Quem quer se enganar com acordo com Lira na Câmara?

Lira cede, escreve a Folha; Lira e oposição selam acordo, anuncia O Globo; Lira recua, chama o Estadão.

Nem cede, nem sela acordo, nem recua.

Engane-se quem quiser se enganar com a fantasia de que Artur Lira e o Centrão farão concessões ou recuos e não um rolo compressor parlamentar para aprovar os absurdos de Jair Bolsonaro, sobretudo na chamada “pauta de costumes”, embora um ou outro ponto nas questões econômicas possa empacar por óbices levantados pelo empresariado.

Ao “é dando que se recebe” deve-se acrescentar que é dando tudo que se recebe muito.

Esta última é a ponta da equação que interessa: o quanto Jair Bolsonaro vai entregar aos apetites da Câmara, porque é isso o que definirá o quanto a nova “Era Cunha” do parlamento será capaz de acompanhar as aventuras obscurantistas e autoritárias do ex-capitão.

A concordância de Lira em entregar os cargos da Mesa Diretora que ontem havia retirado dos partidos de oposição é apenas um rapapé formal, que serve de engodo, por conta dos deputados destas agremiações que querem pequenos poderes e a eventual projeção que lhes dê a condição de “mesa de oposição”, o que não serão em hipótese alguma.

E não há sinal mais evidente disso que a entrega para a deputada Bia Kicis, uma das mais fanáticas bolsonaristas da Casa, do comando da Comissão de Constituição e Justiça.

Só haverá, nos primeiros tempos desta nova legislatura, uma tarefa para a oposição: obstruir, obstruir e obstruir.

O que pode tirar a força do rolo compressor que Jair Bolsonaro tem agora na Câmara não são acordos, mas o desgaste público do governo, porque tanto quanto os deputados se alimentam de favores governamentais também ingerem o sentimento popular, nem que seja a contragosto, goela abaixo.

E para que isso aconteça, a política não pode ser uma “geléia geral”.

 

 

 

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