A democracia não é um programa de auditório

Já vão longe meus tempos de garoto, vendo na televisão Abelardo Barbosa, o Chacrinha, definindo o “programa de calouros” com uma buzina, para desclassificar e um “vai para o trono ou não vai” funcionando como tradução de uma eleição, onde o “povo” era o auditório.

Nem ando comentando as pesquisas que vão sendo publicadas por aí porque têm uma estranha semelhança – e muito menos pureza, embora muito fosse “arranjado” do programa do Velho Guerreiro – com uma outra “democracia”: a Lei de Lynch , aquela que decidia poupar ou matar acusados pelo voto da praça, a rigor o mesmo dos polegares para cima ou para baixo do Colisu Romano.

Então também não empresto muita importância ao número do Datafolha que indica haver 56% apoiando punição às pessoas que estão pedindo um golpe militar na frente dos quartéis, enquanto 40% acham que elas não devem ser punidas.

Embora seja acachapante o número dos que são contras estes atos (75%), ninguém está falando ou pensando em punir alguém por discordar da eleição de Lula.

O que está em questão é a organização, o financiamento e as conspirações que envolvem agentes públicos, civis ou militares, com a apologia do desrespeito às eleições e o impedimento das escolhas da população. E, é claro, atos de agressão e de vandalismo como os ocorridos na semana passada em Brasília.

É a isto que as instituições públicas devem dar a resposta com a lei e é isso o que não estão fazendo.

Depois de assistir ao vídeo compilado pelo UOL (ótimo trabalho dos repórteres Eduardo Militão, Amanda Rossi, Luís Adorno e Saulo Guimarães), não é possível acreditar que a Polícia Federal, o Ministério Público e a polícia do Distrito Federal não tenham identificado e indiciado quem quer que fosse por aquele espetáculo de selvageria.

Ou que as autoridades militares não tenham dispersado os núcleos que, diante dos seus quartéis, servem de paióis para estas surtidas violentas. Se esta turma acha que bastam “um cabo e um soldado” para fechar o Supremo Tribunal Federal, não é possível que não creiam que para dispensar os alucinados de suas calçadas não bastem um coronel e uma mangueira de água fria.

Não é uma questão de saber-se se mais ou menos X por cento apoiam ou não os pedidos por uma ditadura ou que haja, infelizmente, uma parcela siderada de direita a pregar golpe. São os limites da legalidade que não podem ser rompidos.

É hora de soar a buzina para o golpismo.

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