Existe em curso uma guerra mundial por vacinas anti-covid 19 e que está muito longe de ser uma batalha para salvar vidas.
Abolir a pandemia nos países ricos passou a ser uma questão, aí sim, de vida ou morte para o sistema econômico.
A União Europeia – cuja agência de medicamentos deve liberar hoje a vacina da Astrazêneca – está ameaçando publicar os detalhes – até agora reservados – do contrato assinado pela empresa, no valor de um contrato 336 milhões de euros para aquisição de 300 milhões de doses da vacina contra a Covid-19, com uma opção de mais 100 milhões de doses. porque agora a farmacêutica diz que não pode entregar mais de 31 milhões das 80 milhões de doses prometidas até o final do março.
Joe Biden, com seu plano de 100 milhões de vacinados em 100 dias vai fechar as comportas da exportação de vacinas dos Estados Unidos.
Mas aqui estamos ainda dando vazão ao “conto de fadas” do “tudo vai dar certo”.
O Ministério da Saúde diz que tem prazo até o dia 30 de maio para confirmar a compra dos 54 milhões de doses da Coronavac, como se os chineses da Sinopharma, que já nem estão entregando o insumo do primeiro contrato, fossem deixar o do segundo, guardadinho, esperando para ver se o Brasil consegue comprar outra vacina.
Aqui no Rio, “passa batido” um dos maiores absurdos sanitários que já vi na vida, com esta autorização para qualquer um que seja de uma “área da saúde expandida” – que inclui até professores de educação física – e tenha mais de 60 anos de furar (oficialmente) a fila, mesmo que não esteja mais lidando com situações de risco, bastando declarar que está “ativo”.
Nunca tivemos um processo de vacinação “nacional” onde cada prefeitura cria os critérios de quem recebe a vacina ou não. Isso sim é uma porta aberta para que se percam as prioridades na vacinação, não o caso de um auxiliar que pega uma ou duas doses para levar escondido para vacinar uma mãe idosa e doente, que nem sabe quando será vacinada.
Se fosse só a desorganização que nos levou a, em quase duas semanas de vacinação não termos ido além de 1% da população ter sido imunizada, isso poderia ser atribuído ao que é, em parte verdade: as estruturas nacionais de coordenação e controle sanitário estão em estado deplorável com a intervenção militar. Mas é também uma estratégia para fingirmos que não há o que de fato há: falta de vacinas e, com isso, o risco real de interrupção da vacinação.
Aí partimos para coisas ridículas como a que se faz no Rio, de marcar “um dia exclusivo” para vacinar quem tem 99 anos, depois outro para quem tem 98 anos, 97 anos e assim por diante.
Ora, o Rio de Janeiro, segundo o censo de 2010 do IBGE ( o úlrtimo disponível), tinha 619 pessoas com mais de 100 anos e 3,349 entre 95 e 99 anos. Ou seja, nem quatro mil pessoas para serem vacinadas em 4 dias, ou menos de mil por dia, sendo que no dia dos 99 ou dos 98, provavelmente, esta média cairia à dois terços ou à metade.
E como é gente idosa, com dificuldades de deslocamento, ou se vai vacinar em casa ou abrem-se centenas de postos para que o deslocamento não seja grande e nem as filas os sacrifiquem. E aí, como fazer com o frasco de dez doses, se só aparecerem, em muitos postos, seis, cinco ou apenas “quatro de 99 anos”?
Isso é uma bagunça, e uma bagunça criminosa.
Mas, se o Brassil não tem governo, se a saúde não tem comando e a mídia está mais preocupada com a meia dúzia de fura-filas e aceita placidadamente que se uma juíza mande parar, por três dias, a vacinação em Manaus, onde morrem 150 pessoas por dia, fazer o quê?