Os números oficiais do Covid-19 são imprestáveis

A divulgação do número recorde de mortes – 600! – pelo novo coronavírus pouco se prestam, pela inexatidão, a qualquer política pública de prevenção ou de reação a uma epidemia.

Desde o início desta tragédia, aqui se aponta o erro de, num país que não tem meios e estruturas para testar os pacientes, dimensionar o alcance da doença exclusivamente por testes, deixando da lado o diagnóstico clínico.

O senhorzinho que segue firme – até que o Centrão lhe tire o cargo, porque o colete do SUS ele mesmo tirou – na gestão Teich diz que, dos 600 óbitos, apenas 25 pessoas morreram hoje. Os outros 575 são os que, post mortem, esperavam o laudo que confirmaria o novo coronavírus, bem depois de enterrados.

Como as pessoas estão morrendo às centenas, as centenas de hoje ficam para amanhã ou depois de amanhã, ou quem sabe para semana que vem.

O quadro da pandemia no país é um retrato de Dorian Gray: o que vemos já não é assim desde tempos atrás. É o retrato da tragédia quando jovem e, por isso, as ruas se enchem.

Posto aí em cima as marcações que fiz nos gráficos oficiais do Ministério da Saúde, mostrando como as mortes “caem” nos finais de semana e feriados, faz tempo, como se o vírus fizesse seu mórbido trabalho em semana inglesa, descansando aos sábados e domingos, o que evidentemente não faz.

Olhe os dados do gráfico aí de cima, retirados da página oficial do Ministério da Saúde, com “quedas” nos dados de sábado e domingo.

Isso mostra a incapacidade de nossas autoridades sanitárias de, dois meses depois de começado o ciclo de morte e contaminação pelo novo coronavírus, sequer ter conseguido organizar um sistema de informações eficiente.

Isso não demanda equipamento, remédios, pessoal, demanda protocolos de diagnóstico, pura inteligência médica.

O interventor bolsonarista na Saúde passa o tempo todo dizendo que precisa de informações.

As mais básicas são, é claro, as sobre quantos e onde as pessoas adoecem e morrem.

Dizer que só 25 dos que morreram de ontem para hoje ou que das mortes que se registraram hoje mais de 95% do monte de cadáveres entra na conta do Covid-19 é saber e fingir que não sabe.

Estamos apenas no preâmbulo de uma tragédia e, infelizmente, por falta de governo, uma tragédia inevitável.

 

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19 respostas

        1. Chamo a atenção para coluna do número de casos graves. Há semanas somos o segundo país disparado em casos graves, só perdendo dos EUA. Isto sim é muito preocupante, pois ocorre ainda sobre nossos dados subdimensionados. O que faz a doença ser mais grave no Brasil? Lembro que a melhor resposta a esta pandemia é a local, com a compreensão dos dados sócio-culturais da população para que as medidas de contenção sanitária sejam eficazes. …. E, ainda lembro, que justamente por isto, não é um acaso, este desgoverno atacar justamente os cursos e as pesquisas em ciências sociais e humanas que podem realmente contribuir nestes contextos particulares e, depois, obter um panorama geral mais adequado.

          1. A subnotificação contribui para que o numero de casos graves seja destacado. Dentre os poucos testados, prevalecem os que procuraram socorro. Mal se toma conhecimento dos assintomáticos ou casos leves pois, ainda que sejam feitos testes por amostragem, estes não são extrapolados, permanecendo nos dados oficiais apenas os efetivamente testados.

          2. Entendi. Tem lógica. Ou seja, o número dos casos graves decorre da nossa subnotificação e não, necessariamente, de questões espefícificas da proliferação da pandemia no país. Grata.

