A jornalista Malu Gaspar publica hoje, em O Globo, um texto do general Ridauto Fernandes, com ameaças, nem tão veladas assim, onde diz que “morre e mata” pela Pátria e que, se achar que ela precisa, aceita “humilhações e cusparadas” mas que adoraria “neutralizar” os que julga serem ser seu inimigos.
Ridauto é o novo diretoria de logística do Ministério da Saúde, no lugar de Roberto Ferreira Dias, demitido por suspeitas de cobrança de propinas na compra de vacinas contra a Covid.
Posto o texto ao final, mas desde já é preciso dizer que patriotismo não é briga de porta de colégio de adolescentes mal resolvidos. Sobretudo, quando um dos adolescentes é um general do Exército.
Não é preciso comentá-lo mais detidamente: é grosseiro, anacrônico, usando a condição de militar para fazer-se “valentão” e manipulando um texto de Fernando Gabeira que, ao contrário do que ele sugere, não ataca as Forças Armadas, apenas critica militares que, exercendo funções civis, deixam de seguir boas práticas de atuação.
O mais grave, porém, é que se trata de um militar que se comporta como um subversivo, pregando a ruptura da ordem democrática, o desrespeito às decisões legítimas de governantes eleitos e sugerindo o atropelo do Supremo Tribunal Federal.
Seu texto, no Facebook, intitulado “Vamos intervir, Presidente?” é grotesco, significando a imposição de uma ditadura bolsonarista para anular medidas sanitárias, e sugerindo “colocar em fila os [governadores e prefeitos] que se opuserem e começar a processar”.
A ilustração mostra, aliás, bem claramente a ideia de derrubar governantes eleitos.
Imagine a indignação do general se, em lugar deles, estivessem ali as cabeças de Augusto Heleno, Braga Netto, Pazuello, Élcio Franco….
O exercício da função pública, militar ou civil, como ele tem agora, exige decoro e este definitivamente falta ao general ee isso é o bastante para que se o afaste, para que rumine seus ódios no recolhimento privado.
Ridauto sustenta que o “Exército não mudou” em 50 anos. Uma pena, general, porque o Exército de 50 anos atrás foi metido por alguns de seus integrantes em situações grotescas e desumanas: prisões, torturas, desparecimentos e mortes.
Quem não muda em 50 anos, general, ou é uma farsa ou uma múmia, não uma instituição com deveres públicos.
Veja o texto do general que, de tão valente, assina-se general para dar sugestões que até a um civil são inadmissíveis na democracia.
Militares de carreira são escravos de seus valores. Isso é o que a sociedade não entende. E, como seres humanos, são diferentes uns dos outros. Inclusive quanto à escala de valores, que varia de um para o outro. De um modo geral, varia pouco. O que quero dizer com isso, em relação ao tema abordado pelo ex-MR-8 Gabeira, é que, por alguns valores, um militar passa (facilmente) por cima de muita coisa. Desculpem os que se sentirem ofendidos, mas por minha Pátria em morro. E também mato e faço coisas que não vou listar aqui, para não provocar chiliques. Se eu achar que minha Pátria estiver precisando, aceito de cabeça erguida humilhações e cusparadas. E, se achar que minha Pátria estiver precisando, providenciarei para que aquele que a esteja agredindo seja neutralizado. Adoro essa palavra, neutralizado. Que ideia essa, Gabeira. Pensar que a imagem do Exército e das Forças Armadas será arranhada, triscada sequer, porque o Presidente da República mandou um de seus ministros, que também é militar, fazer algo com que não concorda e o ministro, DISCIPLINADO, aceitou. Que ideia, Gabeira. Essa convivência próxima que vc mesmo diz que teve com certas lideranças militares não lhe ensinou nada? Mas não sou ingênuo de achar que vc apenas se enganou. Ah, não. Cada palavra sua é medida e pensada. E visa colocar integrantes das Forças Armadas, os menos experientes e menos preparados, contra seus Chefes. Tem coisa bem mais perigosa que humilhar generais, posso te assegurar. Quando vc diz que derrotará Bolsonaro e quantos militares estiverem a seu lado, estou imaginando que será pelo voto e pela via legal. É isso? Porque, se a ideia for outra forma QUALQUER, confesso que teria um grande prazer em estar ao lado do Presidente. Nem sempre cumprir o dever é algo sacrificante. Acha que o Exército mudou em 50 anos? Adoraria mostrar que não mudou. Gen Ridauto.