O poço da economia não está no fundo

58bi

Você lê nos jornais que que o governo, preocupado com a repercussão da alta de impostos, estuda medidas para enfrentar, com o contingenciamento de despesas e o fim de desonerações tributárias, a previsão de um déficit “extra” de R$ 58 bilhões.

Parece só uma questão contábil, desligada da situação da economia que, também está nos jornais, “estaria dando sinais de recuperação”.

Não é.

Este número “mágico”, que elevaria para quase R$ 200 bilhões o déficit primário ( 42% a mais que o rombo já previsto no Orçamento, de R$ 139 bilhões ) vem, essencialmente, co cálculo feito pelo Ministério da Fazenda sobre frustração de receitas, não de despesas não-previstas.

São R$ 55 bilhões de receitas a menos e apenas R$ 3 bilhões de despesas a mais.

A saída do governo, a de resolver este problema, em grande parte, pelo contingenciamento (ou seja, o bloqueio provisório) destas despesas é algo com duas características.

A primeira é confiar e orar para que a receita dê sinal de vida. A segunda, a de produzir um corte brutal no já atrofiado orçamento público, já praticamente “zerado” em qualquer tipo de investimento capaz de induzir algum alento na economia.

Como, se o corte de R$ 42 bilhões representa apenas algo como 3% da despesa total do Governo, mas só se consideradas todas as despesas. Na prática, é um corte de 50% em todas as despesas de caráter não obrigatório, o que é menos de 10% do total. Mais de 90% das despesas da União são de caráter obrigatório: não podem ser cortadas e nem seu desembolso ser adequado à situação de caixa. io: Então, trata-se de cortar, em números redondos, R$ 42 bilhões de R$ 96 bilhões.

Deu para entender o tamanho da tesoura?

O aumento de imposto, com a reoneração de quase todos os setores que gozavam do benefício –  é politicamente obsceno que se a tenha mantido para as empresas de comunicação – foi, em geral, correto, por deixar de fora a construção civil, onde seus efeitos seriam terríveis para o emprego. O que foi cortado é tímido (neste 2017, R$ 4,8 bilhões)  ou, na prática, algo menos que isso, a menos que o que deixe de sair como subsídio previdenciário, entre na arrecadação normal do INSS. Vai, se não gerar demissões volumosas. Se o fizer, boa parte não entra pela outra porta, porque desempregado não gera contribuição, embora gere gasto, ao menos com o seguro-desemprego.

Outros R$ 10 bilhões são ainda “o ovo na galinha”, porque se referem a possível receita de leilões de concessão das três hidrelétricas a serem retomadas por decisão judicial (só uma o foi, até agora). E leilão não é um processo simples, na base do “vai lá e faz”. Depende da burocracia, depende do mercado e, com toda a certeza, depende de o próprio Governo financiar os candidatos a concessionários.

Como corte, com arrocho, com cara feia, continuamos “resolvendo” despesas correntes com recursos extraordinários, que não se repetem regularmente, não com a arrecadação regular de impostos, que não vai responder porque a economia segue parada.

Não? Leia esta nota da insuspeita coluna de Míriam Leitão ,de ontem:

As vendas nos supermercados ficaram estáveis no começo do ano. O acumulado em janeiro e fevereiro, na comparação com 2016, recuou 0,07%. Os dados da Abras, a associação dos supermercados, apontam que no mês passado a queda foi de 0,24%, também contra o ano anterior.

Janeiro e fevereiro de 2016 foram o inferno e a temperatura, este ano, não baixou, mesmo com o poderoso vento que foi a queda de 10% para 4% no índice de inflação, que sopra forte no consumo básico.

Um governo sem legitimidade política e fraco não tem como promover um realinhamento de impostos que possa servir de apoio para aprumar a economia.

Vamos deslizar um pouco pais para o fundo de um poço que não chegou ao fim.

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email

12 respostas

  1. Em tempo, estamos quase em abril e alguém sabe qual foi o IBC-Br de janeiro? Se saiu a notícia, não vi nenhum destaque.

    1. Guilherme, acabei de checar o site do BC e lá o último valor é de dez/16. Janeiro deve estar bemmm ruim para estarem segurando tanto…

  2. Por onde andam aquelas agências de classificação de risco do país tão idolatradas pelo ‘mérdia’ ?

  3. O pato Skaf e os empresarios, que foram as ruas, devem estar comemorando hoje a desoneração da folha. Muitos soltaram fogos de artificio na deposição de presidente. Pato qua… pato qua.

  4. Só existe uma maneira de saber onde é o fundo do poço: calcular qual cidade fica exatamente oposta a brasília no globo terrestre, passando pelo centro da Terra. É lá que estará o fundo do poço. Bem feito para muitos empresários analfabetos políticos que acreditaram na conversinha mole de que bastaria tirar Dilma que tudo melhoraria num passe de mágica.

      1. Olha só! Que interessante. Agora fiquei otimista. Quando chegar ao fundo do poço, um dilúvio poderia varrer brasília do mapa.

  5. O medo dos miriam, reinaldoazevedos, globos, globopes e afins parece ser uma “reversão das expectativas” .
    Mas porem– agora tem muito PIG e muita internet na área , o que não havia antes . Com isso a tal reversão na certa chegará a velocidades desconcertantes.

  6. O povo brasileiro já começa a virar as costas para a Previdência Social. Quem é doido de contribuir para um sistema que promete não dar retorno algum para o contribuinte. Aprovem a reforma, nos moldes que ela foi proposta, e verão o rombo se multiplicar a níveis insustentáveis. Politica covarde gera rombo e só leva ao caos. Resumindo, Volta Lula e tudo estará resolvido.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *