Começo o dia lendo a matéria da Folha sobre o suposto “exagero” das obras ferroviárias planejadas pelo Governo Federal, entre elas a Ferrovia Bioceânica, que a China pretende financiar.
“Para justificar as obras, safra de MT teria que quadruplicar“, chama a matéria, para narrar a “inviabilidade econômica” das obras, que teriam escala faraônica.
Bom, a primeira coisa incompreensível é porque a comparação “só” com a produção de Mato Grosso, embora este seja, longe, o maior produtor de grãos brasileiro, com quase um quarto da produção nacional.
Diz que a produção do Mato Grosso é de 50 milhões de toneladas, que deve passar a 100 milhões em 10 anos e que a capacidade de carga das ferrovias é de 200 milhões, o que daria a eleas uma ociosidade em torno de 50%, no caso de escoarem-se por ela todos os grãos.
A conta é errônea e “plantada” aos repórteres por gente que quer colher apenas desgaste político e suspeitas morais contra o Governo, sem nenhuma preocupação com esta “abominável” ideia de desenvolvimento nacional.
E na mistificação se “embarca” pela simples razão de demonstrar uma sabedoria maior que a dos planejadores e estudiosos de logística que propuseram as obras- todas elas com interessados – e desconsideram aquilo que é evidente.
Por que?
Primeiro, obvio, porque as ferrovias não cruzam “só” – que imensidão! – o Mato Grosso, mas Goiás, Tocantins, Rondônia, Pará e São Paulo e um trecho ao Norte do Mato Grosso do Sul, justamente aparte daquele estado onde a produção e grãos se concentra.
Segundo, porque a evolução da produção tem ligação direta com a facilidade de escoamento, porque isso interfere no preço do frete, que custava cerca de 90 dólares por tonelada, em janeiro deste ano, quando a tonelada do grão era vendida ao exterior alcançava no máximo 565 dólares.
Portanto, o frete – que é o decisivo em ferrovias – representava, no mínimo, 16% do valor do produto. Não precisa ter estudado economia em Harvard para saber que isso pesa estupidamente numa commodity de preço formado em escala global.
E, finalmente, a pergunta evidente: faz-se uma ferrovia para estar com sua capacidade esgotada? Pior, nem isso, porque várias das mostradas como “exageradas” só estarão prontas – é da natureza da obra ferroviária, isso – daqui a vários anos, talvez mesmo no limite destes dez anos em que se prevê a obra.
Ajudo, com o gráfico ao lado, a verem como o Brasil precisa desesperadamente de ferrovias para competir com países de extensão semelhante.
Depois, se você não faz a via principal, não pode, depois, fazer as obras de otimização do uso: duplicação de trechos, para reduzir o número de cruzamento de comboios, novos pontos de embarque ou ampliação da composição, etc….
Porque estas ferrovias serão insuficientes em 20 ou 30 anos. E ferrovia se faz para prazos assim ou maiores.
E nem assim, se olharmos a evolução da produção.
Mesmo aceitando ficar “só” no Mato Grosso, o que aconteceu com a produção de soja.
Em 2000, eram 10 milhões de toneladas. Em 2010, 20 milhões. Este ano, 27,6 milhões de toneladas.
No Brasil inteiro, ela passou de 16 milhões de toneladas em 1990 para mais de 70 milhões em 2010 e 95 milhões, este ano.
Mais que quintuplicou em 25 anos.
Vou poupar-me e ao leitor sobre adjetivos em relação à sabedoria da reportagem.
Tenho, afinal, piedade com a mente simplória, como a do pai do taxista que, uma vez, suspirava num engarrafamento de final de tarde no Eixo Monumental de Brasília, aflitos, eu e ele, com a hora do embarque num voo.
– Cada vez que fico parado aqui lembro do meu pai, que veio para cá na construção da cidade. Ele dizia que o JK fez uma avenida deste tamanho porque estava roubando.
-Como assim?
-Ele teimava que o JK tava ganhando propina por metro de asfalto. Porque não tinha carro para uma estrada desta largura. Coitado do velho, morreu faz muitos anos. Não foi capaz de ver isso engarrafado deste jeito para ver como não era muito, era pouco.
Imagino se não apareceu um repórter para escrever, lá em 1960: “Para justificar o Eixão, frota de veículos teria de centuplicar”.
20 respostas
É estarrecedor o nível a que chegou a nossa imprensa. Passei a vida toda acompanhando as maiores aberrações em termos de construção de obras de todo tipo, todas elas, sempre subdimensionadas, mostrando uma mediocridade e um desconhecimento enormes em termos de planejamento, daí, quando ocorre o correto, esses quadrúpedes da nossa mídia dizem essa asneira.
Uma ferrovia não transporta só grãos. Minérios, produtos siderúrgicos e carnes também. Este vale tudo do jornalismo pigal me traz a imagem de um abraço de afogados, puro desespero de quem está no fim da linha.
E ainda Fernando que não serão somente grãos a serem transportados. Há minério, muito minério e outras tantas mercadorias tanto daqui para lá e de lá pra cá (falo de toda navegação via pacífico).
É preciso ser piedoso, Paul
Engraçado que a Folha nunca contestou o preço do rodoanel de São Paulo: mais de 5 bilhões de reais para construir uma estrada de 43 quilômetros. Um quilômetro custando mais de cem milhões de reais. Aliás, mesmo os blogs “sujos” deram pouca importância a esse absurdo. O Tijolaço não poderia dar uma averiguada nisso?
