Não se trata de premonição, mas certas coisas a gente capta no ar, como quando se falou ontem, aqui, no despertar dos instintos mais primitivos.
É claro que o auxílio-emergencial, ainda que em vias de terminar, representa boa parte do índice de popularidade (37%) que, segundo o Datafolha, Jair Bolsonaro mantém, mesmo em meio a um morticínio sem igual em nossa história.
Mas não há como negar que, neste longo processo de irracionalidade em que estamos metidos há meia década, desencadeou-se a força fácil da estupidez em nosso país.
Tudo o que era paroxismo antes restrito a seitas fundamentalistas – porte universal de armas, movimentos antivacinas, racismo explícito, extermínio, “não mandar os filhos à escola é meu direito”, olavismos e até terraplanismos veio à tona, boiando sobre a fossa em que transformaram o Brasil.
A cadeia, a morte, por pena formal ou informal (como a que vitima milhares de “executados” nas ruas de periferias e de favelas, o escracho, o “vai pra Cuba”, o “cancelamento de CPF” passaram a ser a grande “saída” para o país, símbolos de progresso e de uma paz e segurança impossíveis onde a exclusão e a penúria colocam o pobre contra o miserável.
Retrocedemos, sim, e mais de 50 anos em 5. Ponha aí 150 anos, porque fomos ao tempo do império escravocrata e pior, porque ao menos à esta época o Pedro era o II e não o I, personagem mais próximo ao Imperador Jair.
Não sairemos disso, infelizmente, sem uma grande tragédia como a que temos, tal como os EUA não saíram de uma monstruosidade como a de que agora saem sem uma hecatombe que lhes matou mais nacionais que a II Guerra Mundial.
A estupidez individual é um “direito”, mas a coletiva é um processo, que não ocorre naturalmente, mas por ação de agentes políticos e econômicos.