Um país que não investe não cresce. BNDES desembolsa 38% a menos em 2016

bndes2016

Se você tem um amigo empresário, pergunte a ele se existe alguma chance de ele tocar um projeto de expansão de sua empresa com crédito de outro banco que não seja o BNDES. Banco privado é forca para se livrar de forca, só.

E se tiver um amigo que tenha sido gestor de obras públicas, pergunte a ele se há alguma grande obra de interesse social ou de indução ao desenvolvimento – nacional, regional ou local – que não seja financiada em parte pelo banco de desenvolvimento.

Eu mesmo só conheço uma: os Cieps, no Rio de Janeiro, porque o Sarney não dava nem bom dia ao governo de Brizola. Tinha crédito para o Orestes Boi no Pasto Quércia reformar o interior dos aviões da Vasp, mas não pra fazer escola.

Pois a mais importante ferramenta do país está sumindo.

Dados divulgados hoje mostram que os desembolsos do banco caíram 38% em valores reais este ano.

Menos obras, menos fábricas, menos pontes, estradas, viadutos, usinas, plataformas, navios e segue a lista o quanto você quiser.

Na infraestrutura, recuo de 51% entre janeiro e outubro de 2016; comércio e serviços -40%; na indústria, – 20%,  e no setor agropecuário, -6%.  Por porte das empresas, queda de 36%  em valores correntes para as micro, pequenas e médias empresas.

Mas vai melhorar?

As consultas, passo inicial do crédito, tiveram  queda de 18% frente ao mesmo período do ano passado. Os enquadramentos, etapa seguinte na concessão do crédito, na mesma base de comparação, com uma queda nominal de 17%.

Austeridade? Não, paralisia econômica mesmo, provocada sobretudo por três fatores: a retração econômica (se minha fábrica só usa 70% da capacidade, porque ampliá-la?), a ruína das administrações públicas e o desmonte das construções pesadas feito pela Lava Jato.

E um duplo prejuízo para o Banco e para o país. Não só não se cumpre seu papel de instituição de fomento econômico-social como não lucra, porque um banco ganha é emprestando dinheiro.

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email

12 respostas

    1. Evidente que tudo isso é proposital. O objetivo é destruir as forças de sustentação do país. Se tiverem chance, vão exigir também a destruição da um Pernambuco live, um Sul livre, uma amazônia livre, um São Paulo livre. E ao fim, estaremos reduzidos a um punhado de uruguais e paraguais com diferentes graus de subdesenvolvimanto, que ficarão se hostilizando entre si. Este é o objetivo supremo deste golpe anti-nacional. Vamos nos inspirar nos Tenentes! Vamos acordar o espírito de Caxias! Vamos reacender o amor à Pátria, antes que seja tarde demais!

  1. A maioria dos grandes empresários pegam o dinheiro e vivem do rendimento. Emprestar só para micro empresa…

  2. Bem feito,que batam panelas, e os sindicatos, CUT, MST, petroleiros e outros que se f… Não fizeram nada pela nossa presidenta… Cadê a greve geral? Cadê o país que iria virar um inferno se o golpe saísse??? É cada um por si…

  3. Enquanto a greve geral dos mortadelas não vem, a polícia vai descobrindo que o Lula do Rio era tão devotado ao seu mestre que também colocava bens em nome de amigos que os emprestavam. O esquema é o mesmo, a diferença é que no caso dele não eram sítios ou apartamentos de luxo, mas, como convém ao seu nome, embarcações:
    “O depoimento de um marinheiro à operação Calicute reforça uma convicção dos agentes: o iate Manhattan, que custou R$ 5 milhões, pertence a Cabral, embora oficialmente esteja em nome da empresa MPG, de um ex-assessor seu. Usada por Cabral e sua família, a embarcação foi apreendida pela PF na última quinta-feira”.

      1. Pois é, a Anta lançou a mentira de que o Cabral nunca foi seu aliado e logo o pessoal recuperou os inúmeros vídeos em que ela e o Molusco aparecem junto com ele, em campanha política inclusive, nos quais se percebe a grande afinidade entre os participantes. São longos e irrefutáveis vídeos, disponíveis para todos que queiram relembrar o passado recente. Coisa chata para os petistas, não? Essa Internet nem os deixa mentir mais. Melhor fazer como os blogueiros do PT, que em casos como esse fazem de conta que o assunto não existe.

