O caso, triste e trágico, da morte do médico Jaime Gold ilustra como poucos – de como se faz propaganda com ares de jornalismo neste país – e com muito apoio, é certo, de parte da polícia e das instituições judiciais.
Primeiro, pelo “o caso está esclarecido” que, até agora, mudou três vezes de assassino, como naqueles joguinhos viciados de malandro, onde as forminhas de empada são trocadas de um lado para o outro para que se descubra onde está o grão de feijão. (Sobre isso, veja o ótimo texto da jornalista Sylvia Debossan Moretzsohn, no Observatório da Imprensa).
Depois, e sobretudo, pelo clima de histeria que se construiu em torno do uso de uma faca – como se o grave, gravíssimo, não se tratasse de um assassinato,com que arma ou e onde fosse – e da ideia de que havia, de repente, surgido uma legião de marginais a fazerem assaltos com peixeiras.
Há ladrões usando facas e, se alguém acha que não, pode me perguntar, porque fui assaltado a faca no final dos anos 70, quando “dei mole” e atravessei a Avenida Presidente Vargas por uma passarela, às 22 h, em lugar de cruzá-la em meio aos carros em alta velocidade.
Mas, os jornais, na ânsia de explorar a comoção de um assassinato na Lagoa, despejaram uma chuva de punhais sobre a cidade.
Deputados e colunistas da Veja se mobilizam para “se o bandido usa faca, então o cidadão de bem também pode andar com uma – vamos todos andar de peixeira!”
Agora, os dados do Mapa da Violência mostram que, ao revés- embora mate-se muito no Rio de Janeiro- é aqui que menos se mata a facadas.
5,2% das mortes, perto de um terço da taxa de Minas, São Paulo e Rio Grande do Sul. Menos de um quarto dos 22,6% da taxa de emprego de armas brancas na pacata Santa Catarina.
Mata-se muito, repito, mas o “x” do problema está longe de ser a faca, mas a criminalidade que sorve parte de nossa juventude e a banalização da violência, feita todos os dias pelas empresas de comunicação.
E, mais que tudo, a ideia de que somos fadados a sermos inferiores, que “o Brasil não tem jeito” e que, afinal, “só matando, mesmo”.
Facas, armas, cadeias a granel – quem sabe, logo, cadeiras elétricas? – tudo para enxugar o gelo de uma sociedade que se urbanizou, se agigantou e se modernizou mas perdeu suas referências de valores pessoais e sociais, porque há quarenta anos lhe inculcam que o possível aqui é ter sucesso fugaz e dinheiro rápido, como se as conquistas materiais de uma vida não fossem lentamente construídas com os anos, mesmo para quem tem esforço e capacidade.
Os meus caros colegas irão dizer que amanhã a percentagem reveladora estará nos jornais e se terá cumprido a missão de informar “ouvidos os dois lados”.
Que dois lados, o da exploração histérica e o da verdade discreta?
Olhem os comentários dos sites dos jornais e vejam como é quase inútil repor a verdade.
Já há uma matilha de lobos urrando, dizendo que é mentira, que as facas voam e assobiam a cada esquina e eles se encarregam de repetir, cada vez mais agressivos, o coro que impede qualquer discussão séria sobre o que é sério: a defesa do direito de vivermos numa situação minimamente pacífica e segura para os cidadãos, todos os cidadãos.
As facadas da mídia sobre a mente de seus leitores fazem feridas difíceis de curar e não raro infeccionam o tecido social.
Deixamos de amar a vida, a educação, o convívio sadio e múltiplo de uma sociedade e passamos a viver de medo e de ódio, em nome de um desejo de paz que, hipocritamente, apregoam.
12 respostas
Erros médicos também matam muito! Vou começar à andar com um bisturi pra me proteger!
Todo este noticiário é para fomentar a ideia de redução da maioridade buscar meios para instituir a pena de morte mais a frente São ideias ultrapassadas de quem não teve ou tem coragem de buscar soluções para a violência pela inclusão, educação, diálogo direitos e deveres para todos. e se dizem cristãos !!! Mais uma armação dos que querem ir para Miami.
