisia, Sr. Eduardo. Temos que sentar, discutir este tema: Por que menores estão indo mais facilmente para o crime? E quem abastece o mundo das drogas são os usuários. A elite hipócrita é quem mais financia este mundo das drogas. Algo precisa ser feito. isto foi o que eu falei. A situação está preocupante.

        1. Outra coisa, todos os meus amigos que desde muito cedo já praticavam pequenos crimes, como furto, hoje com cinquenta anos estão mendigando. Morando na rua. Temos que valorizar quem merece. O bom aluno, o jovem estudioso, bom filho não tem valor. Os valores estão se invertendo. Todo mundo merece uma chance, talvez duas, três. Agora desvalorizar quem merece não é certo. Infelizmente o menor pobre não tem vez. Já nasce massacrado pela Sociedade. O menor rico, nasce valorizado e se comete algo delito é sempre perdoado.

      2. O ponto nao é esse!!

        Reduza a maioridade penal e garanta que essas pessoas sejam punidas com celeridade! Pronto!!!

        Assim não importa quanto essas pessoas não temam ser presas ou mortas, elas serão presas!!!

        Não adianta alterar a menoridade penal se ninguém for preso, como acontece regularmente com quem já é imputável!!

        Poderiam usar a verba do minha casa minha vida para construir presídios!! Que tal?

        O que tornou esses jovens assim? A facilidade em cometer crimes e a completa impunidade!! Com essa polícia aí, essas estatísticas são uma verdadeira piada!! A polícia resolve cerca de 20% dos casos! Ninguém se interessa em julgar casos que envolvam menores, pois serão soltos em razão de uma lei paternalista!!

        Por que vcs acham que na favela ninguém rouba? Por que lá, diferente do resto da sociedade, as leis são rígidas e cumpridas! Não existe impunidade na favela! Vê, se alguém se atreve a transgredir alguma coisa por lá? Lá, a maioridade penal não existe, tampouco desigualdade de gênero!! Para que inventar a roda? Façam o que os próprios bandidos já fazem com relativa taxa de sucesso!!

  17. Eu não acho que seja uma posição de Sociedade..
    Acho que é politico, e pior de programa policial..
    Nossos jovens perderão para programas de TV, e para
    politicos mal intecionados, ou pior que nem intenções
    tem, são muito estupidos e parasitas para ter algum
    vislumbre de Sociedade..
    São doentes..pervertidos, amorais, nem sei se são pais..

  18. Não passa de populismo legislativo medidas como a redução da maioridade penal.

    Colocar um adolescente de 16 anos numa das nossas masmorras carcerárias só vai prepará-lo para continuar delinquindo.

    Sem contar que a esmagadora maioria será de jovens pretos e favelados.

    Quer dizer, o Estado não tem competência para educar, cuidar, então ele prende a arrebenta.

    É muito cinismo o discurso contra a impunidade usar medidas como essa para combater o crime.

    Fala-se muito no sistema legal e penal americano. Lá existem 3 milhões de presos, mais de 60% são negros e latinos, sendo que esses dois grupos não representam 30% do total de norte-americanos. Ou seja: usa-se a lei para se livrar dos “indesejáveis”.

    Muitos vão dizer: “Ah, mas eles cometeram crimes, têm que ser punidos.” Desconsiderando os que o levou a atividades ilícitas, desconsiderando a falta de oportunidades.

    E um detalhe ainda mais importante, nos Estados Unidos, como no Brasil, as regiões mais pobres são as que mais sofrem com a intervenção policial, portando se tornam mais vigiadas, aumentando assim a probabilidade dos seus moradores serem presos.

    Os pobres não são mais criminosos, são mais vigiados. Um jovem morador da periferia tem muito mais chances de ser apanhado com uma pequena quantidade de maconha do que um jovem de classe média, por simplesmente o primeiro já ser estigmatizado. Não que ele não esteja cometendo um crime, mas o Estado decidiu antecipadamente que o jovem pobre e periférico é mais perigoso e precisa ser vigiado.

    Antes de pensar em reduzir a maioridade penal, o Estado tinha que dar condições plenas a todos, do contrário, com esse tipo de populismo, o Poder Público só está admitindo o seu fracasso e a sua falência.

  19. Fernando.

    Aparentemente discordamos de muita coisa mas percebo que vc é um cara inteligente e articulado, embora voltado para o Mal do Socialismo e de uma Sociedade que se pretende ser justa, contrariando o que somos, humanos, injustos que produzem uma sociedade injusta que será sempre injusta, cujo objetivo de cada um é acumular capital o máximo possível dentro de suas limitações humanas, ou, dizendo de uma forma marxista “passar para o outro lado da luta de classes, a que está vencendo”.

    No seu caso e de seu “amigo” ficou claro uma coisa: ambos tiveram chance, vc aproveitou, estudou, progrediu, preferiu não ter carro e não abusar das regalias que a vida fácil do crime ofereceu, ralou e em que pese a forma de pensar, atingiu um relativo sucesso, materializado neste blog. Desejo uma vida boa a vc.

    O outro, pegou o “atalho” do crime, conseguiu bens. carros, mulheres, morreu com 24 anos. Merecido, bandido bom é bandido morto!

    Sou evolucionista social spenceriano, só os melhore sobrevivem e se alguém está bem hoje é porque ou fez por merecer ou algum antepassado, ao invés de “curtir a vida” deu duro, correu atrás para construir uma vida melhor, aproveitou a chance que teve. Alguém dormia enquanto outros trabalhavam.

    Atc
    Dilter

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