  4. Impossível ler este artigo do Washington Post e não pensar no Brasil e na Lava Jato. Até parece que ela foi uma espécie de derramamento do autoritarismo imperial moderno, que começou com Bush e se expandiu enormemente sob a docilidade falsificada de Obama:

    Glenn Greenwald: Trump terá vastos poderes. Ele pode agradecer aos democratas por eles.

    https://www.washingtonpost.com/posteverything/wp/2016/11/11/glenn-greenwald-trump-will-have-vast-powers-he-can-thank-democrats-for-them/?utm_term=.3a17b564b154

    Os liberais gostaram da autoridade executiva, desde que Obama a exercesse. Agora eles estabeleceram um precedente.

    The Washington Post
    11 nov 2016
    A trilha interna na política de Washington.

    Por Glenn Greenwald

    Os liberais estão compreensivelmente em pânico sobre o que Donald Trump pode realizar. “Nós temos um presidente eleito com tendências autoritárias assumindo uma Presidência que nunca foi mais poderosa”, escreveu Franklin Foer semana passada na Slate. Trump irá comandar não só um arsenal nuclear maciço e os militares mais robustos da história, mas também a capacidade de realizar inúmeras guerras em segredo e sem autorização do Congresso; um sistema onipresente de vigilância eletrônica que pode atingir a maioria das formas de comunicação e atividade humana; e inúmeros métodos para se proteger da responsabilidade judicial, da supervisão do Congresso e do Estado de Direito – exatamente o que a Constituição foi criada para impedir. Trump assume a presidência “no auge de seus poderes imperiais”, como disse Foer.
    O Senador Barack Obama certamente percebeu isso quando de sua primeira candidatura a presidente, em 2008. Limitar os abusos do poder executivo e proteger as liberdades civis foram temas centrais de sua campanha. O ex-professor de direito criticou repetidamente o modelo Bush-Cheney de investir o presidente com autoridades não controladas, em nome da luta contra o terrorismo ou da obtenção de outros objetivos políticos. “Esta administração também apresenta uma falsa escolha entre as liberdades que prezamos e a segurança que oferece”, ele disse em 2007. Listando um conjunto de políticas controversas de Bush-Cheney, desde vigilância doméstica sem mandado até investigações e prisões livres do devido processo, ele jurou: “Vamos novamente dar um exemplo para o mundo de que a lei não está sujeita aos caprichos de governantes teimosos”.
    No entanto, a partir de seu primeiro mês no cargo e prosseguindo até hoje, Obama não só continuou muitas das políticas de poder executivo mais extremas que uma vez condenou, como em muitos casos as reforçou e ampliou. Sua administração deteve suspeitos de terrorismo sem o devido processo, propôs novos enquadramentos para mantê-los presos sem julgamento, visou milhares de indivíduos (incluindo um cidadão dos EUA) para execuções por drones, invocou doutrinas secretas para proteger a tortura e programas de espionagem da revisão judicial e, secretamente, expandiu a vigilância eletrônica em massa da nação.
    Cegos pela crença de que Obama era demasiado benevolente e benigno para abusar do seu cargo e se afogando em lealdades partidárias à custa de princípios políticos, os democratas consagraram esse quadro com sua aquiescência e, muitas vezes, sua aprovação explícita. Esse é o conjunto desenfreado de poderes que Trump herdará. O presidente eleito os assusta, então eles estão agora alarmados. Mas se eles quiserem saber a quem culpar, deveriam olhar no espelho.
    A virada de aproximação de Obama ao poder executivo aconteceu tão rapidamente e diametralmente que é impossível dizer se ele alguma vez acreditou na contenção que professava na era da campanha eleitoral. Já em Maio de 2009, Jack Goldsmith, um funcionário do Departamento de Justiça na gestão George W. Bush, comemorou o abandono por parte de Obama de suas promessas para conter o autoritarismo, escrevendo que “a nova administração tem copiado a maior parte do programa de Bush, expandindo alguns deles e diminuindo apenas um pouco “. Ele acrescentou que “as práticas de Obama estarão muito mais próximas das práticas de Bush do que quase ninguém esperava em janeiro de 2009.”
    Ao colocar uma face liberal mais bonita nessas políticas e transformá-las de um símbolo do radicalismo GOP em um dos consensos bipartidários de segurança, o presidente entrincheirou-os como elementos permanentes da presidência americana. Como disse Goldsmith, as ações de Obama foram “destinadas a fortalecer para o longo prazo a maior parte do programa de Bush”.
    Os liberais denunciaram veementemente esses abusos durante a presidência de Bush. De 2001 a 2008, os democratas chamaram-lhes a personificação da tirania, uma ameaça existencial à democracia, uma expressão ameaçadora do radicalismo de direita. “A Constituição dos Estados Unidos está em grave perigo”, Al Gore advertiu em um amplamente elogiado discurso de 2006 sobre as liberdades civis. Bush se tinha tornado “a ameaça central que os fundadores tentaram anular na Constituição, um executivo todo-poderoso, também uma reminiscência do rei de quem tinham se livrado.” Em uma sondagem de 2007, 57 por cento dos democratas disseram que queriam que o campo de prisão de Guantanamo Bay fosse fechado.