As doses de pessimismo,que a famigerada globo traveste de “jornalismo” e insiste em injetar no ânimo dos brasileiros,deixei de assistir faz anos.Depois parei de assistir o boechat e seus comentários idiotas carregados de ódio,ao PT é claro,na bandeirantes.Por último desisti de assistir também a Record,que seria a emissora a fazer a diferença,mas transformou-se também em mais uma a repetir como papagaio,(ou seria maritaca?)o que o PIG divulga com o se verdades fossem,ou seja se abdicou de praticar um jornalismo isento e independente.Minha saúde está agradecendo.
se com faca, revolver, porrete ou pancada mesmo o instrumento é secundario; o que é importante e muito triste é a quantidade de assassinatos no brasil; e pra envergonhar mais ainda: estariamos falando desse crime até agora se ao invés do médico a vitima tisseve sido um porteiro ou um frentista, por exemplo?
O massacre do Paraná , quando o governo tucano mandou bala na população de professores, ou quem quer que fosse, foi considerado normal, por essa mesma imprensa sensacionalista.
O negócio é assistir somente Discovery,History, NatGeo, AXN, TNT, CINEMAX, ANIMAL PLANET, PARAMOUNT, SONY, WARNER , FOX , UNIVERSAL, FOX SPORTS E ESPN, e deixar a nossa imprensa moribunda morrer mais rápido.
Assim como, foi considerado normal, e esquecido, o MASSACRE de brasileiros na REVOLTA do CONTESTADO, quando brasileiros foram obrigados a deixar suas terras para as multinacionais que pagaram ninharia por elas. O entreguismo criou raízes profundas em nossa Pátria e
“Já não é razoável que essa cultura (de impunidade e entreguismo AVILTANTES de nossas ZELITES) se mantenha entre nós”.
“O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES – O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÃO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”
Quando a mídia quer ela transforma qualquer assunto na pauta do dia e põe os incautos a discutir o que ela quer e deixar passar batido o que ela esconde das manchetes.
“Já não é razoável que essa cultura (de impunidade e entreguismo AVILTANTES de nossas ZELITES) se mantenha entre nós”.
“O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES – O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÃO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”
Sempre concordo com você, Fernando.
Mas segue um questionamento para todos nós.
Acho esquisito que os ladrões estejam esfaqueando as pessoas, mesmo sem que haja reação, mesmo as pessoas entregando seus pertences. Estão agindo da mesma maneira.
Parece algo orquestrado.
É o roteiro da mídia lixo, com seu jornalismo de mercado de peixe. Ocorre um crime chocante, a mídia faz o sensacionalismo de costume, em seguida vai em busca de mais casos assemelhados, pois deduz que dará igualmente audiência. Contata as delegacias, procura até encontrar e os noticia, fazendo toda uma encenação, como se houvesse de repente uma epidemia daquele tipo específico de crime, e assim vai alarmando, assustando e estressando a população.
Com toda essa desinformação e deformação dos fatos, o que pode acabar ocorrendo é que esse tipo de crime pode mesmo vir a aumentar, pois a mídia faz a propaganda e cria modismos.
O alarmismo é uma das armas “brancas” com que a mídia golpeia a sociedade.
(Caos aéreo, epidemia de febre amarela, hiperinflação do tomate, não vai ter copa, não vai ter luz, crise econômica, crise política, etc).
Caro Fernando, concordo com tudo que vc diz sobre a exploração da violencia, da agenda conservadora e etc. Mas acho que o uso de uma estatistica de 2013 enfraquece seu ponto. Em 2013 ninguem falava de uso de facas no RJ.
Isso de a imprensa mastigar até o bagaço um tema que mexe com o imaginário de terror de uma sociedade é padrão para se manter essa sociedade refém dos políticos que vão “protege-la”. Enquanto isso, os verdadeiros crimes que afanam milhões ficam escondidos nos interesses escusos desses políticos. Igual a truques de mágico, a mão que desvia o olhar do espectador deslumbrado é para não ver a verdadeira artimanha que faz a outra.