Taxa de juros públicos, em si, não quer dizer nada.
Ela vale pelo que embute de juros reais, isto é, descontada a inflação passada ou a expectativa de inflação futura, que os economistas chamam de ex-post e ex-ante.
O ex-post é quanto você ganhou acima da inflação aplicando em investimentos indexados à taxa Selic ou, tendo investido em outra coisa (em um bem, no comércio, na indústria, etc), entre o quanto ganhou ou perdeu em relação a um investimento em títulos, apenas.
Já no ex-ante é o mesmo só que “daqui pra frente”. Esta é a taxa essencial para a tomada de uma decisão econômica: o quanto ela vai render comparada à simples aplicação em investimentos indexados à taxa Selic.
Dito isto, passemos a olhar o que era e o que são agora estas perspectivas.
Em janeiro de 2015, quando a taxa Selic era de 11,75% ao ano, a inflação esperada pelo “mercado” (no Boletim Focus, do Banco Central) era de 6,66%. Portanto, quem tivesse o dinheiro corrigido pela inflação, de R$ 100, um ano depois teria R$ 106,66. Já na especulação com títulos, teria R$ 111,75. Vou desconsiderar custos financeiros e IOF, nos casos que incide, para simplificar. A diferença entre os dois valores é a expectativa de taxa real, que leva o dono do capital a decidir em que irá colocá-lo. Neste caso, arredondadamente, R$ 5,09 ou 5,09% sobre os R$ 100 originais.
Um ano depois, já com a política de Joaquim Levi, a taxa Selic era de 14,25% e a inflação esperada era de 6,83%. Nas mesmas contas, um juro real de 7,4%.
Neste mês de janeiro, com a queda da Selic a 13% e a expectativa de inflação do Boletim Focus para 2017 em 4,84%, a mesma conta – repito, simplificada – dá 8,16% de projeção. Como a inflação real foi bem acima, o que caiu foi a taxa de juros ex-post, que serve para rir ou chorar, mas não para decidir para onde vai o dinheiro.
Portanto, antes de falar de queda na taxa de juros, é bom falar que ela caiu, sim, em relação a um ou dois ou ainda três meses, mas nem sequer voltou ao nível de um ano atrás, já em plena crise de investimentos.
Agora faça de conta (isso é mesmo um faz-de-conta) que você tem um capital e está pensando em abrir uma oficina ou uma loja. Para simplesmente não perder dinheiro, além de render a inflação, pagar o seu trabalho, compensar o seu risco – e risco é o que não falta numa economia sem demanda – o seu negócio terá de render mais 8% para ficar no patamar de uma aplicação em taxa de juros, caso as previsões inflacionárias sejam coerentes, o que não se pode adivinhar.
Você faria isso, tendo outra alternativa? Nem eu.
É melhor do que antes, claro, mas está muito longe, por estas razões, de representar uma “virada” econômica. Aliás, nem sempre isso acontece e é bom lembrar que a desestabilização da economia – e de Dilma – começou justamente quando as taxas de juros reais eram as mais baixas de nossa história, de 2002 para 2013. Não eram, claro, apenas 20 centavos…
7 respostas
De 2003 até 2015, apenas nestes citados anos, que a dita meta de inflação estourou, e com crescimento econômico…Temer tem “apenas”, valha-me deus, 3 anos para provar que cumprirá as metas, e tem coxinha midiota achando que “petista” está sem palavra. Quanto as taxas de juros…os 7% de Dilma diz tudo.
O PIB despencou 3,8% em 2015, camarada.
Tomo a liberdade de falar sobre uma tragédia anunciada que é o fim da UERJ e o sucateamento do Rio de Janeiro com aval da Min. presidento do (com o mesmo) do STF. Até agora não ouvimos nenhuma palavra de defesa de 3 ministros do STF (um deles já aposentado) em prol da UERJ que já foi uma das melhores universidades do RJ. Oportunistas ou mestres? São eles Joaquim Barbosa, Barroso e Fux. Mas esperar o que deles? Não defendem nossa constituição, por que defenderiam a UERJ?
Bela explicação.
Mas, na minha humilde opinião, faltou a parte que “linka” os altos juros com os altos gastos. Governo não gera riqueza e, portanto, se gastar demais, tem que se endividar demais, o que pressiona os juros eternamente para cima.
Entretanto, “parar de gastar” parece crime neste país, a não ser gastos (realmente desnecessários) de gabinetes, que representam 0,000000000000000001% de PIB´s da vida, e que, em que pese seu poder moralizante, não têm volume suficiente para alterar “o sistema”….
incrível é a cara de pau do jornalista do jornal hoje de hoje , sem entrar no mérito de se melhora ou não ,o corte na Selic ,mas o repórter diz que ” não foi um corte não ,foi uma paulada nos juros “, mas hein ? em que país ele vive ? será o da Alice ?
Para quem acredita que a taxa de juros está “caindo” recomendo simular um financiamento. Depois me diz de quanto foi a “redução” na taxa de juros.
Deixa eu ver se entendi a questão aqui, estão reclamando que juros e inflação caíram, é isso? Até que ponto….