‘Mercado’ que dá chilique por comida não vê potencial na COP

Enquanto nossa “imprensa de mercado” segue fingindo pavor com o tamanho da PEC da Transição e exigindo que Lula designe o que pretende seja seu delegado no Ministério da Fazenda, a fim de que possa, desde logo, “domesticá-lo” a seus interesses, é paupérrima e superficial a cobertura do que será, a partir de amanhã, a reinserção do Brasil na principal agenda econômica do planeta no século 21, a desesperadora necessidade de reverter a destruição ambiental e suas consequências climáticas.

Nada mais próprio da mediocridade de uma elite que só consegue ver o país como um entreposto comercial e, pior ainda, sequer capaz de, mesmo na produção e comercialização de bens primários, enxergar alguma coisa diferente de um contínuo aumento de oferta, ainda que isso só agrave a injustiça e a ruína dos termos de troca internacionais.

Eles acham que “agenda ambiental” para o Brasil se resume a conseguir umas quantas “doações” ou “empréstimos a fundo perdido” para o país, apenas para se refletirem em comerciais institucionais de televisão para governos e empresas ou páginas coloridas em seus relatórios de “responsabilidade social e ambiental”. No máximo, alguma coisa que “entre” no tal mercado de “créditos de carbono”, uma historinha que ouvimos há mais de uma década, sem produzir resultados reais nas economias periféricas como a nossa.

Quando pensam na participação brasileira na questão o fazem pensando assim, na qual o sucesso é apenas uma boa barganha financeira, na qual um Brasil “esperto” faria uma espécie de chantagem com seus ativos ambientais, como a Amazônia.

Não é isso que verão a partir de amanhã.

Lula vai propor algo muito além disso. Vai colocar o Brasil à frente de uma proposta de um acordo mundial muito mais complexo que isso, no qual os países importadores de energia e alimentos assumam responsabilidades pelos danos que a produção destes bens cria ambiental e socialmente para as nações que precisam desta exploração para suas economias funcionarem e atenderem – ainda que mínima e insuficientemente – às necessidades de suas populações.

O Brasil, através dele, não vai condicionar a isso a fixação de suas metas ambientais e muito menos colocar suas ações sob o controle internacional. Não precisamos de bravatas amazônicas, como fez o governo que se encerra, para isso.

O que será posto é que não se trata de uma opção para as economias mais fortes assumir uma postura diferente daquela que drenou recursos e riquezas naturais do mundo colonizado durante séculos. Será dizer que é isso ou o suicídio, porque o planeta é uno e indivisível quando se trata da sobrevivência dos povos e que não fazem nenhum favor aos países em desenvolvimento ao definirem regras e iniciativas que estimulem, inclusive na economia, as condições sociais para que o ambiente seja preservado e, até, recuperado naquilo que for possível.

Esta é a posição necessária para, ao longo dos próximos meses, chegar a iniciativas concretas na governança mundial e a chave para que o Brasil assuma uma posição decisiva na sua formulação.

O Brasil da Cop-27 não será um pedinte, mas um líder, se quisermos ir a algum lugar.

Mas isso é, de fato, um raciocínio complexo demais para uma mídia e uma elite financeira que acha que não podemos ir além de passar o chapéu.

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