Quando não se tem notícias, planta-se alguma coisa nos projetos do governo federal … É o pig no volume morto da moral …
Hello, a usina de três marias em minas gerais construída por JK, na época também foi considerada um elefante branco.
É antinacionalismo puro, somado ao complexo de vira-latas e a sabujice de jornalistas de mentes colonizadas que aceitam publicar informações “plantadas” sem um mínimo discernimento ou questionamento. Não há outra explicação!
Adoro os burro e jumentos, animais trabalhadores e competentes que ajudam a construir essa nação ao contrario desse jornalismo coxinha, manipulador, mentirosos, incompetente , chantagista e entreguista, que nada constrói e se não existisse o Brasil estaria muito melhor.
Pois é, bom mesmo é o metrô de SP. Neste não há a menor ociosidade.
Brito, eu queria ser uma mosca para ver a cara do editor de economia da Folha lendo esse texto demolidor e humilhante que você escreveu. O atual baixo nível e parcialidade do jornalismo brasileiro é de fazer chorar.
No Brasil, todos acham que sabem mais do que os outros, principalmente mais que os técnicos de futebol e presidentes da república… e agora, mais também do que os empresários e donos de grandes companhias … é impressionante o tamanho do ego – e da cegueira – dessa gente!
A classe dominante paulista não passa de um amontoado de oligaecas rurais incapazes e incompetentes. Esses pulhas desde o imperio vêm roubando os cofres da união e dizendo que são a locomotiva do país. São tão incapazes que têm um pavor incapacitante de um simples metalúrgico que fez o que? Botou o pais dele entre as 7 maiores economias do mundo. Enquanto isso o que virou sao paulo nas maos dessa elite canalha e incapaz? De 34% do pib passaram a 22%. Isso prova o que? Que a pretensa pujança de sao paulo se sustenta no assalto aos cofres federais. O exemplo mais recente disso é a proposta do canalha do serra da sabesp parar de pagar tributos federais que são menores que os estaduais para investir na ampliação das reservas de agua. Então os pulhas privatizam (é sempre assim apropriação de bem püblico de graça) lançam ações em novaiorque (é assim mesmo, é para ofender o purismo linguistico do coxinato) pagam 5 bilhões em dividendos, quebram a empresa e agora querem a grana do governo federal. Vejam ja que o post trata de estradas qual a origdm das apregoadas estradas paulistas? Emprestimos em dolar sem controle feitos no exterior pelo sr. quercia que, esse sim roubou até a mãe da velhinha de taubate. Pra onde foi a divida no governo fdphc? Para a união!!! Pra que serviu o proer? Literalmente para salvar os bancos paulistas falidos. Onde estão os usineiros paulistas? Falidos! A imprensa? Falida! E isso tudo é culpa do governo fedetal que não deixa mais eles meterem a mão descaradamente nos cofres da união. Note bem a grana desses canalhas falidos está em paraísos fiscais. Essa canalha tem que ser posta pra fora do Brasil. Vão pro inferno, pros quintos dos infernos, miami por exemplo, monte de incompetentes incapazes e parem de encher o saco de quem trabalha, vigaristas vagabundos entrguistas e mais levem as respectivas mães com as panelas.
P q o pariu, é tudo o q penso. No passado eles não dominavam nenhum oficio. Tudo era feito, manufaturado pelo escravo. Não sabiam nem selar um cavalo. Deveriam ser expulsos do Brasil. Exilá-los em Boca Raton, Miami.
A mídia reverbera os engenheiros que gostam de fazer obras “já anacrônicas”.
É o que vemos dia a dia nas grandes cidades. O Trânsito impraticável piora em função de uma obra de mobilidade que, quando pronta (5 anos depois de iniciada), já é velha, por que o trafego rodoviário antes de, digamos, 100mil carros, já esta em 150mil carros, e a obra foi programada para 100mil carros.
Bom, típico factóide querendo dizer ser errado planejar, pensando em desenvolvimento…
Nessa ânsia de falar mal do governo federal a todo custo, sempre, em qualquer notícia, a grande mídia está enterrando o restinho de credibilidade que ainda tinha. Nem as pessoas mais ingênuas vão deixar de perceber que está havendo uma grande tentativa de manipulação da informação.
Os chineses não entendem nada de comércio. Deveriam ler mais a Folha para se aprimorar.
Proclamaram a republica justamente por vingança pela Abolição da escravatura no Brasil. Então, o progressista era o rei D. Pedro II. Ironia da nossa história. Até o monarca evoluiu, mas a nossa burguesia é a mesminha de sempre. Ainda teremos uma guerra civil?
Com a Abolição eles detinham uma fatia imensa do PIB brasileiro. Viraram financistas. Até hoje. Gostam de Selic gorda. D. Pedro II saiu modernizando a cidade do Rio prá tudo quanto é lado e os malandros mamando os juros governamentais. Até hoje.
O ponto de vista da Folha é o de um legítimo udenista-paulista da melhor cepa. A UDN chegou a convocar os mineiros do vale do Rio Grande para pegarem em armas e resistirem à construção da hidrelétrica de Furnas, destinada a gerar 1/3 da energia do país na época, e fundamental ao plano de Juscelino Kubitschek para a industrialização do Brasil.