Quem acompanha este blog leu, desde o primeiro momento, que tinha grande chance de não dar certo a condução atrapalhada do Governo brasileiro – para o qual, por razões ainda obscuras, arrastou uma instituição respeitável como a Fiocruz – com o desespero em conseguir as vacinas que não procurou antecipadamente, como deveria ter feito.
Num completo improviso, fez a Fiocruz correr a buscar a versão indiana da vacina de Oxford, como se um país com uma população sete vezes maior que a nossa (1,4 bilhão de habitantes) e acossado por mais de 10 milhões de casos da Covid 19 fosse simplesmente dar “tchauzinho” para as doses de vacina produzidas em seu território, das quais precisa desesperadamente, para mandá-las para cá da mesma forma que mandou o material que produz para a formulação da hidroxicloroquina, algo que não presta para nada, senão para o tratamento de malária e de lípus eritomatoso.
Agora, diz o UOL, o governo indiano vetou a exportação de vacinas, como era evidente que iria fazer. E nem podemos reclamar, pois acabamos de impedir a exportação de seringas, algo muito menos difícil de conseguir do que um imunizante contra o SarsCov-2.
Todo o esforço da Fiocruz deve (ou deveria) estar concentrado na entrega ao país do IFA – Ingrediente Farmacêutico Ativo- do qual ela precisa para processar a diluição e envasamento da vacina, um processo demorado e que exige muito controle técnico.
Os tais dois milhões de doses da Índia só têm (ou tinham, a confirmar-se o veto indiano) uma finalidade: proporcionar ao Ministério da Saúde a oportunidade de começar ao mesmo tempo de São Paulo uma vacinação precária, mais destinada às câmaras de televisão do que a imuniza a população, porque a uma dose por milhão de habitantes, francamente, a serventia sanitária é nenhuma.
Pode ser até que saiam, mas vão será num estalar de dedos e logo, não.
A outra “bateção de cabeça” é esta história estúpida da “vacina privada” que uma associação de clínicas particulares estaria comprando de outro fabricante indiano de vacinas.
O argumento de que isso poderia ser “complementar” ao plano público de imunização e que, afinal, o governo estaria “economizando recursos” para vacinar quem não pode pagar não se sustenta diante do fato de que medicamento não paga imposto de importação (logo, conta com subsídio tributário) com o gasto dos cidadãos que puderem pagar por sua aplicação vai ser devolvido pelos mecanismos de renúncia fiscal que permitem deduzir em 100% as despesas com saúde dos contribuintes.
Portanto, quem paga a “vacina privada” é o Estado brasileiro e, em última instância, cada cidadão brasileiro, pois todos – pobres, inclusive – pagam impostos.
É desorganização e “pixotada” demais para que a gente acredite que é casual.
Continuamos sem vacina, mas trapalhadas temos às toneladas.