      1. BINGO… OS DILETANTES IGNAROS TERGIVERSAM SOBRE AQUELES DOENTES QUE SE RECUPERAM.
        IDIOTIA, PORQUE, NESTE CONTEXTO, O VÍRUS NÃO EXTERMINA À TODOS QUE CONTAMINA E DEIXA ALGUNS VIVEREM JUSTAMENTE PARA QUE POSSA, ELE PRÓPRIO O COVID19, SE DISSEMINAR NA POPULAÇÃO SADIA!
        A BURRICE AQUI É ATRIBUIR AOS HOMENS A “CURA” DE TODOS OS QUE ESCAPAM DA MORTE!
        E, OS ASSINTOMÁTICOS, ATINGIDOS POR CEPAS VIRAIS FENOTIPICAMENTE “BENIGNAS” SÃO APENAS MAIS UMA ARMADILHA DO PROCESSO DE COMO O SURTO PANDÊMICO SE ESPALHA!
        CHOREMOS IRMÃOS, PORQUE OS TIMONEIROS SÃO CEGOS!

    1. Perfeito! Veja que estão retificando informações de quase 30 dias atrás, possivelmente por estarem esperando resultado de exames. O problema é sério e certamente a curva de óbitos está apontando para cima. Temos cerca de 40 óbitos por grupo de 1 milhão de habitantes enquanto Itália e Espanha tem 500.

  1. Presumo que o editor deste blog assista ao Duplo Expresso, embora não deva poder admiti-lo em suas notas. As informações deste post foram dadas em primeira mão lá, na manhã de ontem.

    1. E daí? Será que a informação costuma ser tão pouco confiável que você precisa ficar verificando se foi confirmada em outros espaços?

    2. Não, João. Vc quem não deve acompanhar o Tijolaço. Aqui, desde janeiro, já se visualizava toda esta situação. Só estamos conferindo que nada foi feito para minimizá-la. Ou ainda, estamos estarrecidos, pois este desgoverno vem contribuindo, e muito, pela pior quadro possível da situação sanitária e econômica.já esperada.

      1. Esse João é um robô vagabundo e descarado.
        Faz anos que está bloqueado.
        Não jogo “pérolas aos PORCOS”.

  2. Eu diria ” uma tragédia evitável que virou um genocídio inevitável”. #diretasjá

  3. Sinceramente já não consigo mais ler os blogs que acompanhava há uma década, porque se tornaram em grande parte, “boletins da Covid”. E todos preocupados em provar que “teremos uma catástrofe porque o presidente é maluco, canalha e bandido”. Segue-se então um festival de imprecações contra o presidente bandido nos comentários, naturalmente reforçando que teremos um apocalipse na semana seguinte. Isso com todos em casa de máscara e passando álcool gel nas mãos. Não dá, aí quem fica louco somos nós.

  4. Os verdadeiros números dessa pandemia só serão conhecidos pelo IBGE qdo do levantamento das mortes neste período frente a outros exercícios.

    Hj mesmo houve um salto de casos notificados no dia que passaram dos dez mil ..e disseram ainda que só da rede privada tem 100 mil exames que ainda precisam ser tabulados.

    Não está difícil intuir que os casos de morte no país serão dos mais altos do planeta. Um, pela nossa dimensão, 2 pela nossa estrutura e 3 pela nossa pobreza. ..e a julgar por outros países, falar num número acima de 100 mil mortos não pode ser considerado exagero não, e daí ?

    1. Itália e Espanha têm cerca de 500 mortos por grupo de 1 milhão de habitantes. Transpondo para a nossa população de quase 210 milhões já teríamos algo como 105 mil fatalidades. É triste pensar nisso mas eu já creio que esse será o nosso ponto de partida. Deus queira que não.

  5. Os nossos números deveriam estar parelho aos EUA! Hoje 05/05/2020 os EUA tem 1,237,633 de infectados. 72,271 de mortes. Nos dias de semana tem mais de 20.000 casos novos por dia e mais de 2.000 mortes/dia. Semana passada aqui no Brasil teve dia que teve menos de 200 mortes no dia! É uma piada.

  6. Você caro Fernando, há meses vem anunciando essa tragédia.
    Infelizmente para o Brasil, ela acontece inexoravelmente.
    Uma LÁSTIMA !

  7. Esse padrão já havia sido detectado pelo Átila Iamarino: menos mortes nos finais de semana. Na verdade as pessoas morrem sem observar o calendário, os que fazem os registros é que observam os dias úteis e dias de descanso. O que importa aí é o formato da curva apontando pra cima sem sombra de dúvida e sem levar em conta que muito mais gente está morrendo sem estar associado à Covid, ou seja, a subnotificação é muito grande.

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