    Mas depois que Obama assumiu o cargo, muitos liberais muitas vezes toleraram – e até mesmo elogiaram – suas agressivas afirmações de autoridade executiva. É difícil exagerar o quão completa foi a reviravolta dos democratas sobre estas questões, uma vez que seu próprio líder controlava as alavancas do poder. De acordo com uma pesquisa de 2012 da ABC News em Washington, 53 por cento dos democratas liberais auto-identificados e 67 por cento de moderados ou conservadores agora apoiavam manter Guantánamo aberta . Depois de apenas três anos da presidência de Obama, os liberais sancionaram um sistema que permitia ao presidente prender pessoas sem nenhum julgamento e sem qualquer vestígio do devido processo.
    De fato, uma nova ortodoxia do Partido Democrata tomou posse sob Obama: o direito de um presidente para deter pessoas, ou mesmo assassiná-las, sem acusações ou sequer um sopro de fiscalização judicial. Isso incluiu até cidadãos americanos. “Nós não acreditamos que a cidadania estadunidense de al-Aulaqi imponha limitações constitucionais que impeçam a ação letal contemplada”, pelos militares ou pela CIA, proclamou um memorando do Departamento de Justiça em 2010.
    Os Democratas (que tinham se queixado amargamente em 2005 acerca de mera espionagem sem autorização judicial) não só não conseguiram contestar este programa de assassinato, mas em última análise, manifestaram o seu apoio a ele. “77 por cento dos democratas liberais endossam totalmente o uso de drones”, de acordo com a resenha da pesquisa de 2012 da ABC. O apoio cai “apenas um pouco quando os entrevistados são especificamente questionados sobre os cidadãos americanos que vivem no exterior, como foi o caso de Anwar al-Awlaki, o americano iemenita morto em setembro em um ataque com drone no norte do Iêmen”.
    Essa mesma dinâmica – os democratas a aprovarem vastas expansões dos poderes executivos – repetiu-se várias vezes, tanto no âmbito da segurança nacional como fora dele. Obama emitiu vários decretos que pretenderam anular obrigações legais invocando privilégios de sigilo radical para evitar ações judiciais, corrompeu os tradicionais direitos da Lei Miranda para suspeitos de terrorismo, travou uma guerra na Líbia mesmo depois que o Congresso negou sua autorização e inaugurou novos meios de usar ordens executivas para contornar a aprovação do Congresso (ou seja, democrática) em uma ampla gama de arenas políticas nacionais.
    E, claro, Obama expandiu agressivamente o sistema de vigilância em massa, inclusive em solo americano, que havia sido secretamente implementado pela Agência de Segurança Nacional após o 11 de setembro. Uma vez que Edward Snowden mostrou ao mundo o que tinha sido criado, muitos democratas tornaram-se líderes na proteção deste sistema de espionagem contra tentativas de significativas limitações, reformas ou supervisão. Quando, logo após as revelações de Snowden, uma coalizão bipartidária de membros da Câmara liderada pelos representantes John Conyers (D-Mich.) e Justin Amash (R-Mich.) procurou impor limites sérios à espionagem doméstica da NSA, a Casa Branca voltou-se para o então líder da minoria Nancy Pelosi (D-Calif.) para conduzir um esforço bem sucedido para detê-los.
    Os defensores das liberdades civis e defensores da autoridade executiva limitada tentaram tudo o que puderam imaginar para persuadir e convencer os democratas a redescobrirem suas preocupações sobre esses abusos e mais uma vez se tornarem aliados na batalha para restringir o poder do governo. Mas esses esforços foram em grande parte fúteis. As lealdades partidárias facilmente subordinavam qualquer compromisso com os princípios que haviam pretendido, nos anos Bush, apoiar.
    O problema que esses advogados encontraram foi o mesmo que enfrentaram durante a presidência de Bush ao tentarem (e fracassarem) persuadir os supostamente conservadores do governo mínimo a se oporem a essas expansões do poder presidencial: Muitas pessoas estão perfeitamente satisfeitas por haver essa autoridade investida em líderes que confiam, e os temem somente quando um político do partido oponente os empunha.
    Como tal, a tática de último recurso para induzir os democratas e os liberais a se oporem a essas políticas foi pedir-lhes que pensassem sobre como um dia esses poderes poderiam estar nas mãos de alguém que não fosse um benevolente, bondoso, Barack Obama. Os democratas foram instados a imaginar que um autoritário de direita, ou um demagogo sem lei, ou um tirano mesquinho e vingativo havia ganhado a presidência e herdado o quadro de poderes desenfreados e descontrolados que os republicanos implementaram e os democratas se expandiram.
    Esse dia chegou. Com Trump iminente, há muita conversa em torno de união através de linhas ideológicas e partidárias, para impor limites significativos sobre a autoridade executiva, e esses esforços são justificados. Mas, como os progressistas foram repetidamente advertidos , uma matriz de poder que tem sido defendida e legitimada por 15 anos por ambas as partes, será muito difícil de erradicar.

