Perdoe-me o leitor e a leitora se há nojo misturado à tristeza no que escrevo.
Mas ver o simulacro do PTB, que pertence hoje ao facínora Roberto Jefferson oferecer a Jair Bolsonaro e a “seus descendentes” – como diz o papelucho que divulgaram à tarde – para que Jair Bolsonaro use a sigla para tentar continuar como presidente do Brasil é e embrulhar o estômago de qualquer pessoa decente.
Ainda mais de quem teve a oportunidade de ver na infância, num conjunto do IAPI o que significavam estas três letras para aqueles homens rudes, simples, mas profundamente honrados, e a que elas serviam como ferramenta para erguerem vidas dignas. E que, depois, passaram a se incorporar ao homem público rebelde e corajoso com quem tive a ventura de colaborar, por mais de 20 anos, Leonel Brizola.
O tempo fez a delicadeza de não deixar que meu avô ou Brizola vivessem para assistir ao vilipêndio final e supremo do sentido daquelas letras: P, T, B.
A canalha que se apossou deste espólio e o putrefez tem a vilania de dizer que ele é “é a verdadeira Casa do Conservador Brasileiro”, ele, o partido que consagrou o voto feminino, os direitos do trabalho, a modernização do Brasil, que representou cá nos trópicos a ideia de Estado de Bem Estar Social que reanimou a Europa no pós-guerra.
Não, não lhes produz mais qualquer vantagem ter o controle das letras em que Getúlio Vargas encarnou-se e que os remanescentes da ditadura militar, por medo do seu significado, entregaram a um grupo fisiológico e de direita, ao negar a sigla a Brizola.
Só produziu e produz dano à História, à qual sempre teremos de acrescentar uma nota de é de página quando falarmos do PTB, para esclarecer que ele não tem nada a ver com aquilo que leva seu nome.
Nem mesmo será mais que uma violação formal da auto-imolação de Getúlio Vargas, que deixou as três letras como símbolo de seu sacrifício.
O sentido do PTB transcendeu às letras, faz tempo, mesmo antes de que, num gesto de dignidade, Brizola as escrevesse num papel para rasgá-las, quando as viu serem mercadejadas pelos juízes da ditadura.
O que hoje é oferecido a Bolsonaro é uma putrefação, vazia de vida e de significado.
Seu conteúdo migrou, fluiu pelas raízes do povo nas quais estava contido, e rebrota lá adiante, naquilo que o próprio Brizola chamava se “fio da história”.
O outro corpo de Vargas está aí, visível e pronto para ser tomado pelo povo como sua bandeira de luta.
As letras podem ser fraudadas, a História, não.