Coisa de velho, por Nilson Lage

Conheço o nazismo desde criancinha.

Gente próxima de minha família morreu lutando contra ele nas encostas geladas de morros na Itália.

Meus instrutores no Colégio Militar eram ex-combatentes. Falavam-me da guerra e das razões da luta em que se empenharam.

Li autores do fascismo, dei aulas sobre isso.. Estudei a relação umbilical entre a ideologia da eugenia, o darwinismo social e a deformidade moral que leva à seleção dos homens conforme sua utilidade econômica, a ponto de justificar os campos de extermínio.

Sei que o país é governado por assassinos de jovens prisioneiros e heróis de salas de tortura.

No entanto, saber é diferente de sentir.

E é terrível sentir-se desprezado como um traste na etapa final da vida, exatamente quando o amor próprio se sustenta de feitos e sonhos do passado.

Muito mais doloroso do que vocês pensam.

Não dá para ver a tela do computador: os olhos estão molhados e molham o rosto.

Coisa de velho.

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