    Glenn Greenwald, co-fundador da Intercept, liderou o relatório da NSA que ganhou o Prêmio Pulitzer 2014 pelo Guardian.
    Siga @ggreenwald

  5. Impossível ler este artigo do Washington Post sem pensar no Brasil e na Lava Jato. Até parece que a dita cuja foi uma espécie de desdobramento periférico do autoritarismo tempestuoso que nasceu com Bush e floresceu com Obama:

    Glenn Greenwald: Trump terá vastos poderes. Ele pode agradecer aos democratas por eles.
    Os liberais gostaram da autoridade executiva, desde que Obama a exercesse. Agora eles estabeleceram um precedente.

    The Washington Post 11 nov 2016

    Por Glenn Greenwald

    Glenn Greenwald, co-fundador da Intercept, liderou o relatório da NSA que ganhou o Prêmio Pulitzer 2014 pelo Guardian.

    Os liberais estão compreensivelmente em pânico sobre o que Donald Trump pode realizar. “Nós temos um presidente eleito com tendências autoritárias assumindo uma Presidência que nunca foi mais poderosa”, escreveu Franklin Foer semana passada na Slate. Trump irá comandar não só um arsenal nuclear maciço e os militares mais robustos da história, mas também a capacidade de realizar inúmeras guerras em segredo e sem autorização do Congresso; um sistema onipresente de vigilância eletrônica que pode atingir a maioria das formas de comunicação e atividade humana; e inúmeros métodos para se proteger da responsabilidade judicial, da supervisão do Congresso e do Estado de Direito – exatamente o que a Constituição foi criada para impedir. Trump assume a presidência “no auge de seus poderes imperiais”, como disse Foer.
    O Senador Barack Obama certamente percebeu isso quando de sua primeira candidatura a presidente, em 2008. Limitar os abusos do poder executivo e proteger as liberdades civis foram temas centrais de sua campanha. O ex-professor de direito criticou repetidamente o modelo Bush-Cheney de investir o presidente com autoridades não controladas, em nome da luta contra o terrorismo ou da obtenção de outros objetivos políticos. “Esta administração também apresenta uma falsa escolha entre as liberdades que prezamos e a segurança que oferece”, ele disse em 2007. Listando um conjunto de políticas controversas de Bush-Cheney, desde vigilância doméstica sem mandado até investigações e prisões livres do devido processo, ele jurou: “Vamos novamente dar um exemplo para o mundo de que a lei não está sujeita aos caprichos de governantes teimosos”.
    No entanto, a partir de seu primeiro mês no cargo e prosseguindo até hoje, Obama não só continuou muitas das políticas de poder executivo mais extremas que uma vez condenou, como em muitos casos as reforçou e ampliou. Sua administração deteve suspeitos de terrorismo sem o devido processo, propôs novos enquadramentos para mantê-los presos sem julgamento, visou milhares de indivíduos (incluindo um cidadão dos EUA) para execuções por drones, invocou doutrinas secretas para proteger a tortura e programas de espionagem da revisão judicial e, secretamente, expandiu a vigilância eletrônica em massa da nação.
    Cegos pela crença de que Obama era demasiado benevolente e benigno para abusar do seu cargo e se afogando em lealdades partidárias à custa de princípios políticos, os democratas consagraram esse quadro com sua aquiescência e, muitas vezes, sua aprovação explícita. Esse é o conjunto desenfreado de poderes que Trump herdará. O presidente eleito os assusta, então eles estão agora alarmados. Mas se eles quiserem saber a quem culpar, deveriam olhar no espelho.
