É preciso dar a impressão que Sergio Moro, que não tem nem experiência própria nem articulação com pessoas que compreendam economia e gestão pública – e nem ideias a respeito disso – tem um programa de salvação econômica para o Brasil.
Depois que ele revelou um único guru econômico, o ex-presidente do Banco Central do Governo João Fiqueiredo, Affonso Celso Pastore, o pressuroso Merval Pereira corre, em sua coluna, a desfiar as ideias do redivivo economista em sua coluna.
E o que dizem? É também uma ressureição do mais puro neoliberalismo, com a cara pintada de preocupações sociais.
“O combate à miséria, à fome, à desigualdade tem de ser o objetivo central de um projeto econômico para o país” resume Merval o pensamento pastorista, mas é incapaz de dar exemplos disso. Ao contrário, sugere que empresas lucrativas como a Petrobras, “não precisa de refinaria de petróleo, não precisa de distribuição, mas precisa, assegura Pastore, de capital privado para poder ajudá-la na exploração”.
Quer dizer: entregamos a refinação de petróleo para os gringos (ou compramos os derivados, como agora, no exterior, sem qualquer gestão dos preços), perde-se o controle (como se perdeu, com a venda da rica BR Distribuidora), lançando fora a geração de emprego e atividade que geram e vamos entregar, por uns dólares, o tesouro do pré-sal, para retirar o óleo e mandar embora, a preço vil e incerto.
Num país que se desindustrializa rapidamente, onde a indústria passou de 30% para 10% do PIB nacional, sugere abrir (mais!) a economia brasileira ao comércio internacional. “Sem expor a indústria brasileira à competição, continuaremos estagnados. Criamos um sistema em que o empresário luta por mais proteção, por mais tarifa, e o sistema político agasalha esse protecionismo.”; Juro que me sinto ouvindo um dos “cabeça de planilha do início dos anos 90 com aquela história de “imunidade de rebanho econômica”, onde os fortes sobreviveriam e os mais fracos morreriam. O que, como diz Jair Bolsonaro, “faz parte da vida”.
Mas isso não é tudo. Eles estão ainda no tempo da lanterna de Diógenes, como Carlos Lacerda, seu antepassado fóssil.
Descobrimos, através do mervalíssimo jornalista que é a “conja” de Pastore quem turbina as ideias do projeto. Maria Cristina Pinotti, que tem como obra mais significativa um livro laudatório à Lava Jato, quem ensina o que fazer: ““Municiar a terceira via, seja ela qual for, com propostas que possam livrar o país da armadilha da recessão, da estagnação, com um nível altíssimo de corrupção, a desfuncionalidade em todas as instituições. A parte social é crucial, a questão da pobreza, da fome. O Moro tem uma visão bastante boa de quanto regredimos institucionalmente nos últimos anos”.
Bem, não é preciso dizer que, em matéria de regressão institucional, nada supera o período em que Moro foi o grande paradigma do país e também o governo que ele ajudou a eleger e foi integrar, em seu núcleo.
O condomínio “pastoril” que Moro formou para serem seus Guedes é apavorante. Salvo alguns ex-alunos, hoje economistas de direita impiedosos, não vai achar quem vá se colocar sob as ordens do “casal 1920″ da economia, para sugerir – é um primor – um neoliberalismo ” “com solidariedade e compaixão”, como propõe.
O famoso lobo bom. Conhece algum, leitor?