    A virada de aproximação de Obama ao poder executivo aconteceu tão rapidamente e diametralmente que é impossível dizer se ele alguma vez acreditou na contenção que professava na era da campanha eleitoral. Já em Maio de 2009, Jack Goldsmith, um funcionário do Departamento de Justiça na gestão George W. Bush, comemorou o abandono por parte de Obama de suas promessas para conter o autoritarismo, escrevendo que “a nova administração tem copiado a maior parte do programa de Bush, expandindo alguns deles e diminuindo apenas um pouco “. Ele acrescentou que “as práticas de Obama estarão muito mais próximas das práticas de Bush do que quase ninguém esperava em janeiro de 2009.”
    Ao colocar uma face liberal mais bonita nessas políticas e transformá-las de um símbolo do radicalismo GOP em um dos consensos bipartidários de segurança, o presidente entrincheirou-os como elementos permanentes da presidência americana. Como disse Goldsmith, as ações de Obama foram “destinadas a fortalecer para o longo prazo a maior parte do programa de Bush”.
    Os liberais denunciaram veementemente esses abusos durante a presidência de Bush. De 2001 a 2008, os democratas chamaram-lhes a personificação da tirania, uma ameaça existencial à democracia, uma expressão ameaçadora do radicalismo de direita. “A Constituição dos Estados Unidos está em grave perigo”, Al Gore advertiu em um amplamente elogiado discurso de 2006 sobre as liberdades civis. Bush se tinha tornado “a ameaça central que os fundadores tentaram anular na Constituição, um executivo todo-poderoso, também uma reminiscência do rei de quem tinham se livrado.” Em uma sondagem de 2007, 57 por cento dos democratas disseram que queriam que o campo de prisão de Guantanamo Bay fosse fechado.
    Mas depois que Obama assumiu o cargo, muitos liberais muitas vezes toleraram – e até mesmo elogiaram – suas agressivas afirmações de autoridade executiva. É difícil exagerar o quão completa foi a reviravolta dos democratas sobre estas questões, uma vez que seu próprio líder controlava as alavancas do poder. De acordo com uma pesquisa de 2012 da ABC News em Washington, 53 por cento dos democratas liberais auto-identificados e 67 por cento de moderados ou conservadores agora apoiavam manter Guantánamo aberta . Depois de apenas três anos da presidência de Obama, os liberais sancionaram um sistema que permitia ao presidente prender pessoas sem nenhum julgamento e sem qualquer vestígio do devido processo.
    De fato, uma nova ortodoxia do Partido Democrata tomou posse sob Obama: o direito de um presidente para deter pessoas, ou mesmo assassiná-las, sem acusações ou sequer um sopro de fiscalização judicial. Isso incluiu até cidadãos americanos. “Nós não acreditamos que a cidadania estadunidense de al-Aulaqi imponha limitações constitucionais que impeçam a ação letal contemplada”, pelos militares ou pela CIA, proclamou um memorando do Departamento de Justiça em 2010.
    Os Democratas (que tinham se queixado amargamente em 2005 acerca de mera espionagem sem autorização judicial) não só não conseguiram contestar este programa de assassinato, mas em última análise, manifestaram o seu apoio a ele. “77 por cento dos democratas liberais endossam totalmente o uso de drones”, de acordo com a resenha da pesquisa de 2012 da ABC. O apoio cai “apenas um pouco quando os entrevistados são especificamente questionados sobre os cidadãos americanos que vivem no exterior, como foi o caso de Anwar al-Awlaki, o americano iemenita morto em setembro em um ataque com drone no norte do Iêmen”.
    Essa mesma dinâmica – os democratas a aprovarem vastas expansões dos poderes executivos – repetiu-se várias vezes, tanto no âmbito da segurança nacional como fora dele. Obama emitiu vários decretos que pretenderam anular obrigações legais invocando privilégios de sigilo radical para evitar ações judiciais, corrompeu os tradicionais direitos da Lei Miranda para suspeitos de terrorismo, travou uma guerra na Líbia mesmo depois que o Congresso negou sua autorização e inaugurou novos meios de usar ordens executivas para contornar a aprovação do Congresso (ou seja, democrática) em uma ampla gama de arenas políticas nacionais.
    E, claro, Obama expandiu agressivamente o sistema de vigilância em massa, inclusive em solo americano, que havia sido secretamente implementado pela Agência de Segurança Nacional após o 11 de setembro. Uma vez que Edward Snowden mostrou ao mundo o que tinha sido criado, muitos democratas tornaram-se líderes na proteção deste sistema de espionagem contra tentativas de significativas limitações, reformas ou supervisão. Quando, logo após as revelações de Snowden, uma coalizão bipartidária de membros da Câmara liderada pelos representantes John Conyers (D-Mich.) e Justin Amash (R-Mich.) procurou impor limites sérios à espionagem doméstica da NSA, a Casa Branca voltou-se para o então líder da minoria Nancy Pelosi (D-Calif.) para conduzir um esforço bem sucedido para detê-los.
    Os defensores das liberdades civis e defensores da autoridade executiva limitada tentaram tudo o que puderam imaginar para persuadir e convencer os democratas a redescobrirem suas preocupações sobre esses abusos e mais uma vez se tornarem aliados na batalha para restringir o poder do governo. Mas esses esforços foram em grande parte fúteis. As lealdades partidárias facilmente subordinavam qualquer compromisso com os princípios que haviam pretendido, nos anos Bush, apoiar.
    O problema que esses advogados encontraram foi o mesmo que enfrentaram durante a presidência de Bush ao tentarem (e fracassarem) persuadir os supostamente conservadores do governo mínimo a se oporem a essas expansões do poder presidencial: Muitas pessoas estão perfeitamente satisfeitas por haver essa autoridade investida em líderes que confiam, e os temem somente quando um político do partido oponente os empunha.
    Como tal, a tática de último recurso para induzir os democratas e os liberais a se oporem a essas políticas foi pedir-lhes que pensassem sobre como um dia esses poderes poderiam estar nas mãos de alguém que não fosse um benevolente, bondoso, Barack Obama. Os democratas foram instados a imaginar que um autoritário de direita, ou um demagogo sem lei, ou um tirano mesquinho e vingativo havia ganhado a presidência e herdado o quadro de poderes desenfreados e descontrolados que os republicanos implementaram e os democratas se expandiram.
    Esse dia chegou. Com Trump iminente, há muita conversa em torno de união através de linhas ideológicas e partidárias, para impor limites significativos sobre a autoridade executiva, e esses esforços são justificados. Mas, como os progressistas foram repetidamente advertidos , uma matriz de poder que tem sido defendida e legitimada por 15 anos por ambas as partes, será muito difícil de erradicar.

    https://www.washingtonpost.com/posteverything/wp/2016/11/11/glenn-greenwald-trump-will-have-vast-powers-he-can-thank-democrats-for-them/?utm_term=.3a17b564b154

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *